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Coluna Magnavita: O retorno de André Moura como primeiro-ministro

Por Cláudio Magnavita*

Existe uma velha máxima que no gráfico da vida a curva de dedicação é inversamente oposta a curva de reconhecimento. No governo do ex-juiz Wilson Witzel deve se acrescentar a curva de gratidão, que acaba sendo também se afastando da curva de dedicação.
Nenhum outro ocupante do Palácio Laranjeiras desenvolveu um método refinado de abater os mais fiéis aliados. Todos que se dedicaram de corpo e alma ao projeto original de governo, foram abatidos ou receberam demonstrações profundas de ingratidão.
Não há sensação pior do que a solidão do poder e o governador Witzel foi abatendo um-a-um o seu núcleo íntimo . Entregou a cabeça dos mais próximos, sempre de forma atrasada e inútil. Ficou sozinho.
Não há na política crime maior de sacrificar os mais leais companheiros de forma tardia e desnecessária.
A nomeação de André Moura e o seu retorno à Casa Civil faz parte do “Mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa” do governador Witzel.
A oscilação pendular do nosso governador beira a bi-polaridade. Sempre é cercada de uma impulsividade que nada tem de intuitiva. Witzel demitiu Moura com o mesmo rompante que agora perdeu Cleiton Rodrigues.
Ele sempre está um passo atrás. Entregou a cabeça de Lucas Tristão quando já era tarde. Tirou Zamith em nome de um deslumbrado projeto presidencial.
A volta de André Moura não deve ser interpretada como uma imposição da Alerj ou ainda como um missionário capaz de cooptar deputados.
O segredo para construir uma ponte de relacionamento é respeitar a Alerj, respeitar o espírito de corpo formado pelo deputados e, principalmente, garantir que o impeachment siga com todos os ritos de direito de ampla defesa respeitados.
Moura deverá funcionar como um 1º ministro, cargo que sempre foi da Casa Civil. Garantir a governabilidade, já que muito dela depende da boa vontade da Assembleia Legislativa. Existe uma agenda muito maior do que a simples votação do afastamento.
Para o cargo de gestor é necessário alguém que tenha interlocução com Legislativo. O Witzel afastado na primeira fase o governo terá um substituto interino, que é o vice Cláudio Castro. Ele só será pleno se houver afastamento definitivo, sendo julgado por 5 deputados e 5 desembargadores. O Witzel pode retornar e, para isso, tem que encontrar um governo para chamar de seu. Nesta primeira fase, ainda aguarda-se a posição do STF. A tendência é o presidente do Supremo, Dias Toffoli não julgar o mérito, esperar o regresso da corte em 1º de agosto.
Vamos viver o suspense de semana a semana e o governo não pode parar.
Faltam dois anos e meio de mandato. Está novela deverá durar até o meio do ano. Neste período, é importante que o Estado, com as finanças críticas funcione.
O comportamento ético de Cláudio Castro o faz participar do regresso de André Moura, sem ter a paternidade. Quem assina a nomeação dele é Witzel, o mesmo que assina a exoneração do Cleiton.
Temos um rito a ser cumprindo em plena pandemia e com uma eleição pela frente. Não haveria cenário melhor para uma tempestade perfeita.
Por outro lado, algumas variáveis devem ser levadas em conta. As investigações em curso que envolvem Helena e o governador Witzel, os escândalos da saúde, o pastor da Assembleia de Deus Everaldo Pereira (a reaproximação de Witzel e André Moura ocorreu na reunião da executiva do PSC em Brasília e teve o presidente da legenda como articulador), além de outros escândalos estourando.
A produção de provas da Comissão de Saúde segue a todo vapor e o governador deve rezar ou apelar para a Mãe de Santo Adalgisa para que Lucas Tristão não seja preso. Se isto ocorrer, com a quantidade de rancor quem vem sendo acumulada a delação será entrega pronta, carimbada e com todos os anexos.
A lealdade é um ingrediente básico da política. Na gestão Witzel ela se transformar em elemento raro e o Governador imolando um a um os seus mais leais colaboradores.
Todo este cenário de seis meses de turbulência poderá mudar a partir do STJ, STF e da PGR, juntos poderão considerar a hipótese do domínio do fato e conduzir o chefe do executivo aos mesmos passos do antecessor. Neste caso o vice será pleno e poderá validar a permanência do novo primeiro-ministro e até montar seu próprio governo.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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