Coluna Magnavita: Especialista em guerra cibernética e criptografia atua no GSI do Estado

Reportagem revela a existência de pedidos de compras usados para captura de dados

Por: Cláudio Magnavita*

As revelações do RJ 2ª Edição, da TV Globo, sobre o processo de compras pelo Gabinete de Segurança Institucional do Estado de itens de dedicados à inteligência foi um duro golpe no clima de pacificação que se tentava instalar.

A surpresa é maior porque a lista não incluía apenas instrumentos de espionagem, como detectores de escutas, mas itens de capturas de informações e dados, como crachás que gravam conversas ambientes.

Há tempos, as séries de reportagens do jornalismo da Globo estão merecendo aplausos pela independência e profundidade em tratar assuntos delicados envolvendo o estado. Especialmente o comando profissional de André Dias e, no quadro de repórteres, uma atenção ao jornalista Pedro Figueiredo, com sua impressionante capacidade de traduzir para o telespectador detalhes e entrelinhas da administração estadual. Esta matéria dos Arapongas, com a produção de Guilherme Boisson e edição Bruno Sponchiado e Diego Alanz, é de uma clareza absoluta. Para o bom jornalismo, é uma lufada de esperança ver estes jovens talentos em ação.

A matéria é demolidora e a ela se soma a revelação da atuação de alguns nomes lotados no GSI, do quadro da marinha, como William Augusto Rodrigues de Souza, um especialista em criptografia, que era Assessor Especial, com status de Vice Presidente da Proderj neste governo, e nomeado no dia 1º de abril (sic) superintendente, símbolo DG, da Superintendência de Tecnologia da Informação, da Subsecretaria de Gestão Administrativa e Avaliação de Cenários, do Gabinete de Segurança Institucional.

O seu currículo revela que atuou como Chefe da Divisão de Criptologia e Avaliação de Segurança em Sistemas do Centro de Análises de Sistemas Navais, Coordenador-Geral do Laboratório de Técnicas Criptográficas Assimétricas da Rede Nacional de Criptografia e Segurança da Informação, entre outras coisas. Ele faz parte da equipe do Contra-Almirante Jose Luiz Corrêa da Silva.

No Palácio Guanabara, os computadores da Casa Civil, por exemplo, não são ligados à Proderj e sempre houve a suspeita, tanto no prédio principal, como no anexo, de uma vigilância absoluta. Muitos usam só o 4G do celular e nem entram na rede de hi-fi.

O quadro do GSI tem como origem a Polícia Militar e a coleta de dados virou quase uma paranoia. Até a confirmação em eventos são solicitados dados do participante, como RG e CPF.

Uma das cisões com a Alerj partiu da notícia da existência de dossiês contra os 70 deputados da casa, assunto que ganha nova dimensão com o vazamento do relatório de compras enviadas ao TCE.
O universo de pesquisados não incluiria somente membros do próprio Governo, do Legislativo, do Judiciário e do MP, como também de personalidades da vida empresarial, dirigentes municipais, jornalistas, dirigentes de veículos de comunicação e de grandes empresas. Há algum tempo, ex-membros do primeiro escalão que saíram recentemente já sinalizavam a possibilidade da existência dessas rotinas.

Existe a suspeita de compartilhamento de dados com a Abin, em Brasília, apesar do conflito do governador com membros da família Bolsonaro residentes no Rio.

A Assessoria Comunicação da Marinha já recebeu pedido de informação sobre os termos de cessão de William Augusto Rodrigues de Souza ao Governo do Rio.

Deverão ser investigadas também as compras de equipamentos de segurança pela Secretaria de Administração Penitenciária que poderiam ser cedidos, mediante comodato, para o uso do GSI.

O sistema de arapongagem incluia também o monitoramento de importantes presos do sistema de carceragem estadual.

O sistema de informação e inteligência, porém, foi míope em não detectar os estranhos movimentos relacionados às fraudes da saúde no atual governo, e nem em alertar o Governador às perigosas conexões estabelecidas no seu gabinete.

O Correio da Manhã revelou, no dia 03 de julho, as negociações do Governo do Estado para a aquisição do equipamento israelense Pegassus, que, no Brasil, além da Abin e do Ministério de Justiça, só o Governo de Goiás permitirá. O equipamento permite a gravação das conversas no WhatsApp, consideradas, até então, invioláveis, por serem criptografaras. Uma especialidade do novo Superintendente do GSI estadual.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã