Suicídio de jovens: futuro em risco

Por Jorge Jaber*

O último relatório da Organização Mundial da Saúde sobre suicídio traça um panorama assustador. São cerca de 800 mil mortes por ano – uma a cada 40 segundos –, além de pelo menos o triplo de tentativas, que, mesmo mal sucedidas, exigem atendimento hospitalar. Ele é mais letal do que a Aids, malária, câncer de mama e até os homicídios. A questão é global, atingindo, ainda que de forma distinta, todos os países, idades, sexos e classes sociais.

Ao contrário da tendência mundial, os números vêm crescendo nas Américas, e o Brasil não foge à regra, com um detalhe que merece atenção: entre nossos cerca de 12 mil casos anuais, boa parte ocorre entre pessoas de 15 a 24 anos. Entre elas, o índice subiu 54% entre 2009 e 2019, se tornando a segunda causa de mortes, atrás apenas dos acidentes de trânsito. Perdas, portanto, evitáveis – a própria OMS afirma que 90% dos episódios poderiam ser prevenidos –, o que as torna ainda mais desoladoras.

Num país predominante jovem como o nosso, essa tragédia tem outro aspecto preocupante. Não se trata apenas de vidas que se vão, deixando, além da tristeza profunda, angústia e sentimento de culpa nos que ficam. São estudantes ou profissionais em formação, futuros médicos, advogados, músicos, escritores, enfim, potenciais protagonistas do desenvolvimento da nação. Ou seja, além de provocar a dor de parentes e amigos e de sobrecarregar o já exaurido sistema de saúde, estas mortes têm impacto até econômico. É uma questão incontornável.

Uma das respostas pode estar nas próprias estatísticas, que atribuem cerca de 97% dos casos ao uso de drogas e distúrbios mentais como depressão e transtorno bipolar. Esses problemas têm prevenção e tratamento, inclusive gratuitos, em instituições como o Centro de Valorização da Vida, que atende pelo telefone 188, e no próprio Sistema Único de Saúde. Isso precisa ser divulgado de maneira clara e concisa por toda a população. Que neste Setembro Amarelo, a sociedade brasileira abrace e espalhe essa mensagem.

*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de Psiquiatria da PUC-Rio