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Medidas urgentes para salvar o Centro do Rio

Por Redação*

É grande a expectativa em torno do projeto Reviver Centro, apresentado pela Prefeitura do Rio e que vai à primeira votação na Câmara Municipal na próxima semana. Para o poder público, ele representa a chance de revitalizar o Centro, uma das áreas mais afetadas pela pandemia na Cidade Maravilhosa. Para empresários da construção civil e do setor imobiliário, traz oportunidades de investimento na região, que já tem toda a infraestrutura urbana necessária instalada.

Para quem busca imóvel, o projeto acena com a possibilidade de morar, estudar, trabalhar e se divertir num mesmo local, “a um elevador de distância de qualquer coisa”, como o presidente da Associação dos Dirigentes Imobiliários (Ademi) e vice-presidente do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon) no Rio, Cláudio Hermolin, gosta de dizer.
Nesta entrevista exclusiva, Hermolin compara o Centro a um paciente na UTI: é possível salvá-lo, mas isso requer medidas urgentes.

Correio da Manhã: No que consiste o projeto Reviver Centro?

Cláudio Hermolim: O projeto Reviver Centro pretende recuperar e revitalizar uma área de infraestrutura urbana única na cidade do Rio. O Centro tem, hoje, ruas asfaltadas, água, esgoto, energia, telecomunicações e uma infraestrutura de transporte público de massa ímpar no município, sendo servido por ônibus urbanos, intermunicipais e interestaduais, trens, metrô, barcas, BRT e VLT. Sem esquecer nas saídas para a Linha Vermelha, a Linha Amarela, a Avenida Brasil e a Ponte Rio-Niterói e na proximidade da rodoviária e do porto. Tudo isso é elemento para transformar a região num local que combina estudo, trabalho, lazer e moradia, e o Reviver Centro visa justamente a conversão de imóveis comerciais abandonados em imóveis residenciais.

CM: Qual é a diferença desse projeto em relação a outras tentativas de revitalização do Centro no passado?

CH: Vale destacar que o projeto foi discutido com os empresários do setor imobiliário, que tiveram a oportunidade de apresentar sugestões à Prefeitura e colaborar com a experiência que têm em outras cidades. O grande diferencial do Reviver Centro é a ideia de se estimular a habitação na região. Todos os incentivos tributários, fiscais e edilícios do projeto visam empreendimentos residenciais, seja pela transformação de uso dos imóveis comerciais em residenciais, seja por novas construções. Esse conceito de morar a um elevador de distância de qualquer coisa funciona bem no mundo, é só você pensar no Centro de cidades como Paris, Buenos Aires ou Montevidéu. É um conceito que deve ganhar mais força ainda passada a pandemia, quando as pessoas “trocaram” os longos deslocamentos pela cidade pelo home office.

CM: Quantos imóveis abandonados existem, hoje, no Centro?

CH: A situação de abandono do Centro é anterior à pandemia, a crise econômica que o estado e o município vêm sofrendo já tinha tornado o Centro da cidade um local com vacância alta e prédios antigos abandonados. Antes do novo coronavírus, um levantamento da Ademi e do Sinduscon identificou 4 mil imóveis, entre prédios, casas e sobrados, vazios e abandonados no Centro. A pandemia piorou o processo de degradação que já vinha acontecendo. O Centro é como um paciente na UTI, que pode ser salvo, mas exige cuidado intensivo. Por isso, a revitalização do Centro deve ser tratada como prioritária e urgente. Caso contrário, a situação atual pode se agravar e até se tornar impossível de resolver.

CM: O que é fundamental, na visão do setor privado, para fazer o projeto vingar?

CH: Para o setor privado, o trunfo do projeto é a chamada operação interligada, é ela o diferencial em relação a tentativas passadas de se revitalizar o Centro. Com a operação interligada, ao assumir o risco de investir na região, o empreendedor tem como contrapartida o direito de potencial construtivo em outras áreas mais valorizadas e já consolidadas na cidade. Mas esse incentivo para o empresário precisa ser agressivo. Não tenho dúvidas de que, sem a operação interligada ou com incentivos tímidos e pouco atrativos, o projeto não vai decolar. Basta observar que, nas últimas duas décadas, o Centro teve apenas seis lançamentos imobiliários. O ciclo virtuoso da região vai começar quando, com uma operação interligada agressiva, surgirem as primeiras placas de novos empreendimentos no Centro.

CM: A insegurança presente na área não pode atrapalhar os planos de recuperação do Centro?

CH: A partir do momento em que você atrai pessoas para viver no Centro você cria uma nova dinâmica para a região, que ganha movimento, vida, 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso é bem diferente do atual modelo de Centro da cidade que só funciona de segunda a sexta no horário comercial. E é a melhor política de segurança que pode ser adotada pelo poder público. Diante da atual situação de abandono não adianta aumentar substancialmente o efetivo policial na região, ele não traz o mesmo efeito que a retomada do fluxo de pessoas pode trazer.

CM: Qual é o perfil do comprador de um imóvel residencial no Centro?

CH: O mercado imobiliário entende que o perfil do comprador de um imóvel residencial no Centro da cidade é predominantemente de pessoas que moram longe do trabalho e sofrem com a dificuldade de transporte público de massa. Todo aquele que gasta horas no deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa é alvo dos empreendimentos que vão nascer com o Reviver Centro. Estamos falando de uma classe média mais próxima do piso. Mas também há espaço, no Centro, para o jovem que vem de outra cidade estudar ou trabalhar no Rio, para o solteiro que está comprando seu primeiro imóvel, para artistas plásticos, fotógrafos e outros profissionais liberais seduzidos por estúdios na região.

CM: Além dos incentivos para os empreendedores, os compradores também terão vantagens para apostar no Centro?

CH: Sim, o projeto amarra todas as pontas. O secretário municipal de Planejamento Urbano, Washington Fajardo, que morou um mês no Centro do Rio para entender as necessidades da região, esteve conosco em um evento recente apoiado pela Ademi e citou descontos progressivos de IPTU e isenção de ITBI para os imóveis construídos a partir do projeto Reviver Centro.

CM: Quando o projeto deve, efetivamente, começar?

CH: O prefeito Eduardo Paes também esteve conosco no GRI Rio de Janeiro e-Summit, apoiado pela Ademi, e disse que a expectativa é de que o projeto seja aprovado em 40 ou 45 dias. O Reviver Centro vai para a primeira votação na Câmara Municipal na próxima semana e nós confiamos no entendimento dos parlamentares de que não se pode estender muito as discussões, dado o caráter de urgência do nosso paciente na UTI.

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