Coluna Magnavita: Contrato com Helena Witzel dobrou a renda familiar

Pagamento mensal, por três anos, de R$ 15.000,00 é superior a remuneração de um secretário de estado do Rio

Por Cláudio Magnavita*

Na entrevista nesta terça, 26 de maio, à CNN Brasil, o governador Wilson Witzel teve finalmente tempo para falar e responder as perguntas da bancada de entrevistadores.

A emissora teve acesso a copia do contrato da primeira-dama Helena Witzel com uma empresa investigada, um dos motivos da sua inclusão na operação da Polícia Federal.

O governador foi lacônico, disse desconhecer as atividades empresariais da sua esposa, que não controla a sua carteira de clientes e que o valor era modesto.

Quem conhece o casal sabe que é difícil que um não tenha conhecimento do que o outro faz. Moram juntos no Palácio Laranjeiras, Helena é consultada nos assuntos do governo e os dois desenvolvem atividades empresariais juntos desde a época que ele era juiz federal. Chegaram a ter uma empresa de eventos juntos e nas suas palestras, como diretor da Associação dos Magistrados, ele recomendava os serviços da esposa para ações que incorporassem algumas vantagens de remuneração.

Quando assumiu o governo do Rio, Witzel reclamou do salário, quase metade do que ganhava como juiz. O valor bruto é de R$ 19.681,33, com os descontos chega a R$ 16 mil. É claro que nestes proventos estão a residência, alimentação, carros, diárias e segurança. Esta é base da renda familiar, já que o governador não possui aplicações financeiras, não leciona e não recebe direitos autorais.

Um Secretário de Estado ganha 80% da renda do Governador, o vice tem de sobreviver com R$ 12 mil reais liquidos.

Nos bastidores do Palácio da Guanabara, corre a notícia que o contrato para Helena, que por ser uma empresa individual, sem nenhum funcionário, com sede jurídica na sua antiga residência, razão inclusive da visita da Polícia Federal, foi uma oferta do secretário Lucas Tristão. As mesmas fontes informam que Witzel está furioso, já que não foi informado da conexão da empresa com o esquema de Mario Peixoto.

A notícia de um contrato mensal de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), por 36 meses, período equivalente ao saldo de tempo do mandato do Witzel, na pratica dobraria a renda familiar do casal, não teria passado despercebida.

Na mesma entrevista, WW revelou que a esposa continua prestando serviços ao PSC como advogada, que paga os seus contratados com o fundo partidário.

O que não se poderia esperar é que a cópia do contrato, assinado por Alessandro Duarte, sem a assinatura da contratada fosse parar nas mãos da Policia Federal. Apesar de não ser apresentada a cópia com a assinatura de Helena Witzel, os depósitos realizados na sua conta corrente validam as informações e o próprio governador reconheceu na CNN a existência do contrato.

Documentos como estes é que tornaram Lucas Tristão “indemissível”, mesmo quando houve o conflito com a Alerj, revela a mesma fonte do Palácio.

Nesta equação, o governador nega ter sido sócio de Tristão. A Folha de S Paulo, a Veja e o próprio Correio da Manhã sempre apontaram Tristão como provável sócio do Witzel. A sociedade com o ex-ministro Fabio Medina nunca chegou a ser colocada em pratica e não foi a fonte dos R$ 215.000,00 que o próprio Witzel aportou pessoalmente na campanha. Na época, a assessoria informou que o valor era referente a receita de um escritório do Espirito Santo, surgindo ai a conexão de possível sociedade com Lucas Tristão. O valor de R$ 225.000,00 encontrado pela operação em depósitos de Mario Peixoto é muito similar ao da doação do próximo Witzel.

O Governo Witzel, para sobreviver, precisa ser refundado, e a faxina deve incluir todos os portadores de nebulosidade no currículo, começando pelo pastor Everaldo Pereira, alvo de várias investigações e hoje confirmado como patrão da primeira-dama. Na lista, o secretário André Moura, condenado por improbidade administrativa em primeira instância e também alvo de várias investigações pela sua ligação com o ex-deputado Eduardo Cunha. Na mesma lista, Leonardo Rodrigues, secretário de Ciência e Tecnologia, pasta onde Mario Peixoto fez a farra nos órgãos coligados. Rodrigues é ligado à tentativa de emplacar um aplicativo de R$ 10 milhões para orientar a população na pandemia e abortado depois das denúncias do blog do Ruben Berta e publicadas também pelo Correio da Manhã.

Quem fecha a lista é Lucas Tristão, assumidamente amigo de Mario Peixoto, rapaz que se mantem como administrador de uma firma de advocacia – o que é proibido para secretários de estado-, e foi nomeado, sonegando informações, na surdina, conselheiro do CARF, e exonerado por ordem direta de Bolsonaro. Tristão teve a sua ligação com o dono da Atrium confirmada pelo próprio governador na CNN.

Sem a faxina e sem explicar como foi possível tanta bagunça em um ano e cinco meses de Governo, fica difícil acreditar na tese do Witzel de que está sendo vítima de perseguição política. Nesta história toda uma pergunta: por onde andava o Tribunal de Contas do Estado- TCE para que tanta irregularidade ocorresse de forma epidêmica?

 

*Claudio Magnavita é Diretor de Redação do Correio da Manhã