Coluna Magnavita: O porquê Crivella apanha e o porquê Witzel é despido

O leitor/eleitor já identifica quem se distancia do fatos

Por Cláudio Magnavita *

A aproximação das eleições antecipa um conflito histórico entre Crivella e as Organizações Globo. A guerra é muito maior. É o embate da Igreja Universal com a sua TV Record com a TV Globo. É este o verdadeiro cenário da disputa.

Crivella é a vitrine a ser apedrejada. É o boi de piranha a ser devorado. Tudo foi feito para ele não ser eleito. Ele chegou lá por uma conjunção eleitoral que lhe deu a vitória nas urnas.
A onda que agora começa novamente a crucificar o candidato é fruto de uma surpreendente recuperação eleitoral. A oposição esperava que Marcelo Crivella chegasse na eleição morto eleitoralmente. Não se elegeria mais nem para síndico.

O que aconteceu foi um reconhecimento ao trabalho na pandemia . Exatamente o maior alvo da Globo, virou o seu ativo. A compra premonitória de equipamentos da China chegou a ser comparada à Arca de Noé. Ele se preparou para a crise pandêmica, comprando a prazo tudo que passou a ser vendido com sobrepreço . Acertou ou foi iluminado. O que interessa é que houve equipamento não só para a população do Rio, como também para emprestar para outros municípios e para o Estado.

A pesquisa que publicamos hoje do Antonio Lavareda revela isso. A sua aprovação na pandemia é superior ao atolado no pântano da corrupção, Wilson Witzel.

Quando o nome do Crivella é associado ao do presidente Jair Bolsonaro, ele passa na frente de Eduardo Paes.

O curioso é que o “novo escândalo” dos semi-milicianos nas portas dos hospitais, impedindo o trabalho dos repórteres sensibilizou a muitos. Quem é louco em se colocar contra a liberdade de imprensa?

O próprio Correio da Manhã foi vítima de várias ondas de censura nos seus 119 anos. Liberdade de imprensa é o maior baluarte do Estado de Direito.

O próprio Witzel sucumbe agora por uma imprensa livre que revelou os seus mal feitos e do pastor Everaldo. O seu véu de moralidade foi desnudado.

Ao retornar em setembro do ano passado, o próprio Correio da Manhã foi tachado de rancoroso e injusto com o governador. Os seus admiradores criticavam as nossas manchetes, as revelações sobre Everaldo e várias teorias de conspiração eram emanadas. O jornal queria dinheiro, ou alguém financiava o jornal para atacá-lo. Foram dezenas de manchetes e reportagens envolvendo personagens que hoje ocupam as páginas policiais. O que fizemos foi puro jornalismo . Chegamos a rejeitar a tentativa de compra publicitária de uma sobrecapa do jornal, como o Estado fez com jornais concorrentes. Não compreendiam que o jornal era apenas feito por jornalistas, que fazem parte de uma atividade que reúne vários veículos importantes títulos, como Jornal da Barra, Jornal de Turismo, Jornal de Teatro e a revista O Cruzeiro.

O Correio da Manhã pode se dar ao luxo de dizer não à compra da sua capa pelo Estado e a anunciantes como a Refit (Manguinhos) e outros de origem duvidosas. Uma regra de compliance mínima para quem quer jornalismo independente.

Mas o que isso tem haver com o que ocorre com a Globo e o Crivella? Tem e muito . O nosso embate nunca foi contra o Witzel. Foi contra a máquina corrupta que se montava com Mario Peixoto, pastor Everaldo, Lucas Tristao, Édson Torres, entre outros sanguessugas do Estado.

Na campanha de 2018, uma das nossas capas do co-irmão Jornal da Barra estampava Everaldo e dizia: “Ele pode ser o novo dono do Rio”.

Já o que a Globo tem feito com Crivella é bem diferente. Existe uma briga empresarial por trás. Não é uma questão ideológica. É uma questão de inimigos mortais.

Crivella errou feio ao combater a Globo, combatendo a Globo com os mesmos excessos que ela cometeu três anos a fio nas portas dos hospitais. Errou mais ainda ao ter um grupo financiado com dinheiro público. Se os seus guardiões fossem voluntários em sua defesa, e não mercenários, seria até compreensível. Estariam irritados não com o jornalismo, mas com uma campanha sistemática que a própria população começou a rejeitar.

O Bom Dia Rio em uma roda empresarial passou a ser chamado de “Mal Dia Rio”. Era só gente na porta dos hospitais reclamando.

Não houve nenhuma entidade protestando contra a campanha desumana que o prefeito sofreu da Globo. Ele apanhou e muito. A sua gestão foi revirada de fio a pavio. Agora o “grande escândalo”, que ocupa de forma desproporcional o noticiário de todos os telejornais, e que na terça-feira foi reprisado duas vezes no Bom Dia Rio, depois de ser exibido no Jornal Nacional e no Jornal da Globo, demonstrou a disposição de explodir o prefeito por ter, no desespero, fechado os olhos para combater os excessos da própria emissora. Até correspondentes internacionais foram pautados no assunto e entidades estrangeiras foram provocadas. Quem seria contra a liberdade de imprensa? Só não falaram dos excessos que durante anos foram cometidos em nome de um jornalismo de oposição.

Ao se colocar como vítima de ataques, a Globo escreve um novo capítulo. A população e os eleitores não esquecem do seu papel de algoz. Foi assim com Leonel Brizola e tem sido assim com o presidente Bolsonaro.

O mau jornalismo não se combate com gritos ou obstruindo pautas. A população está saturada de ser manipulada por informações diferentes dos fatos.

Nesta cruzada, a reação da Globo terá um efeito de consolidar a união das suas duas vítimas prediletas: Bolsonaro e Crivella.

Os políticos precisam aprender a confiar no julgamento dos eleitores e dos leitores/telespectadores. O mau jornalismo ou a fake-news com sobrenomes sangra a audiência e os índices de leitura.

A história confirma os fatos, da mesma forma que o sucesso das urnas confirma a sapiência do eleitor/leitor.

Um ano depois de o Correio da Manhã apontar, muitas vezes sozinho, o que ocorria no Governo Witzel, e que os concorrentes por interesses comerciais e políticos não queriam acreditar, temos a satisfação de ver todos os órgãos de impressa validando o que publicamos. Uma demonstração que jornalismo de verdade se faz com decência e fatos. Entra para a história quem esteve atrelado a verdade.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã