O menos é o máximo

Por Cláudia Chaves, especial para o Correio da Manhã

Um cenário de escola, um professor paciente. Alunos querendo aprender. Um mergulho no mundo do “era uma vez”, com nobres, batalhas, intrigas, princesas e traições. Tragédia forte com final de vitória aos bons. Esse é o universo de Shakespeare. Esse mundo fascinante, que Gustavo Gasparani, numa atuação exemplar, traz em “Ricardo III”, interpretando os principais papéis, brincando com sotaques, gestos e fazendo, ao mesmo tempo, uma leitura magistral do maior vilão do autor inglês.

Monstruoso, mas teatralmente elétrico, Ricardo é o mais carismático, autodeclarado vilão de Shakespeare, revelando a cada momento seu caráter homicida, sua jornada hipócrita ao poder absoluto. Mente, intriga, mata, recupera. Essa diversidade nos é apresentada por Gustavo Gasparani em roupas atuais e simples, num ambiente escolar, em que consegue criar um sentimento de cumplicidade aberta entre ator e espectadores, como se imaginava que já existia há cinco séculos.

Gustavo Gasparani, com a coragem que só os grandes artistas possuem, encena sozinho 24 personagens diferentes do drama histórico, com direção de Sérgio Módena. E aí o menos vira um gigantesco espetáculo. Sem estar caracterizado — apenas corpo, voz e em um momento utiliza um véu —, Gustavo mostra que o ofício de ator está na capacidade camaleônica de mudar de voz, gênero e idade. Ao lado da força da interpretação, a utilização das luzes, o impecável trabalho de direção de Sergio Módena transformam o que seria aparentemente pouco ou menos em um dos melhores espetáculos encenados nos últimos anos.

O teatro é uma grande ilusão. Essa realidade ou irrealidade é que nos faz acreditar em Gustavo e na sua visão do vilão. Sem cenário, sem figurino, seu Ricardo III é o mal sem limites, desenvolvido de tal forma que embarcamos em sua proposta de ver castelos, batalhas, homens, mulheres, jovens e velhos. E acreditamos na força que ele nos traz. E saímos achando que Odete Roitman e Nazaré são totalmente boa gente.

Serviço

TEATRO POEIRINHA

Temporada: de quinta a domingo até 16 de fevereiro;

Horário: Quinta a sábado: 21h e domingo: 19h;

Preço: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia).