O perfil do desalento no país: negras e jovens

Por Eduardo Cucolo e Laísa Dalla’Agnol - Folhapress

Mulher jovem, preta ou parda e com baixa escolaridade. Esse é o perfil dos desalentados no Brasil, parcela da população que mais do que triplicou em cinco anos e chegou a quase cinco milhões de pessoas, quase 5% da população economicamente ativa.

Os dados fazem parte do estudo “Quem são os desalentados do Brasil?”, dos pesquisadores Paulo Peruchetti e Laísa Rachter, do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV, com base nos números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). São considerados desalentados os trabalhadores que desistiram de procurar emprego porque não têm esperanças de que irão encontrá-lo, apesar de estarem disponíveis e com vontade de trabalhar.

Além de analisar os grupos mais atingidos pelo fenômeno, os pesquisadores estimaram qual a probabilidade de esses fatores socioeconômicos levarem o indivíduo à condição de desalentado, independentemente do nível de renda e dos choques nos mercados de trabalho macroeconômicos e regionais.

O modelo indica que mulheres têm probabilidade 2,1 pontos percentuais maior de se declararem desalentadas que os homens. Indivíduos que completaram pelo menos o ensino médio, por outro lado, têm probabilidade 3 pontos percentuais menor de serem desalentados que indivíduos sem ensino médio completo.

“Esse é um efeito considerável levando em conta que a probabilidade de desalento é de cerca de 4,2% no período mais recente”, dizem os pesquisadores.

A principal razão declarada pelos que desistiram de procurar emprego foi não haver trabalho na localidade onde moram: 63% afirmaram que desistiram de procurar emprego por essa razão. Outros 20% não encontraram trabalho adequado, 10% apontaram a idade como motivo e 8% citaram a falta de qualificação ou experiência.

Marina Fernandes, 25, que começou a trabalhar aos 15 anos, hoje não estuda, não trabalha e não está procurando emprego. Desistiu porque não conseguiu encontrar um salário adequado a sua necessidade. Ela mora com o pai, hoje aposentado, e a avó, de 96, que tem Alzheimer. A única renda da casa, atualmente, é a aposentadoria do pai, de R$ 2.500. 

A piora do desalento e de outros indicadores no mercado de trabalho é fruto da recessão de 11 trimestres verificada do 2º trimestre de 2014 ao 4º trimestre de 2016 e do fraco crescimento econômico registrado desde então. A previsão é de que o PIB cresça este ano ao redor de 0,80%, menos que os 1,1% registrados em 2017 e 2018.