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Eduardo Paes e seu orçamento maravilha

Por Rodrigo Bethlem*

O jornal Valor Econômico publicou uma matéria essa semana em que o prefeito Eduardo Paes diz que vai fechar 2021 com R$ 6 bilhões em caixa. A matéria deixa claro que não contabiliza os recursos oriundos da concessão da Cedae, aproximadamente R$ 5,5 bilhões.

Sou curioso e fui apurar alguns números no Portal da Transparência da própria Prefeitura. Aí me deparei com uma realidade bem diferente do mundo encantado publicado na matéria do respeitado Valor.

Vamos lá… A Prefeitura do Rio arrecadou, até o dia 9 de setembro, aproximadamente, R$ 21 bilhões. Atualmente, a cidade tem empenhado (compromisso de pagar) cerca de R$ 23 bilhões.

Numa rápida explicação … Este ano só a folha de pagamento da máquina pública é da ordem de R$ 18,9 bilhões. Do total, ainda falta empenhar R$ 6,2 bilhões.

Vamos fazer uma conta simples … Se somarmos os R$ 6,2 bilhões que falta empenhar para pagar pessoal aos R$ 23 bilhões que já foram separados… teremos R$ 29,2 bilhões esse ano. E olha que isso é prevendo que não teremos absolutamente mais nada relacionado a custeio ou investimento.

A Prefeitura vem arrecadando por mês uma média aproximada de R$ R$ 2,2 bilhões (sem contar a cota única de IPTU). Logo, se não tivermos nenhum fato novo que mexa drasticamente nesse número, a arrecadação prevista até o fim do ano é de mais R$ 6,8 bilhões, aproximadamente. Somados aos 21,5 bilhões que já entraram nos cofres públicos… a receita total deste ano chegará a R$ 28,3 bilhões.

Recapitulando… Os números até agora indicam despesas de R$ 29,2 bilhões e receita de R$ 28,3 bilhões. Ou seja, ao invés de dinheiro em caixa, o município terá um rombo de R$ 900 milhões.

Mas vamos considerar a otimista previsão inicial da equipe econômica de Paes, que espera arrecadar R$ 31,2 bilhões. Ainda assim a sobra de caixa, na melhor das hipóteses, seria de R$ 2 bilhões, bem diferente do que disse o prefeito ao Valor Econômico.

Como eu não tenho acesso a mais dados, apenas ao Portal da Transparência, talvez possa estar com alguma atualização pendente. Mas é importante que se explique esse conceito de caixa. Será que ele não vai pagar os compromissos já assumidos? De qualquer forma, me assusta um pouco a discrepância dos números. Reitero: pode ser que eu esteja errado por alguma margem, mas estou utilizando dados oficiais para chegar a esses valores. Ter em caixa 4 bilhões não quer dizer que há espaço para novos compromissos. Dos R$ 23 bilhões empenhados, somente R$ 16,7 bilhões foram pagos, mais R$ 1,6 bilhão de restos a pagar. Ou seja, o caixa está basicamente comprometido com os valores já empenhados, não liquidados e não pagos ainda.

Fazer ufanismo com as finanças pode dar algum benefício político imediato, mas a longo prazo frustra a população, que já não aguenta mais o discurso de que mora em uma “Cidade Maravilha” enquanto sofre com a total falta de infraestrutura e serviços de péssima qualidade.

*Ex-deputado e consultor político

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