Coluna Magnavita | O amigo Bomba - Parte III: Jogando sujo: vazamento de dados pessoais coloca em risco familiares de jornalista

Coluna Magnavita | O amigo Bomba - Parte III: Jogando sujo: vazamento de dados pessoais coloca em risco familiares de jornalista

Vazamento de informações privadas de jornalistas e familiares, coletadas por agentes públicos, são denunciadas à PGR

Por Cláudio Magnavita*

Como você se sentiria caso recebesse dois arquivos de PDF contendo todas as informações sigilosas a seu respeito? Dados societários, endereços, propriedades, veículos, telefones e o mais grave: dados confidenciais de parentes diretos e indiretos. Informações privadas de seu pai, um nonagenário de 96 anos, da sua mãe, uma octogenária de 88 anos, dos irmãos, inclusive de ocupantes de funções públicas delicadas, incluindo na lista também os seus sobrinhos e primos?

Foi exatamente o que ocorreu com este jornalista, às 9h54 minutos da segunda-feira, 18 de abril, quando um amigo, dirigente de um importante veículo de comunicação, repassou arquivos que recebeu. A fonte teria sido uma só: um ex-agente público que está no foco de matérias investigativas do Correio da Manhã, sobre a sua atuação em um cargo do primeiro escalão do governo estadual, e um festival de ações que precisam ser esclarecidas.

De posse dos PDFs, foi protocolada, no Ministério Público Federal, na manhã do próprio dia 18, uma denúncia, exigindo a apuração do vazamento das minhas informações pessoais e dos meus parentes, anexando às planilhas recebidas. São informações contidas nos bancos de dados do Governo Federal, mais especificamente nos bancos de dados da Receita Federal. O Procurador-Geral da República, Augusto Aras, recebeu a denúncia e repassou para a apuração, que deverá identificar o agente público que acessou estas informações e como elas foram enviadas para o ex-secretário estadual, ligado a um senador que também sofreu uma quebra de sigilo que expôs a sua família, realizada de forma ilegal, por funcionários da Receita Federal.

Será que o senador vai repudiar a atitude do seu “amigo bomba”, que usou agentes públicos para vazar informações pessoais de um nonagenário ex-grão-mestre da maçonaria, de uma octogenária e de irmãos, primos e sobrinhos? O envio por WhatsApp não deixa dúvidas sobre a autoria e da tentativa de coagir o jornalismo investigativo. Ao invés de responder às questões levantadas nas matérias, resolveu ameaçar a liberdade de imprensa, expondo parentes e pessoas consanguineamente ligadas ao jornalista. Na nossa apuração, há sinais de que outros jornalistas e autoridades já teriam sido alvo de relatórios similares.

Algumas coincidências precisam ser consideradas pelo Ministério Público Federal. Na estrutura da Receita Federal, só a Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho (DIREP) tem acesso, de forma ilimitada, aos bancos de dados do Governo Federal. Em abril de 2022, o Secretário de Estado de Esportes e Lazer, Gutemberg de Paula Fonseca, já em fase de pré-campanha a deputado federal, fez dezenas de postagens nas suas redes sociais e nas oficiais, todas ainda no ar, onde aparece como o gestor das doações de 25 toneladas de roupas e utensílios, apreendidos pela Receita Federal, para Petrópolis. São inúmeras postagens nas quais o senhor Gutemberg Fonseca está em um caminhão, com as mercadorias doadas. Em algumas fotos, é possível identificar o atual diretor da DIREP no Rio, ao lado do então secretário. É no mínimo estranho que uma ação humanitária da Receita tenha sido capitalizada politicamente por um agente público estadual, que tem como maior mérito se dizer amigo do senador Flávio Bolsonaro.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã