Bolsonaro parabeniza ação da PF

Enquanto a Polícia Federal realizava buscas no Palácio das Laranjeiras, residência oficial em que mora o governador Wilson Witzel, o presidente Jair Bolsonaro elogiou a corporação. Witzel é adversário político de Bolsonaro. “Parabéns à Polícia Federal, fiquei sabendo agora. Parabéns à Polícia Federal, tá ok?”, disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre a operação que mira um suposto esquema de desvios de recursos públicos no estado destinados ao combate ao coronavírus.

Além do palácio, os agentes federais buscaram provas em sua antiga casa, no bairro do Grajaú (Zona Norte) e no escritório da primeira-dama Helena Wizel, que é advogada.

Witzel é desafeto de Bolsonaro, que recentemente mudou a cúpula da Polícia Federal, gesto que motivou a saída do governo do então ministro da Justiça, Sergio Moro.

Na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi questionado por jornalistas se a deputada Carla Zambelli (PS- L-SP) sabia com antecedência da operação da PF. Na segunda-feira (25), em entrevista à Rádio Gaúcha, a parlamentar aliada de Bolsonaro falou de um suposto represamento de operações contra governadores, que passariam a ser deflagradas a partir de agora. “Pergunta pra ela”, reagiu o presidente.

A ação foi deflagrada um dia após a nomeação do novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi. A representação da PF no estado está no centro de uma investigação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que apura se o presidente buscava interferir politicamente em investigações da corporação.

A investigação apura fraudes na contratação da organização social Iabas para a montagem de hospitais de campanha. O inquérito contra Witzel foi aberto a partir de um depoimento de Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde preso sob suspeita de fraudes na compra de respiradores.

Aliados na campanha eleitoral de 2018, Witzel e Bolsonaro defendem bandeiras similares para áreas como segurança e costumes. Mas a afinidade da dupla rompeu-se no ano passado quando o presidente acusou o governador de vazar informações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) que aproximariam os assassinos de sua família como no caso do porteiro do condomínio onde mora o presidente que teria dito que o “seu Jair” teria autorizado a entrada de um suspeito pelo assassinato no Vivendas da Barra. A tentativa de associar Bolsonaro ao assassinato de Marielle despertou a ira do clã Bolsonaro e de sua militância.

O presidente foi categórico ao citar a possível responsabilidade de Witzel no episódio: “quem está por trás disso? Eu não tenho dúvida: governador Witzel”, afirmou à imprensa na ocasião. Bolsonaro chegou a dizer que Witzel seria “amiguinho” do delegado responsável pelas investigações, o que motivou críticas de instituições representativas da categoria. O presidente acusa o governador de ser movido pela obsessão de se tornar presidente da República.

O governador, por sua vez, assegura que jamais vazou qualquer tipo de informação e que as declarações de Bolsonaro eram resultado de fortes emoções. O fato é que os dois nunca mais chegaram a um acordo.

A pandemia do coronavírus agravou ainda mais a rivalidade entre Bolsonaro e Witzel. Enquanto o governo fluminense adotou formas rígidas de isolamento da população, o Palácio do Planalto prega a retomada da vida normal. Na reunião ministerial de 22 de abril, ao referir-se aos governadores que se opõem à flexibilização do isolamento, Bolsonaro chegou a chamar Witzel de “estrume”.

O deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) lembra que o governador foi lançado candidato às pressas pelo PSC. “Não deu tempo para a gente conhecer quem era o Wilson”, disse no auge do rompimento.do governador com o presidente. Ao falar da aliança entre os dois em 2018, o deputado lembrou que Bolsonaro “nunca confiou” em Witzel. “Ele nunca quis tirar uma foto com o Wilson. Apenas liberou os filhos”, comentou.