Coluna Magnavita: Vai sobrar para o “bagrinho”?

É preciso descobrir quem é verdadeiro mentor dos casos suspeitos no governo de Witzel

Por Cláudio Magnavita*

O governador Wilson Witzel nunca esquecerá este mês de abril que está terminando. Ele e a esposa Helena testaram positivo para a Covid-19, o seu governo esteve nas manchetes por negócios mal explicados na área da saúde em plena pandemia e a mudança no comando da Polícia Federal e do Ministério da Justiça coloca a sua administração nas investigações relacionadas ao contrato de R$ 835 milhões para hospitais de campanha, além de outros processos de compras suspeitos que resultaram na demissão sumária do seu subsecretário Executivo de Saúde, Gabriell Neves. O caso caiu na lupa do Tribunal de Contas de União.

O seu secretário de Saúde Edmar Santos também testou positivo e saiu de cena. Tanto ele quanto o governador sumiram da mídia em um dos momentos mais delicados do Governo do Estado,fugiram dos holofotes inquisidores e ganharam a acalanto que qualquer enfermo merece.

Para ajudar, a saída dos ex-ministros Mandetta e Moro ocuparam as manchetes durante dias. O escândalo, diante dos negócios duvidosos e sequenciais do Governo do Estado em plena pandemia, agora retorna as primeiras páginas.

Revira o estomago de qualquer bom cristão pensar que estão usando a crise do novo coronavírus para fazer negócios lesivos ao erário.

A principal pergunta ainda não foi respondida: um simples subsecretário teria autonomia para fazer negócios superiores a R$ 1 bilhão de reais, sem ter avais superiores? Quem verdadeiramente esta por trás deste balcão de negócios que virou a pasta da Saúde?

Estamos enfrentando o colapso da rede estadual e o atraso na entrega dos hospitais de campanha no Estado tem um vilão: os negócios mal feitos.

Vai morrer gente por conta disso e quem vai ser punido?

O governo impoluto, que deveria ser exemplo de honestidade por ter um ex-juiz federal no comando, virou um gigantesco mercado persa. O exemplo de gestão, que deveria alavancar o sonho presidencial do Witzel, desmorona como as muralhas de jericó ao som de cada corneta da imprensa investigativa.

A Cedae entrou em parafuso com a geosminas (que saudade da bactéria fedorenta em tempos de corona) e perdeu valor. Segue no caminho da privatização por 1/3 do seu valor real. Um cenário que beneficiará uns poucos, menos ao povo do Rio. O Samu, que esteve nas mão zelosas do Corpo de Bombeiros, vai a jato para uma organização social, resultando na primeira baixa (esta voluntária) do quadro da saúde. Dois hospitais são entregues em menos de 48 horas a duas organizações sociais, OSs. Aliás, já tem deputado estadual propondo o rebatismo para “Organização Societária”. Um aplicativo estava sendo contratado por R$ 10 milhões, enquanto não custaram R$ 20 mil em qualquer incubadora universitária e a joia da coroa, os hospitais de campanha... R$ 835 milhões... Dinheiro em qualquer parte do mundo.

O Ministério Público e agora a Polícia Federal já deveriam começar a buscar a origem milionária das super tendas e se alguns dos fornecedores têm histórico de locação anterior para mega eventos evangélicos, especialmente em Minas Gerais.

Inferno astral vivem hoje o outro Wilson do Partido Social Cristão (PSC), o governador do Amazonas , Wilson Miranda Lima, outra área de grande influência do presidente da legenda partidária, o “pastor” Everaldo Pereira. Será que é coincidência? Everaldo é o Midas ao contrário, esfacela todos os governos em que resolveu meter a mão?

A Polícia Federal tem um prato cheio para correr atrás dos chefes dos Wilsons. Recentemente foi protocolado pelo ex-presidente do PSC, Victor Nósseis, um dossiê com novas acusações. Nósseis foi acusado em 2018 pela turma do Everaldo de pagar prostitutas com o fundo partidário. Como o mundo mudou, no país machista. No Brasil deve até ter deixado de ser pecado e causa até inveja.

O Amazonas está à beira de uma intervenção com o seu governador sem saber explicar como recursos sumiram e impossibilita o combate eficaz a pandemia.

No Rio, o governo tem muito a explicar e agora é quem está sob a mira dos snipers caça-corruptos da Polícia Federal. O cenário fica mais grave quando o deputado Ferreira faz as contas e revela que a receita de ICMS deve despencar 35%, lembrando que o barril do petróleo está abaixo de 20 dólares.

O cenário pode ficar pior. Boa parte da Assembléia Legislativa está disposta a não aceitar a operação abafa que visava engavetar a Comissão Parlamentar de Inquérito da Saúde em troca do Detran. A CPI esta semana ganha muita chance de virar realidade. Sem dúvida, este mês de abril será um mês inesquecível para a biografia e anseios políticos do governador Wilson Witzel.

(*) Cláudio Magnavita é diretor de Redação do Correio da Manhã.