Coluna Magnavita: Delator apontou onde estava a propina

Edmar só tinha R$ 5 mil em casa, os milhões foram indicados por um delator

Por Cláudio Magnavita*

A apreensão de um grande volume de dinheiro pela MP do Rio nesta sexta feira gerou uma série de informações desencontradas e levaram a um festival de equívocos.

As malas e sacolas repletas de nota de R$ 50 e R$ 100 no mesmo estilo de Geddel Vieira deixaram a imprensa louca. Lauro Jardim publicou no blog que teria sido R$ 30 milhões e depois corrigiu para R$ 6 milhões. Disse que a apreensão foi na casa de Edmar Santos em Botafogo.

O RJ TV 2ª Edição afirmou que eram R$ 30 milhões e a CNN Brasil também ficou nos R$ 30 milhões e que teria sido em um escritório de advocacia da Barra.

São duas operações diferentes: a busca na casa do tenente-coronel Edmar Santos em Itaipava e Botafogo (onde ele foi preso) e o dinheiro aprendido foi fruto de outra linha de operação. Com Edmar, só foram encontrados R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

As malas e valores apreendidos foram indicados por um delator e estava em um carro estacionado na Barra, hipótese mais provável de um escritório de advocacia, local não confirmado, por causa de outras divergências.

Tratavam-se de valores hipoteticamente destinados ao tenente-coronel, mas indicado por outra linha de investigação, confirmada posteriormente pela nota oficial emitida pelo Ministério Público.

Na nota, o MP não totaliza a fortuna apreendida, mas ela não chega a dois dígitos. Um estimativa informal é que chegue aos R$ 6 milhões, número apontado pelo Jornal Nacional.

O impacto das imagens das malas e sacolas remetem ao episódio de Geddel Vieira em Salvador. É a parte visível da dinheirama que foi desviada da saúde e que levou à falência o modelo escolhido para os hospitais de campanha. No primeiro pico da pandemia, muitos morreram por não contar com os leitos de UTI contratados.

A sociedade finalmente teve acesso à imagem que faltava, dos maços de dinheiro desviados pela corrupção. Agora o que ocorreu na saúde se tornou visível.

Ao pegar o seu primeiro tubarão, o MP do Rio demonstra finalmente que não fica só com os bagrinhos e que chega até onde a sua alçada permite, secretário de Estado. É um alívio para a sociedade ver que a impunidade deixa de existir para escalões superiores.

A investigação está apenas começando e esta apreensão de valores coloca mais combustível no combate à corrupção.

A cena das malas cruzadas com o noticiário de pessoas morrendo pela covid-19 só reforça o sentimento de crime de guerra, para qual a pena capital é aceita.

Já o tenente-coronel Edmar Santos, sem os seus R$ 5 mil reais, e agora sem as malas e sacolas repletas de maços de dinheiro, foi levado, como a coluna antecipou, para a unidade prisional da Polícia Militar em Niterói onde receberá tratamento VIP, e poderá pensar na hipótese de fazer deleção premiada e ter uma saída honrosa para o seu currículo, entregando os verdadeiros saqueadores do Rio.

Para a imprensa, fica a lição que é melhor esperar e apurar os fatos e não criar uma confusão na cabeça do leitor. Em temo: no fechamento da coluna, a máquina continuavam contando os maços de dinheiro. O valor apurado já daria para comprar 40 respiradores para UTI, sem super faturamento.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã