Coluna Magnavita: E agora Witzel?

Prisão de Mário Peixoto revela que o operador ganhou ainda mais espaço no governo estadual

Por Cláudio Magnavita*

No último dia 7 de abril, o Correio da Manhã realizou a publicação de um gráfico que retratava a atuação do Mário Peixoto no atual governo. Publicamos de forma inédita um documento que vazou das comunidades de informação.

Nesta edição republicamos, 40 dias depois. Todos os personagens da primeira metade do esquema revelado pelo Correio da Manhã foram presos na manhã desta quinta-feira (14), em uma operação da Polícia Federal, ordenada pela 7ª Vara Federal do Rio.

Na primeira coluna aparecem os empresários Mário e Vinícius Peixoto e o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo. Na segunda coluna, Matheus Ramos Mendes. Todos os quatro levados para a sede da Polícia Federal no Rio.

Na segunda metade, Jonas Lopes, condenado a sete anos e responsável pela delação premiada na qual revela a mesada de R$ 200 mil que a família Peixoto pagava ao TCE. Aparecem ainda Antônio Carlos, ex-presidente do Detran e o secretário (sócio e braço direito de Witzel), Lucas Tristão do Carmo, que advogou para Atrio Rio Serve (empresa do Mário Peixoto) no processo 0054433-22.20.18.8.19.0000.

No quadro seguinte, ocultado por um ponto de interrogação, o personagem que é a fonte de poder pelo Tristão.

Neste esquema faltam alguns nomes, como o do atual secretário de Ciência e Tecnologia, Leo Rodrigues, ligado de forma umbilical a Tristão, que contratou as empresas da família Peixoto por R$ 36 milhões sem licitação. O secretário teve atuação na campanha e conseguiu um lugar de segundo suplente ao Senado na chapa do PSL. Até o último momento, lutou para ser o primeiro suplente incentivado por Peixoto e Witzel, este que o acolheu no seu primeiro escalão.

A situação é mais grave agora do que a atuação de Mário Peixoto nos governos Cabral e Pezão. Ele dividia o espaço com outros fornecedores. Agora foi diferente. Ele tirou a sorte grande ao ser procurado por Tristão para apoiar a candidatura do Wilson Witzel, que morria de inanição financeira no primeiro turno por conta do pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC, como o Correio da Manhã publicou no último dia 13.

Apoiar o azarão foi o maior negócio do atual inquilino da PF. Ele emplacou no segundo turno na frente e a influência e aporte do empresário cresceram.
Em um dos debates, o candidato Eduardo Paes bateu duro, e Witzel sobre este relacionamento misterioso, que teve jantar privado com Mário Peixoto revelado pelo colunista Lauro Jardim, e levou ao ex-juiz revelar que houve até participação de Mário no seu plano de governo.

Um dos aportes pessoais feitos pelo Witzel na sua campanha (R$ 210 mil) foi justificado como luvas de sua participação societária em escritório de advocacia no Espirito Santo. O sócio efetivo do governador, foi o ex-ministro Fabio Medina, que, em declaração ao Correio, afirmou que só fez a quitação do ex-sócio poucos dias antes da posse, ou seja, a fonte do recurso é a sociedade com o Tristão. Esta sociedade foi apontada pela Veja e nunca desmentida.

A pergunta é simples, qual o envolvimento do próprio Witzel como Mário Peixoto? Apenas de fechar os olhos e dar livre trânsito ao patrono da sua campanha?
Como o Correio da Manhã já publicou mais de uma vez, e isso foi testemunhado por integrantes da campanha, todas as necessidades graves de caixa era resolvidas após ligações e idas do Lucas Tristão ao seu cliente.

Ao Ministério Público e a Policia Federal algumas questões precisam de respostas.

1. Se Tristão era advogado de Peixoto e tinha Witzel como sócio da sua carteira de advocacia (informação nunca desmentida), ele também advogou para a Atrio?

2. A relação de uma possível amizade de Witzel e o juiz Marcelo Brettas poderá ter reflexo na inclusão de Lucas Tristão nesta operação?

3. Qual o papel e relação do Leo Rodrigues com os negócios de Mário Peixoto?

4. Qual o efeito de uma delação de Leandro Braga na atual estrutura do Governo Federal?

5. Quais as teias de negócios do Mário Peixoto no Enea, Procon, Faetec, Detran (uma bomba atômica) e agora na área de saúde?

6. Witzel e Tristão tiveram viagens ao exterior sincronizadas com as viagens de Mário Peixoto, como o Correio da Manhã publicou?

O patrono do tempo de vacas magras da campanha de Wilson Witzel e a sua relação com Mario Peixoto, que estourou já na campanha, no cara-a-cara, com o senador Romário e o ex-prefeito Eduardo Paes, pode implodir a credibilidade do governo já atolado pelas denúncias na saúde e por hospitais de campanha fantasmas, que segundo as investigações aguçaram o apetite do grupo que viabilizou o oxigênio financeiro para o primeiro turno.

Confiram o gráfico e observem que o Correio da Manhã foi o único jornal a meter o dedo desta ferida e apontar os principais personagens que estão presos nesta primeira fase da operação Favorito. É o Correio da Manhã sendo o Correio da Manhã com 118 anos de jornalismo.

Uma coisa é certa: o Rio não merece passar por tudo isso de novamente. Um governo novo que ampliou os velhos hábitos que pareciam ter sido expurgados. Resta uma pergunta final. E agora, Witzel?

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã