Oposição quer usar greve na Petrobras contra privatizações

Por Cátia Seabra e Nicola Pamplona/ Folhapress

Em sua segunda semana, a greve dos petroleiros vem angariando apoio de partidos de oposição, que esperam que o movimento sirva de estopim para outras mobilizações contra o programa de privatizações do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

A greve chegou ao seu 17º dia nesta segunda-feira (17) e, segundo a FUP (Federação Única dos Petroleiros), já tem a adesão de 21 mil empregados. Há mobilizações em 121 unidades da estatal, entre plataformas de produção de petróleo, refinarias e terminais.

A categoria pede a suspensão de quase mil demissões (396 próprios e 600 terceirizados) com o fechamento da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná, e protesta contra mudanças em temas como troca de turno e pagamento de horas extras que, segundo eles, foram definidas sem negociação prevista no acordo coletivo.

O pano de fundo, porém, é o programa de venda de ativos iniciado no governo Dilma Rousseff (PT) e reforçado por Bolsonaro. "Entendemos [que o processo de demissões no Paraná] é um balão de ensaio, um teste para o modelo a ser aplicado nas refinarias", diz o diretor da FUP Deyvid Bacelar, uma das lideranças dos petroleiros.

Com o apoio à maior greve dos petroleiros desde a paralisação de 32 dias em 1995, a expectativa da oposição é que o movimento contra as privatizações ganhe força após o carnaval.

"A política de deliberada destruição da Petrobras só interessa aos concorrentes estrangeiros da empresa e aos inimigos do desenvolvimento soberano do Brasil", disse o PT em nota de apoio aos petroleiros divulgada nesta segunda.

Em transmissão ao vivo pela internet, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse que "quem quer um Brasil democrático, que tem soberania popular, tem a obrigação de apoiar e se manifestar em favor da greve". Nesta terça (18), a ban- cada petista definirá, com o ex-presidente Lula, estratégias de ampliação do movimento.

Candidato à presidência pelo PSOL nas últimas eleições, o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Guilherme Boulos, estará nesta quarta (19) em ato em frente à sede da estatal, onde um grupo de trabalhadores faz vigília desde o início da greve.

Segundo ele, a oposição enfrentou no ano passado dificuldade para fazer grandes mobilizações, fato que relaciona à "perplexidade" diante do novo governo. Por isso, diz, o ato desta quarta é simbólico. "Virou um grande movimento em defesa da Petrobras."

"Jamais nos afastaremos de defender a Petrobras, seus trabalhadores e os interesses da pátria", disse o presidente do PDT, Carlos Lupi, que classifica a venda de ativos da empresa como "crimes de lesa pátria".

A direção da estatal classifica a greve como política e vem tentando suspender o movimento na Justiça. Em decisões recentes, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) determinou que os petroleiros garantam um efetivo mínimo de 90% do pessoal necessário em cada unidade e aplicou multas aos sindicatos.

O tribunal já declarou que é inviável transferir trabalhadores da fábrica do Paraná para outras unidades, já que não foram contratados por concurso -a Araucária Nitrogenados foi adquirida da Vale, em 2012. O ministro do TST Ives Gandra condicionou a abertura de um processo de mediação à suspensão da greve.

Gandra também voltou a declarar que a greve é ilegal e pediu sua suspensão, mas os sindicatos disseram que ainda não foram notificados. Eles recorreram de duas decisões semelhantes antes. Já a Petrobras disse que notificou as entidades e aguarda que os empregados retornem às suas atribuições imediatamente.

Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) as 58 plataformas em greve listadas pela FUP produziram, em dezembro, 1,4 milhão de barris de petróleo por dia. Entre as refinarias, todas as 11 grandes unidades do país aderiram à greve, diz a FUP.

A Petrobras não comenta esses números. Diz, porém, que a produção não foi afetada e que nenhuma unidade teve adesão total à paralisação.

A empresa está operando com equipes de contingência, formadas por empregados que têm cargo de confiança, aposentados, trabalhadores terceirizados e, segundo a companhia, e empregados que não aderiram à greve.

Executivos do setor de combustíveis ouvidos pela reportagem dizem que não há relatos de problemas de abastecimento.

Na semana passada a ANP enviou ofício ao TST alertando para o risco de problemas caso a paralisação se estenda por mais tempo. Bacelar, da FUP, diz que a categoria não está disposta a ceder.

Além do combate à privatização, os petroleiros têm reforçado críticas contra a política de preços dos combustíveis, tema que também entrou no radar do governo Bolsonaro diante do aumento de questionamentos em redes sociais.

A bandeira dos combustíveis uniu nesta segunda petroleiros e caminhoneiros, que em geral apoiam Bolsonaro, em protesto em Santos contra o preço do diesel e o novo zoneamento do porto de Santos.

Na semana passada, os grevistas fizeram campanhas de venda de combustíveis "a preços justos" para angariar apoio. Também ofereceram botijões de gás por R$ 35 a R$ 40 em diversos estados. Em Macaé, ofereceram a motoristas vouchers de R$ 20 para comprar gasolina.

A busca por apoio popular é vista como fundamental para uma categoria que encerrou sua maior paralisação, que durou 32 dias em 1995, em meio a protestos por problemas de abastecimento –e acusada de fazer vista grossa para os crimes de corrupção investigados pela Operação Lava Jato.

"A sociedade brasileira entendeu que os preços dos combustíveis são abusivos", diz Bacellar, que faz parte da "comissão permanente de negociação" que ocupa há 18 dias uma sala de reuniões no edifício sede da Petrobras. Segundo ele, até agora não houve conversas com a empresa.