Tristão e Witzel

O mistério atrás do crescimento do ex-aluno e ex-sócio do governador, apesar de enfrentar inúmeros embates

Por Cláudio Magnavita*

O caso de Lucas Tristão no Governo do Estado do Rio tem intrigado diversas raposas da política carioca. Que trunfo este rapaz tem nas mãos capaz de fazê-lo imune a todas as denúncias e escândalos que pipocam ao seu lado?
Qual é o mistério que o faz resistir a um embate direto com todo o poder legislativo e ser mantido no cargo para aborrecimento dos deputados?
Qual a força que o prende à cadeira e faz com que o seu apetite colecione espaços neste governo, inclusive entrando nas pastas de outros colegas e estabelecendo um feudo em território alheio?

Que laços o fazem resistir a embates com o presidente do PSC, o pastor Everaldo Pereira, ou ainda com o chefe da Casa Civil, o ex-deputado André Moura, político acostumado a nadar com tubarões e piranhas?
Durante a campanha, reza a lenda, que diversas vezes testemunharam ele ao berros com o candidato, demonstrando uma intimidade que nenhuma outra pessoa próxima teria, com exceção é lógico , da hoje primeira dama, Helena.

Este jovem advogado, Tristão, que desenvolveu o dom de se envolver com seus professores, transformou um deles em sócio, em uma firma de advocacia especializada em direito tributário.

Nesta fase, pré-Witzel, esta atuação tinha uma característica curiosa: o sócio era o conselheiro do CARF, Carlos Augusto Renier. Quando venceu o mandato próprio Lucas Tristão do Carmo foi indicado duas vezes pelo seu conterrâneo, o também capixaba Antonio Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comercio, para concorrer a uma cadeira no CARF. Por duas vezes ficou em segundo lugar na lista tríplice da CNC.

Já a bordo do projeto político do juiz-professor, Tristão largou tudo em Vitória, manteve o endereço da sua OAB em um escritório de terceiros, cujos sócios de forma até hostil negam qualquer vínculo com ele, e manteve-se como administrador (o que é proibido por lei por ocupar cargo público ). Sua ação foi usada para justificar, então, uma hipotética sociedade com Wilson Witzel e justificar a origem que o próprio candidato aportou na sua campanha (R$ 220 mil).

Ainda na campanha, o seu celular era salvo na agenda dos companheiros como “LUCAS do Witzel". Ele não escondeu seus laços com Mário Peixoto, quando o peixe, o senador Romário, levantou a lebre em um debate televisivo ao encarar o ex-juiz.

Lucas Tristão já advogava para as empresas de Peixoto, da mesma forma que o Witzel advogava para o pastor Everaldo.

Por diversas vezes, os problemas de caixa da campanha eram resolvidos após reunião do Tristão com o seu cliente e amigo.

Já no Governo, faz a primeira viagem ao exterior, uma missão na Alemanha , onde todo o grupo pode sentir que o governador e o secretário eram unha e carne.

Na montagem de governo, o seu apetite e sua força foram testados e teve de recuar. Perdeu a CEDAE para a gula do pastor Everaldo, até que a desastrada gestão de Hélio Cabral virou carvão... vegetal.

A brecha foi ocupado por Tristão, da mesma forma que depois fez com o Detran, outro condado com cofres cheios.

Acusado formalmente pelo presidente da ALERJ, Andre Siciliano, de ter montado um sistema de escutas dos parlamentares e com a temperatura máxima, ele se refugiou em Londres por 4 dias, tudo pago pelo Governo do Estado.

Fugiu da rinha com os deputados e em plena Covid-19 praticou a primeira audiência pública online, presidida pelo deputado Ferreirinha, posou de bom moço e reafirmou seu apreço pelo legislativo. Dos deputados, levou um cascudo antes, quando viu um neófito indicado, seu sub-secretário, ser rejeitado na tentativa de migrar para a agência que fiscaliza a Cedae.

No Palácio,conseguiu mudar a estrutura de comunicação do governador , exonerando toda a equipe que tinha laços com o pastor e hoje a comanda, mesmo estando a estrutura subordinada à Casa Civil.

Chegou a correr a notícia que ele procurou emprego em Vitória, no governo de Renato Casagrande.

O que temos hoje é um super Tristão, que no dicionário e na mitologia é o equivalente masculino de Sereia, ocupando um espaço cada vez maior em um Governo, agora liberado das amarras constitucionais, que está gastando o que não tem, em compras emergenciais que sempre passam sob o olhar do operoso secretário.

Apesar de ter sido rejeitado nas duas vezes que concorreu ao CARF pela análise curricular, o rapaz tem sido um prodígio e demonstra ter uma força misteriosa com o governador, capaz de protegê-lo de denuncias fundamentadas e de colocar a Alerj em pé de guerra contra o executivo. Qual o mistério e o segredo que misteriosamente são capazes de tantos milagres? Este é o grande mistério que intriga a todos que gravitam nos corredores palacianos. Só o tempo, ou uma grande rusga, revelará!

*Cláudio Magnavita é diretor de Redação do Correio da Manhã