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Coluna Magnavita: Sydney Pereira, uma despedida digna e iluminada pela Zoé, a super-mãe

Por Cláudio Magnavita*

Existem coisas na vida que só o plano espiritual explica. Neste 07 de outubro de 2020, fui me despedir do meu amigo e irmão Sydney Pereira, na cidade de Miguel Pereira (é lógico que ele escolheu uma cidade que tivesse o seu sobrenome). Sydney faleceu nos primeiros minutos do dia 7, uma data que sempre foi muito especial para ele, pois era o aniversário da sua mãe e amiga Zoé.

O ano tem 365 dias e sua passagem ocorre exatamente nesta data. Para compreender a “coincidência “ ou sincronismo espiritual é preciso revelar alguns fatos.

O grande homem da noite, do marketing e inventor da figura do promoter na sociedade carioca e paulista era filho único. Tinha uma mãe muito especial e amiga. Não foram poucas as vezes que no Chez Castel, no Palace ou no Hippopotamus, aquele homenzarrão alto e grande estava acompanhando de uma senhoria elegante e franzina. Essa era a Zoé.

Sydney Alves Pereira nasceu em 1942 e começou cedo na publicidade. Trabalhou em São Paulo e cuidou de grandes clientes, como a Rhodia. Foi adotado pelo casal Laurinha e Abelardo Figueiredo e passou a ser parte de uma família que incluía Nicette Bruno e Paulo Goulart. Sempre foi bem vestido e antenado com a moda masculina.

O seu pai Jorge, e que faleceu cedo, era May, sobrenome inglês do qual se orgulhava e utilizou quando tinha uma coluna social diária no The Brazilian Post, um jornal inglês que circulou na década de 1990.

Em São Paulo, ele conhecia todos formadores de opinião: Jô Clemente, Beth Szafir, Carlos Armando, Amaury Jr e centenas de outros nomes. Lá também residia a sua eterna noiva, Vera Traversa.

Ricardo e Gisela Amaral o colocaram à frente do Hippo e deram a chave do apartamento deles para Sydney morar. Foi um período em que a noite paulistana chegava a causar inveja aos cariocas. E Sydney era o anfitrião.

Nesse glamour, a Zoé era seu porto seguro. Uma família de dois. Sydney não teve filhos e não tinha irmãos biológicos, embora tivesse criado laços fraternos com o primo Luiz Carlos, filho da Yara.

No Rio, Sydney pilotou o Castel, do Rio Palace, que depois virou Palace Club. Reinventou o baile do Copa, trazendo o Zeca Marques para a decoração. Como bom carioca, aqui estavam sua turma e sua casa.

Uma alma boa da qual todos gostavam. Animava qualquer festa e tinha o dom de espantar o baixo astral por onde passava. Ele somava, unia a pessoas e as conectavas. Foi o Santo Antônio de muitos casamentos.

Esteve na Bahia para comandar o Hippo, e, é lógico, que Salvador nunca mais foi a mesma. Naqueles loucos anos 1980, ele estreou o quadro local do TV Mulher, programa da Globo apresentado nacionalmente pela Marília Gabriela (outra paixão de Mr Pereira ), dividindo a bancada com a inesquecível Regina Coeli Vilalva. Fez amizade também com Michael Koellreutter, Magda e Heitor Reis. Foi nessa época que ficamos amigos. A vida nos aproximou ainda mais em São Paulo e, depois, no Rio.

Esses tempos não se repetem mais. O mundo foi ficando chato. As pessoas com medo de sair e badalar, passando a se trancar em casa.

Na virada do milênio, quando as coisas começaram a ficar tristes, Sydney se reinventou. Criou sua griffe masculina e passou a ser produtor associado de musicais. Ajudou a lançar o “Cole Porter - Ele Nunca Disse que me Amava” e fez o figurino masculino do musical “Constellation”. No mundo mágico do teatro, reencontrou o glamour dos anos 80 (e parte dos 90).

Assinou as estreias mais badaladas e colocou a sociedade do Rio no teatro. Adorava e pensava no “Dolce Vita”, um musical sobre a época de ouro das discos.

Todo 7 de outubro, aniversário da Zoé, Sidney festejava a data como se ela estivesse entre nós. Iluminava um belo retrato da Supermãe, como ele a costumava chamar, e orava até chorar. A Hildegard Angel, Christine Niemeyer e o Jorge Delmas, amigos confidentes, são testemunhas desta devoção pela figura materna.

Nos últimos anos, o mundo foi ficando tão chato e o andar de cima tão glamuroso, que Sydney começou a desistir de viver. Foi se recolhendo e encolhendo.

Aos poucos, deixou de interagir. Encontrou dignidade nesta fase final, um lar com uma cuidadora anjo da guarda, que atendia suas vontades, e o carinho e assistência das primas Ana e Cristina. Gostava de queijo do reino, de biscoitinhos e não se desgrudava da televisão.

Há alguns dias, sofreu um leve AVC, perdendo parte dos movimentos, tendo risco de ficar com sequelas. Levado imediatamente para o hospital, na noite de 6 de outubro, sua pulsação começou e diminuir lentamente. Sem dor, sem agonia, apenas diminuindo. Exatamente nos primeiros minutos do dia sete, da Santa Zoé, ele partiu.

A sensação é que ela veio exatamente naquela data que os unia, em um túnel de luz, buscar o filho e levá-lo deste mundo chato e sem charme. No outro lado, foi recebido pela tia Yara, por Gisele, Zózimo , Carlos Armando, Regina Coeli e por Micha...e muitos outros queridos. E já chegou dando ordem. Como o céu está cheios de DJs fantásticos já foi dizendo ... “Fora baixo astral , vamos festejar. O melhor da festa está começando agora”.

Em tempo. Ele partiu com 78 anos e teve um enterro digno, com o carinho dos primos Luiz Carlos, Ana e Cristina; do Pablo, representando os Pereiras da família paterna; e Silvania, a cuidadora anjo da guarda. Com uma linda coroa de flores, um caixão decente, velas, foi um velório sem lamúrias. Não deixou dívidas e até as despesas do seu funeral saíram da sua fonte de renda. Partiu deixando saudades e sem incomodar ou ser um peso para ninguém. Bem no seu estilo, que evitava sempre incomodar os amigos.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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