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Weffort, exemplo de equilíbrio - Coluna Aristóteles Drummond

Um dos mais admiráveis pensadores brasileiros é o professor Francisco Weffort, que ocupou por oito anos o Ministério da Cultura, sem nenhum tipo de turbulência. Aliou a seu preparo intelectual e vivência internacional a sabedoria do homem de um temperamento ameno, de excelente convívio, educado e ponderado. Não é exagero, mas merece ser registrado, uma vez que o meio costuma ser um serpentário de vaidades, idiossincrasias, intolerância e arrogância.

Abordar a vida desse homem de cultura, com grande experiência na vida acadêmica e política do Brasil, é oportuno por se constituir prova de que o exercício de convicções não obriga a posturas pessoais agressivas ou preconceituosas. Homem de boa fé e boa índole, foi um dos fundadores do PT, responsável por uma agenda de sentido social realista, fruto de profunda avaliação da evolução do mundo na economia, no social e no político. Logo que se desencantou com o ideal que acreditou o PT representar, foi se juntar a companheiros de vida acadêmica da socialdemocracia, de maneira discreta e elegante. Não saiu atirando como tem se tornado comum no Brasil. Mais um exemplo.

Uma marca de sua superioridade é a humildade com que avalia o evoluir do processo histórico na América Latina sem se apresentar como dono da verdade. Reconhece a dificuldade para se antecipar aos acontecimentos dos próximos anos, dada à complexidade das situações e diferenças entre países da mesma região e civilização.

Quem o ouve tem se beneficiado desta postura rara e correta. O reconhecimento que fez por merecer não lhe acrescentou vaidade.

O mundo começa a acreditar na condução firme, mas plural de seus problemas.

A virtude parece ser cada vez mais no equilíbrio e bom senso, com reconhecimento dos povos que já não se deixam seduzir por utopias, dogmas e preconceitos. E o mundo intelectual vê ganhar força quem assim pensa - caso de outro ilustre latino-americano, o peruano e Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa. E temos ainda oitentões  com muito a oferecer como Yves Gandra e Bernardo Cabral.

Na Europa e nos EUA, prevalece a tradição de os governantes, ou líderes políticos relevantes, manterem diálogo com setores intelectuais na busca de compreensão para os fenômenos históricos que se vive a cada momento. E contatos plurais na busca da verdade, que não é privilégio de uma linha ideológica, sociológica ou filosófica.

No Brasil, anda faltando isso. JK teve interlocução íntima com nomes como Augusto Frederico Schmidt e Josué Montello; Castelo Branco tinha em Rachel de Queiroz uma amiga e interlocutora. Já FHC teve no companheiro de toda vida Weffort o interlocutor de confiança.

A cultura precisa de um militante articulador, como no passado foi José Aparecido de Oliveira, presença forte junto a três presidentes: Jânio Quadros, José Sarney e Itamar Franco e do notável Magalhães Pinto. E com amplo trânsito, é bom lembrar, diferentemente do que insinuam os autores de documentário sobre Aparecido, em que só admiradores de esquerda apareceram, ocultando uma de suas melhores características que era a tolerância e o pluralismo.

Nossa melhor cultura tem quadros que não estão comprometidos com os diferentes radicalismos que não levam a nada e que, hoje, nem conseguem sensibilizar a sociedade.

Wefort é um belo exemplo!

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