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Piloto que ficou 36 dias desaparecido na mata após queda de avião localiza destroços em sobrevoo

Monica Prestes (Folhapress)

Uma semana depois de ser resgatado após sobreviver a um acidente aéreo e passar 36 dias perdido na floresta, o piloto Antônio Sena, 36, voltou ao local da queda, mas desta vez apenas pelo alto. Com a ajuda do amigo e também piloto Erik Jennings Simões, ele conseguiu localizar o avião caído em uma clareira na mata, em um sobrevoo realizado no sábado (13).

"Que emoção voltar nesse lugar. Tantas coisas passam na cabeça. Os momentos da queda, ver a imensidão da floresta de cima, lembrar os momentos lá embaixo e ver o tamanho do desafio", descreveu em uma rede social.

Antônio desapareceu em 28 de janeiro, quando o avião de pequeno porte que ele pilotava caiu em uma área de floresta de difícil acesso nas redondezas do rio Paru, perto da divisa do Pará com o Amapá. Ele foi resgatado 36 dias depois, após caminhar por 28 dias e encontrar uma família de extrativistas que fez contato, via rádio, com familiares dele, que por sua vez acionaram os órgãos de segurança.

Ele sobreviveu buscando fontes de água e se alimentando, sobretudo, de ovos de aves e frutas que observava os macacos comerem. Ele perdeu 26 quilos, pegou muita chuva e chegou a desmaiar mais de uma vez durante a caminhada, reflexo da fome e do cansaço.

O piloto contou que, após o acidente, marcou o local da queda com GPS, o que facilitou a localização da aeronave caída no último fim de semana. Neste voo de reconhecimento, no entanto, ele foi de passageiro, pois vai precisar passar por uma renovação das licenças. "Foi até difícil segurar e não poder voar. E eu tive que operar só a filmadora e a máquina fotográfica. Mas foi uma emoção muito grande, poder encontrar esse avião, ver que tudo que eu planejei aconteceu da forma que tinha que acontecer. Foi gratificante", relatou Toninho, como é chamado pelos irmãos.

Para ele, encontrar a aeronave e percorrer novamente o local do acidente, mesmo que apenas do alto, foi como fechar um ciclo. "Olhando lá de cima e lembrando de todos os momentos lá embaixo, na floresta, fiz um paralelo de tudo isso. Até um tempo atrás eu não conseguia realizar o tamanho do feito. E quando eu pude sobrevoar, eu dizia: 'meu Deus, eu andei tudo isso?' A ficha foi caindo", lembrou.

Além do reencontro com o avião, outros dois momentos provocaram em Antônio um misto de ansiedade e alívio. O primeiro aconteceu na semana passada, quando ele viajou -de avião, como passageiro- para o município de Almeirim para reencontrar a família de extrativistas que o salvou e a matriarca, Maria Jorge, coletora de castanha há mais de 50 anos. "Encontrar a dona Maria Jorge foi uma das coisas mais emocionantes. Ela virou uma segunda mãe para mim. São pessoas de uma simplicidade enorme, batalhadoras, enviadas por Deus para estarem lá. É uma família que me acolheu e a gente também os acolheu. Todo dia a gente se fala", contou.

Mas faltava um reencontro para que essa história tivesse, enfim, o tão esperado "final feliz", lembra Antônio. E, para que ele acontecesse, mais uma viagem de avião no caminho, desta vez para Brasília, onde mora a mãe do piloto. "O encontro com a minha mãe foi o abraço que faltava. Foi o que eu sonhei todo dia naquela floresta. Foi um sentimento muito bom, de realmente poder finalizar essa história sentindo esse amor. Teve abraço sim, não teve pandemia que segurasse esse abraço".

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