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A quem interessa a saída açodada de Wajngarten?

Por Cláudio Magnavita *

 A obediência a hierarquia exigem algumas disciplinas. Uma delas é a obediência ao órgão maior do poder público, o Diário Oficial.

A publicação de nomeação ou exoneração só tem validade quando o DO publica. Muitas vezes, situações conversadas no gabinete presidencial são efetivamente concretizadas somente quando o ato formal é publicado.  É um delay suficiente para o presidente da República refletir e validar uma ideia apresentada.

Com o presidente Jair Bolsonaro, o caso é mais preciso. Ele tem um dom de intuição que muitas vezes desafia a lógica do seu entorno. Foi dessa forma que conquistou o seu mandato.

Por diversas vezes, o presidente contrariou os conselheiros mais próximos -  e até os mais amedrontados - e acertou.

A pressão para exonerar um dos seus mais fiéis cães de guarda, o secretário Fabio Wajngarten é desproporcional ao “dolo” que ele poderia ter cometido.  O Diário Oficial não publicou a sua exoneração, porém, na manhã da sexta-feira, 26, o Almirante Flavio Augusto Viana Rocha  adentrou a Secom e reuniu a equipe. Começou a dar ordens, antes mesmo da exoneração do titular da Secretaria. Que açodamento é esse, tentando consumar uma conversa e uma decisão que, se tomada, deveria estar entre quatro paredes e aguardar a sua publicação no DO?

Wajngarten, quando o fato ocorreu, não havia recebido nenhum comunicado oficial da Presidência da República sobre o seu afastamento. Um assessor que goza da confiança e da intimidade do presidente não poderia ser desligado sem que dessem a chance do Bolsonaro ter a palavra final. Isso sim é uma  insubordinação à autoridade.

O mais grave é o fato de o Ministro das Comunicação estar usando há três dias a imprensa, inclusive os veículos de oposição ao presidente, para vazar o afastamento do titular da Secom. É estranho ver inimigos confessos dos presidente, como a Globonews, aplaudindo um afastamento e elogiando um almirante que entra para um cargo estratégico.

Nesta sexta, 26 de fevereiro, a Folha de S. Paulo, O Globo , GloboNews e O Globo estão tendo mais força do que o Diário Oficial da União.

Um dos erros maiores foi ter misturado Comunicação Social com Telecomunicações. Até nos governos militares  foram pastas distintas.  Uma cuida do conteúdo e a outra da antena. Aliás, querem ejetar  o Wajngarten da cadeira exatamente quando um negócio bilionário das  telecomunicações, a banda 5 G, é colocado na ordem do  dia. Foi exatamente no tour com os principais fornecedores da nova tecnologia no mundo que Farias e o almirante Rocha  pactuaram a saída do assessor do presidente.

Restam algumas perguntas. A quem interessa a saída de Wajngarten e por que atropelar o tempo que o presidente necessita para consumar uma mudança do seu jeito e da sua forma? E ainda, por que usar parte da imprensa, especialmente a de oposição, para consumar uma decisão que deveria, se tomada, aguardar entre quatro paredes a assinatura do presidente e a publicação do Diário Oficial ?

 *Cláudio Magnavita é diretor de Redação do Correio da Manhã

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