Coluna Magnavita: Moro, o incoerente

Será que ele pensou em algum minuto no Brasil?

Por Cláudio Magnavita *

Ao contrário do que deseja, Sergio Moro está rasgando a sua biografia. As sociedades latinas, e especialmente as de raízes cristãs, possuem um verdadeiro pavor dos dedos duros, dos traidores, dos delatores, dos alcaguetes que se colocam de forma vã a serviço da polícia ou para renegar o sistema ao qual se serviu. A associação imediata é a figura bíblica do Judas Iscariotes, que entregou Jesus por 30 moedas.

Ao ficar oito horas na Polícia Federal em Curitiba, tentando implodir os alicerces da equação política da qual foi protagonista, ao permitir que um ex-presidente da República ficasse encarcerado no mesmo prédio, deixando o candidato fora da disputa eleitoral, Moro estava apunhalando a sua história.

Ao vazar para os veículos aliados o conteúdo do seu depoimento, tendo primeiro feito um gesto cênico à Justiça, pedindo a sua liberação, Moro se colocou a serviço de um jogo que visa defenestrar o mais rápido possível o presidente Jair Bolsonaro. Sergio Moro se coloca a serviço dos inimigos do Bolsonaro em plena crise pandêmica, com milhares de mortos, milhares de infectados e com a economia de cabeça para baixo.

Será que ele avaliou que a sua popularidade, adquirida na fase que ainda combatia a corrupção, esta a serviço de boa parte das forças que combateu? Será que ele pensou em algum minuto no Brasil?

Será que o vaidoso Moro usou o Jornal Nacional, no horário nobre da maior rede de oposição a Bolsonaro, sem mensurar as consequências do seu gesto?

A percepção é que o juiz de primeira estância de Curitiba perdeu o senso de comedimento. Deixou-se inflar por uma bolha messiânica, que o colocou várias vezes e até de forma confessa, acima da lei e da própria instituição.

Em um ambiente doméstico que só amplificou este estado de embriaguez do divino, com a própria esposa chegando a fundar um instituto com o próprio nome, Instituto Rosângela Moro, o casal entrou em um estado febril que não leva em conta o país e nem o estado de calamidade que atravessamos.

A incoerência entre os atos e o discurso de Moro nesta fase beira a alucinação . Fala que o Presidente que colocar pessoas de sua confiança na Polícia Federal, enquanto o próprio ex-ministro transformou o Ministério da Justiça em uma verdadeira república de Curitiba. Trouxe toda a sua tropa de choque de paranaenses. Não seria isso aparelhar a Polícia Federal e outros órgãos da pasta como a Polícia Rodoviária ?

Alguns fatos merecem reflexão :

1. O advogado de Moro, que o acompanhou no depoimento, é o mesmo dos réus Eduardo Cunha e Oderbrecht? Não há conflito de interesses?

2. O diretor da Polícia Federal que foi o pivô da sua saída foi o mesmo que protelou a liberação de Lula , descumprindo ordem de TRF-4 até a reversão . Este fato foi revelado na coletiva como prova de fidelidade.

3. Sua esposa abre um instituto com o nome dela dias antes da saída do ministério, para angariar doações para entidades filantrópicas e o próprio Moro, ainda como ministro se manifesta na rede social da organização.

4. O depoimento de Curitiba foi vazado para alimentar a mídia e perturbar o cenário político em plena pandemia. Qual o objetivo de manter a fogueira acesa?

5. Ao ser escolhido, pediu a Bolsonaro, na frente do milionário ministro Paulo Guedes , que se algo lhe ocorresse entre sair da magistratura e a posse, que a família não ficasse desamparada. Guedes foi o avalista do sim. Sergio Moro foi ministro, usava jatinho da FAB nos seus deslocamentos, andava com uma frota de carros blindados e promoveu a desobediência continua ao chefe que o nomeou. Por diversas vezes foi insubordinado . O chefe de Sergio Moro é ele e a Solange Moro, é claro

Agora está em Curitiba. Quem mantém o esquema de segurança que ainda o serve e como foi visto na saída da Polícia Federal? Ainda mantém o bônus do cargo?

O que temos hoje é a percepção que a imagem de traidor, de estar cuspindo no prato em que comeu e que a sua vaidade é a força que alimenta as forças da hidra, que não morreu, quando abandonou os princípios da Laja Jato. Hoje a oposição contra Bolsonaro arranjou uma fonte de renovar suas forças: o rancor do ex-juiz. O ódio que não o leva a perceber o grave momento que o Brasil atravessa.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã