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Chacina de Unaí (MG) volta aos tribunais 18 anos após assassinato de fiscais

Por: Isac Godinho

O novo julgamento de Antério Mânica, ex-prefeito acusado de ser um dos mandantes da chacina ocorrida na cidade mineira de Unaí, em janeiro de 2004, ocorre em meio a protestos de auditores que cobram a punição pela morte de colegas que fiscalizavam trabalho escravo.

"Viemos buscar justiça, para que tenhamos um desfecho para este trágico episódio da nossa categoria, que culminou com o assassinato brutal de quatro colegas no exercício da sua atividade profissional, em janeiro de 2004", diz Bob Machado, presidente do Sinait (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho).

Segundo a entidade, 58 pessoas de outros estados foram acompanhar o julgamento em Belo Horizonte junto com os servidores de Minas Gerais.

Há 18 anos, os auditores fiscais do trabalho Eratóstenes Gonçalves, João Batista Lage e Nelson José realizavam fiscalizações de trabalho análogo à escravidão na região de Unaí quando foram mortos a tiros em uma emboscada. O motorista Ailton de Oliveira, que acompanhava o trio, também foi morto na ação.

Antério Mânica chegou a ser condenado a cem anos de prisão em outubro de 2015 por homicídio quádruplo, triplamente qualificado por motivo torpe, mediante pagamento e sem a possibilidade de defesa das vítimas.

No entanto, em novembro de 2018, a condenação foi anulada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que aceitou um recurso da defesa que apontava a insuficiência de provas. Foi determinada, então, a realização de um novo julgamento.

A expectativa é que o novo júri popular seja concluído na sexta-feira (27).

No primeiro dia de tribunal, na terça (24), foram sorteados os sete jurados. Além disso, tiveram início os depoimentos das testemunhas. Ao todo, são 20 testemunhas, sendo 14 de acusação e 6 de defesa.

Ao longo de mais de dez horas de julgamento, foram ouvidas oito testemunhas do caso.
O Ministério Público Federal considera haver provas suficientes que mostram o envolvimento de Mânica no crime.

Segundo a acusação, na véspera do crime, um carro Fiat Marea azul, igual ao da esposa de Mânica foi visto em um encontro entre os executores do crime e intermediários em um posto de abastecimento. Também foram identificadas ligações da fazenda do ex-prefeito para a cidade de Formosa (GO), onde morava um dos executores do crime.

A Procuradoria também afirma que Mânica já havia se mostrado contrário às fiscalizações de auditores em sua fazenda. Segundo o órgão, ele teria chegado a ligar para a delegacia do trabalho para dizer que os fiscais estariam incomodando e atrapalhando seus interesses políticos na região.

A defesa de Antero Mânica diz que as acusações são injustas e a expectativa é que ele seja absolvido neste novo julgamento. Segundo o advogado Sérgio Leonardo, o primeiro dia de julgamento foi positivo.

De acordo com ele, dois elementos novos são importantes em relação ao julgamento anterior, ocorrido em 2015. O primeiro é o fato de o TRF-1 ter anulado o julgamento por falta de provas. O segundo é a confissão de Norberto Mânica, irmão de Antério, que afirmou, em 2018, ser o único mandante do crime.

Norberto Mânica também foi condenado em 2015 a quase cem anos de prisão como um dos mandantes da chacina. Três homens acusados de serem os executores do crime foram condenados em 2013.

Bob Machado, do sindicato dos auditores, diz que a categoria "carrega uma chaga" desde a chacina.

"Todos nós, auditores fiscais do trabalho, fomos atingidos naquele dia. Nós carregamos essa chaga todos os dias quando saímos para trabalhar, para combater o trabalho escravo, combater o trabalho infantil. Carregamos a sombra da chacina de Unaí, porque essa impunidade perdura por 18 anos", afirma.

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