Um vírus mais mortal do que o Covid-19

Por Cláudio Magnavita


O balanço desta primeira semana de confinamento é preocupante. No Brasil dividido após as eleições, os antagonismos políticos já passaram dos limites e já dão nojo.

O clima não se manifesta apenas na esfera política nacional. Ele passou para o ambiente regional, empresarial e até nos condomínios com vizinhos apontando quem está contaminado ou não. Os telejornais apavoram mais do que informam. Os comentaristas da GloboNews e da Rede Globo estão agindo como verdadeiros kamikazes da credibilidade em uma batalha naval.

A conclusão é que o Brasil está contaminado por um vírus pior que o Covid-19, o vírus da discórdia. A nossa sociedade parece ter se fragmentado de forma inconciliável.

O primeiro passo é a insubordinação hierárquica. O desrespeito ao principio da autoridade. O que esperava o governador de São Paulo, João Doria, ao peitar já no início da sua fala o presidente da República?

Conhecendo Bolsonaro, o que ele esperava? Por que azedar um clima que deveria ter sido somente técnico e de pacificação? Até o seu colega Wilson Witzel, que tem sido extremamente primário na sua contenda com o Planalto, foi cordial.

Bolsonaro foi até educado na resposta. Rebateu com autoridade e se mostrou altivo, mostrando que ali não havia um cidadão ou um governador, mas um candidato. Peitar um presidente em público, em uma reunião para discutir uma crise, não foi um ato de bravura, mas de insensatez.

No Rio assistimos o conflito do Estado fazendo uma marcação cerrada com o prefeito da capital. É muito ruim.

A sensação é de que a Globo está com o sentimento do agora ou nunca. Ou tira Bolsonaro agora ou a sua concessão não será renovada. Até matéria sobre possível carta de renúncia foi publicada no que era para ser o sisudo jornal econômico do grupo, o “Valor”.

Jair Bolsonaro comete os seus erros, muitos, e é sobretudo truculento. Mas, em vez de trazermos tranquilidade e permitir que governe, ele é submetido a um tiroteio incessante de parte da mídia, da dupla Cosme & Damião, David Alcolumbre e Rodrigo Maia, e de alguns governadores. Quem sabe fazer oposição, como o PT, sabe que agora é hora de silêncio. Alguém viu Lula atirar?

O jogo ardiloso do deputado Rodrigo Maia, colocando-se como ombudsman da República, é o mais perigoso de todos. Como presidente da Câmara, tenta construir um protagonismo que nem na adolescência conseguiu em casa.

O presidente do Senado, David Alcolumbre, coitado, recolhido na mansão oficial como uma tartaruga ninja com teste positivo. Fica lendo o Torá na tentativa de pagar os seus pecados e salvar sua alma entregando o Senado ao seu vice, o senador Antônio Anastasia, que possui uma delicada fórmula de fazer oposição.

O pior é que o público assiste agora a tudo de forma privilegiada confinado em casa. No mundo, nenhuma outra imprensa se dedica a implodir o seu país. Politizar ao extremo, no momento delicado que vivemos, não vai salvar vidas de pacientes, irá sim matar o Brasil.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã