Por Gustavo Barreto
Na economia da revolução digital é comum ver empresas buscando novos talentos com alto grau de especialização. No entanto, o aumento dos níveis de qualidade de vida faz com que profissionais com maior experiência e que costumam estar no auge de suas carreiras consigam permanecer no mercado por mais tempo. Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o índice de pessoas maduras no mercado de trabalho deve chegar a 9,52% em 2019 contra os 7,32% de 2010. Mas esse percentual tem tudo para passar de 25% em 2060.
As corporações com maior visão estratégica já perceberam as vantagens de criar ambientes multigeracionais em que exista troca e interação permanentes entre esses dois perfis de colaboradores. Mas o que já se consolida em mercados como Europa e Estados Unidos ainda engatinha no Brasil.
A eminência da aprovação da reforma da Previdência alavancou os pedidos de aposentadoria este ano. Entre janeiro e março de 2019, o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) recebeu 510.613 pedidos de aposentadorias. Um aumento notável quando comparado aos 237.086 no mesmo período de 2018. Mas nem sempre aposentadoria é sinônimo de pijama. Cada vez mais aposentados voltam ao mercado de trabalho, seja por necessidade financeira ou mesmo por dificuldade de se adaptar ao sossego diário.
Um estudo feito pela LCA Consultores, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que os aposentados aparecem como os principais mantenedores das rendas domésticas nas famílias brasileiras. A informação, publicada pela Fundação Família Previdência, aponta que em 2018 ocorreu um aumento de mais de 12% na parcela de casas que cujo 75% da renda familiar dependem dos aposentados.
De maneira mais direta o aumento partiu de 5,1 milhões para 5,7 milhões. Seguindo essa mesma linha, em 2018 uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) em conjunto com a Confederação Nacional dos Dirigentes Logísticas (CNLD) mostra que um terço dos aposentados acima de 60 anos, que oficialmente já estão parados, continuam a trabalhar.
Um outro percentual, este publicado novamente na PNAD, afirma que em 2018 a fatia de participação dos idosos no mercado vem aumentando consideravelmente. Por exemplo, em 2012 eles correspondiam a uma parcela de 5,9%; tendo saltado em 2018 para 7,2%. Um total de 7,5 milhões de idosos voltando ao batente. Em 2017, cerca de 5,2 milhões de aposentados voltaram ao mercado de trabalho, seja como força de trabalho comum ou como empreendedor.
Percebendo essa janela, há quem enxergue a necessidade de preparar o profissional acima dos 50 anos para se requalificar em prol da continuidade de sua trajetória profissional ou mesmo para empreender.
Criado em março deste ano, o programa Empreendedor Sênior assumiu a missão de ensinar e incentivar pessoas da terceira idade a reescrever o rumo suas histórias. Fundado pelo empresário e consultor Alfredo Laufer, o projeto funciona em parceria com o Instituto Gênesis (a incubadora de empresas da PUC-Rio, focada nas áreas de inovação e empreendedorismo) e tem como objetivo integrar experiências dos aposentados com mais de cinquenta anos com diversas áreas das startups.
- Os dados das novas empresas mostram que muitos negócios não sobrevivem aos dois primeiros anos por falta de experiência de seus gestores em algumas áreas chaves. Nossa ideia é criar um banco de talentos com profissionais seniores que podem prestar consultorias pontuais em áreas críticas desses novos empreendimentos – comenta Laufer.
EXEMPLO AMERICANO
Segundo o consultor, a iniciativa nasceu a partir de sua experiência numa pequena cidade da Califórnia onde esteve, durante um ano sabático, estudando na universidade local. Chamou-lhe a atenção as relações entre aposentados e jovens na cidade em que ele estava estabelecido.
- Em Davis há muita gente aposentada. Eles eram atraídos muito por causa dos baixos aluguéis e custo de vida menor. Eu passei a frequentar a vida local e percebi a operacionalização das pessoas aposentadas, ou seja, elas tinham uma vida e uma troca de experiência com os mais jovens muito grande. Eu então voltei para cá (Brasil) e comecei a ver como poderíamos começar a aproveitar as competências e habilidades das pessoas que estão em casa – explica.
Ainda segundo ele, a capacitação desses profissionais é ainda mais importante pela idade, uma vez que eles precisam de uma sólida base para se adequar às novas tecnologias. Para tanto, é essencial que o empreendedor 50+ tenha não só acesso a uma introdução formal como também uma convivência em conjunto com os mais jovens.
- Até o momento tivemos notícias que aproximadamente dez pessoas foram reinseridas no mercado de trabalho. Sendo através de cursos, palestras e criação de oportunidades para os nichos de trabalho 50+, estes que são empregos voltados exclusivamente para acolher aqueles que passaram dos 50.
Inclusive, os chamados “empregos 50+” estão se mostrando uma tendência cada vez mais comum, tanto para quem busca quanto para quem visa empreender. É o caso do site MaturiJobs que se especializou como uma ferramenta facilitadora na busca por um emprego 50+. Até o momento o portal afirma em seu site que 910 empresas já se cadastraram em seu sistema.
