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Coluna Magnavita: Deputados comprovam os vínculos da Unir Saúde com a família Vanderler Lima

Advogado Antônio Vanderler de Lima participou de uma oitiva da Comissão de Saúde e Covid-19 da Alerj nesta quarta, dia 29

Por: Claudio Magnavita*

Foi difícil não segurar o riso na Comissão de Saúde e da Covid 19 na manhã desta quarta-feira, 29 de julho, na transmissão da TV Alerj da oitiva do advogado Antônio Vanderler de Lima. Cearense, com jeito meio matuto e até naif, o advogado estava muito a vontade e foi exatamente o Vanderler que todo o seu ciclo de amizade conhece.

Não de intimidou com as câmaras e sem nenhum pudor pintou uma realidade no seu próprio ponto de vista, muitas vezes omitindo, sendo vago e principalmente impreciso.

Como um velho matreiro e dono de um tirocínio elogioso, ele driblou as perguntas mais difíceis e até estava convencendo os deputados que não haveria razão de estar ali. Negou tudo. Não conhece a Unir Saúde, criou um hiato de tempo nas visitas ao governador no Palácio até que a deputada Enfermeira Rejane lhe deu o xeque mate. Apontou uma real conexão entre ele e Unir Saúde, através do seu filho homônimo, que aparece em vários processos como advogado da organização social.

Ele era convidado, e poderia não ter ido, e se houvesse qualquer relação com a Unir no CNPJ do seu escritório, poderia alegar a proteção legal que une o advogado às confidencias de um cliente.

Como um personagem que parece ter saltado da série "Cine Holliúdy", Vandeler acabou revelando que frequenta realmente os palácios Guanabara e Laranjeiras, ao ser lembrado de forma direta pela deputada Martha Rocha que todas as entradas são registradas, filmadas, passam as vezes até por reconhecimento facial

“Eu ligo para o gabinete e pergunto... Governador posso passar ai? As vezes eu passo e espero um pouco e sempre ele me atende...”, afirmou mostrando seu livre trânsito. Só um palaciano informou tê-lo visto umas 20 vezes este ano e que, de repente, ele sumiu.

Questionado pelos deputados se o seu filho, que trabalha para Unir, conhecia o governador, ele não pestanejou: “Conhece sim, eu o apresentei quando o governado esteve na minha casa na festa de aniversário” afirmou sem pudor e desmontou o deputado Luiz Paulo, quando afirmou materialmente que “queria ter o poder que me atribuem, a fortuna que dizem que tenho e as mulheres que a minha pensa que eu tenho!”. Na bucha, o deputado retrucou: “a minha não pensa isso de mim, não!”

Risos a parte, ficou claro que a função do advogado, tratado pelo deputado Dionisio Lins como “Grande Jurista”, já que lhe deu a Medalha Tiradentes, é de unir pontas. Fazer as conexões entre os amigos e servir de elo de ligação em uma corte que reúne magistrados de diferentes níveis.

Nega ser amigo da Marianna Fux e do ministro Luiz Fux. Aliás, ele usava uma camisa na oitiva no mesmo estilo do futuro presidente do STF. “Como eu sou Paraíba, não tenho pescoço, uso o colarinho diferente para ressaltar a cabeça” afirma este cearense boa praça, com olhar aguçado, igual aos gaviões da caatinga, que não dispensam uma presa ou uma boa oportunidade de um bom negócio.

Na prática, Vanderler não perde a oportunidade para cuidar dos amigos. Indicou um ex-juiz do Trabalho para diretoria jurídica da Cedae. “Este eu indiquei mesmo. Era amigo meu e do Witzel e estava aposentado. Refere-se ao ex-juiz Jose Sabá Filho, que deixou a função em 11 de setembro de 2019, após desentendimento com Helio Cabral.

Jogam nas suas costas a indicação da sucessora de Sabá, Theresa Cristina Gonçalves Pantoja. “Essa moça não fui eu... nem a conheço direito” afirmou o advogado.

Ele alega fazer parte da turma que se reunia no Iate todas as terças-feiras e confessa ter ido algumas vezes na “turma do charuto”, uma confraria que reunia desembargadores e juízes no palácio às quintas-feiras, para fumar charutos coíba (100 dólares cada) e bons vinhos. “Depois das confusões, a turma parou de realizar”, lamenta.

Apesar de negar a existência do vínculo familiar entre a Unir e a família, Vanderler de Lima só reforça a notícia publicada pelo Correio da Manhã de sua participação em solucionar o problema do cliente do seu filho.

Vanderler teria prometido também resolver isso em outras instâncias. É só pegar a lista de presença de desembargadores e ministros nas suas festas na Barra, para saber o seu poder de influência.

Solidário ao amigo, ele cometeu um ato falho ao tentar atribuir ao processo de impeachment a uma perseguição do seu amigo governador. Esqueceu que na bancada estava o autor do requerimento, o deputado Luis Paulo, que reagiu com altivez.

O deputado Renan Ferreira, relator da Comissão, mostrou ter feito o dever de casa. Permitiu que o convidado fizesse uma pintura 100% naif da sua visão de realidade e foi duro. Principalmente quando, com auxílio da Martha Rocha, que era a primeira vez que ele sabia que o filho tinha relação com a Unir. Para uma águia, ou melhor, para um carcará como ele, foi uma afirmação difícil de engolir. Como era uma oitiva de comissão e sem a força de uma CPI, o risco de perjúrio fica diminuindo.

Ficou claro que o governador tem um amigo leal, defensor e que não o deixará órfão nesta questão da Unir. “Neste caso, ele agiu como um magistrado e julgou dentro de seu profundo conhecimento jurídico”, afirmou na sua conversa com o Correio da Manhã. Lembrado pelo jornal que era exatamente por julgar como magistrado que ele deveria ter se considerado impedido, já que dois dias antes do segundo turno recebeu uma doação de R$ 75.000,00 do mandachuva da organização social, o astuto advogado tentou contra-argumentar: “o Dr Bruno faz parte do contrato social da Unir? Ele é sócio?”.

Depois da doação do dirigente da Unir, foi o próprio Vanderler quem doou mais R$ 40.000,00, também antes do segundo turno. Novamente, a organização social entrelaçou o caminho deste boa praça, que une as pontas do mundo jurídico com a magistratura.

*Claudio Magnavita é diretor de Redação do Correio da Manhã

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