Médico suspeito de violentar 53 mulheres é solto e terá que usar tornozeleira

O Cremego (Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás) anunciou nesta quarta-feira (6) que decidiu suspender temporariamente a licença do médico Nicodemos Júnior Estanislau Morais, 41, investigado pela Polícia Civil por suspeita de violência sexual contra mais de 50 mulheres.

A aprovação da chamada interdição cautelar proíbe que o ginecologista e obstetra exerça medicina em todo o território nacional até a conclusão do processo que corre na entidade. A medida é válida por seis meses, podendo ser prorrogada por mais um semestre ou revogada a qualquer momento.A apuração do conselho sobre o caso, diz a entidade, segue em sigilo.
O advogado Carlos Eduardo Gonçalves Martins, que representa a defesa do médico, diz que ele ainda não foi comunicado a respeito da decisão do conselho.

Na segunda-feira (4), Morais teve a prisão preventiva revogada e deixou a unidade prisional em Anápolis (GO), a cerca de 60 quilômetros de Goiânia, onde estava desde a semana passada.

Com a soltura, a Justiça determinou que ele terá que cumprir medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica. Ele também médico não pode se ausentar da comarca, frequentar as clínicas onde trabalhava e precisa estar em casa entre 18h e 6h.

O Tribunal de Justiça de Goiás disse que o caso corre em segredo de justiça. Segundo a Polícia Civil, até terça-feira (5), 53 mulheres denunciaram o médico por práticas que estão sendo investigadas como violência sexual mediante fraude.

Com a decisão judicial, porém, segundo a delegada responsável pelo caso, Isabella Joy Lima e Silva, outras vítimas que ainda seriam ouvidas começaram a ter receio de aparecer por medo de represálias.

"É um caso com 53 vítimas, os mesmos relatos, crimes absurdos, e infelizmente o juiz entendeu de outra forma", diz ela.

Entre os relatos ouvidos pela polícia até então, de acordo com a delegada, pacientes contaram que o ginecologista teria feito penetração com os dedos, não só como toque, e perguntava se elas estavam sentindo prazer. Há relatos ainda de que ele também teria feito algumas delas tocarem seu órgão genital.

Uma paciente, hoje com 20 anos, que foi atendida por ele quando tinha entre 12 e 13 anos, por causa de um cisto no ovário, relatou que o médico mostrou a ela na época quadrinhos, fotos e vídeos com conteúdo pornográfico, enquanto estava a sós com ela no consultório.

"Nós tivemos relatos de algumas vítimas que informaram que viram que ele tirava fotos das partes íntimas delas. Algumas, que notaram, pediam que ele apagasse, ele falava que ia apagar, mas elas não têm certeza se ele apagava", conta a delegada.

À reportagem a defesa do médico disse que não teve acesso aos fatos e por isso não iria comentar a respeito das supostas fotos.

Em depoimento à polícia na semana passada, o ginecologista disse que não há nada de cunho sexual em seu trabalho, que as perguntas são questões que ele precisa saber para a profissão.

"Até onde a defesa teve acesso ao inquérito consta somente o simples exercício profissional do médico Dr. Nicodemos, especialista em ginecologia, o médico em nenhum momento realizou qualquer tipo de procedimento médico com cunho sexual", diz a nota divulgada por seu advogado na semana passada depois da prisão.