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‘Sou uma opção sensata’

Por Cláudio Magnavita, Affonso Nunes e Nelson Vasconcelos 

A os 36 anos, a carioca - de Jacarepaguá - Mariana Ribas tem seu nome confirmado na briga pela Prefeitura do Rio em 2020. Ela conhece a máquina municipal. Entre idas e vidas, trabalhou 16 anos em diversos cargos públicos da cidade - e chegou a ser secretária de Cultura no governo Marcelo Crivella. Ficou lá seis meses e resolveu sair, em agosto passado, porque não gostou do que viu - e foi assim que decidiu candidatar-se. Flamenguista (“Por que você acha que estou tão feliz?”), Mariana acredita que o grande problema da cidade é a falta de gestão. Ela bate reiteradas vezes nessa tecla, seguindo a linha do governador de São Paulo, João Doria, exemplo para o seu partido, o PSDB. Se eleita, será a primeira mulher a ocupar o principal cargo na Prefeitura do Rio - marco importante para a filha de mãe solteira, criada pelos avós maternos e que estudou em escolas públicas até formar-se em jornalismo. Nesta entrevista, Mariana Ribas abre a série de conversas do CORREIO DA MANHÃ com candidatos a prefeito do Rio.

CORREIO DA MANHÃ: Por que ser pré-candidata à prefeitura do Rio?

MARIANA RIBAS: Bom, primeiro porque estou há 16 anos trabalhando na administração pública e, quando passei pela última vez pela Prefeitura, foram seis meses em que vi que a situação está bastante complicada. Entendi que agora a minha participação tem que ser mais efetiva. Como pré-candidata de fato, consigo mudar alguma coisa e fazer a diferença para a cidade.

Será que o PSDB vai conquistar o coração do povo carioca. Como é que você vê isso?

Bom, o PSDB no Rio precisava passar por uma transformação. A gente não tem deputado federal, tem três vereadores, e estou disposta a ajudar o partido a assumir o papel de protagonismo aqui no Rio, como tem em São Paulo, e nem estou preocupada com a quantidade, mas com a qualidade de nossos gestores. Isso vai fazer diferença, e a gente pode trazer o modelo que existe hoje em São Paulo aqui para o Rio, também com bons quadros.

No modelo do governador de São Paulo, João Doria?

Sim. Participei de uma reunião do secretariado com ele e fiquei bastante impressionada. Foi crucial para eu bater o martelo e dizer: “Caramba, é isso o que eu quero!” E é isso que acho que as prefeituras precisam, de alguém de gestão, independentemente de você ter passado ou não pela iniciativa privada. 

Se eleita, você será a primeira mulher na Prefeitura do Rio.

Isso seria lindo!

E a mais nova também...

Sim. A Prefeitura precisa de uma mulher. As mulheres estão em um movimento muito bacana de ocupar postos de liderança dentro das empresas.

Como vê a formação de uma base política, caso eleita?

O mais importante é a gente ter pessoas dentro da equipe da Prefeitura capazes de executar, ou seja, capazes de estarem sentados ali naquelas cadeiras, independente de elas serem de indicações políticas ou não, a gente precisa ter gente boa sentada lá.

Como é que você compara o que conhecia da Prefeitura e o que você está vendo hoje?

Sinto falta de liderança neste momento. O Rio está em uma situação muito delicada, com uma crise instaurada bastante grave, e se você não tem um líder dentro desse processo, juntando as pessoas e dizendo qual é a direção que os rumos tem que tomar, dificilmente as coisas dão certo. Você tem na nossa Prefeitura mais de 35 cargos entre administração direta, secretarias, empresas públicas, autarquias e fundações. Dificilmente uma empresa privada, por exemplo, tem mais de 35 diretores para trabalhar, então você tem uma estrutura muito bacana, dá para montar uma equipe legal e fazer com que a máquina funcione, e isso não está acontecendo.

Na gestão do Eduardo Paes, de que você participou, a máquina era até maior em termos de secretarias.

A máquina era maior, mas acho que eficiência e eficácia podem ser alcançadas com a equipe que a gente tem hoje na Prefeitura. Se você tem uma empresa com 200 pessoas e simplesmente espera que as coisas aconteçam, elas não vão acontecer.

Quais suas metas? 

Primeiro a gente precisa fazer um diagnóstico muito preciso da situação do orçamento da Prefeitura, né? A gente tem R$ 30 bilhões na Lei Orçamentária Anual para esse ano, e a expectativa tem sido de que a gente não vai conseguir nem R$ 28 bilhões dessa receita estimada. E o que acontece quando não arrecada aquilo que precisa gastar? Você tem o orçamento, mas não tem o financeiro pra fazer os pagamentos e as liquidações. E é por isso que a gente tem aí mais ou menos três meses de atraso para alguns profissionais de saúde hoje. Primeiro a gente tem que trabalhar com a questão da eficácia e da eficiência. O que que a gente tem? Como é que a gente tá usando esse orçamento? A gente consegue melhorar a utilização desses recursos públicos? E aí vou usar a área da saúde como exemplo. Porque a gente tem, desde a gestão de medicamentos, por exemplo, até equipamentos e aos profissionais que foram contratados, então a gente está falando de dinheiro público e tem que trabalhar com o que a gente tem, senão a saúde vira um saco sem fundo. Se você não tem gestão nem planejamento estratégico, e não cuida principalmente da atenção primária, ou seja, está cuidando da saúde do cidadão, em vez de cuidar da doença dele, trabalhando com diagnóstico e prevenção, esse dinheiro vai te custar mais caro lá na frente. E a Secretaria de Fazenda tem que estar sempre muito empenhada em melhorar as receitas do município, onde houver possibilidade de melhora, claro.

Como você se coloca num clima de polarização entre Crivella e Freixo que deve ocorrer?

Olha, me coloco como a opção sensata. Acredito que essa polarização pode diminuir, até porque a polarização não resolve problema de ninguém. Uma coisa é a campanha, em que você pode escolher com quem irá trabalhar, quem é o seu público-alvo, estrategicamente quem pode ser trazido para perto de você... Mas quando está governando, você governa para todo mundo. A gente precisa respeitar as pessoas que no Rio, e o que elas precisam não é de polarização. Precisam de gestão. As pessoas precisam que a cidade funcione.

Você falou em parceria pública e privada, e nós temos o caso da concessionária Lamsa, que tem uns dos pedágios urbanos mais caros do mundo, que é R$ 15. Você como prefeita também abraça essa questão de rever esse pedágio urbano?

Com certeza. Isso é unanimidade. Não há ninguém, a não ser a Lamsa, que concorde que esse pedágio é justo. Mas existe um contrato. A melhor maneira de resolver este problema é judicializando ou superar no âmbito administrativo. Quebrar as cancelas não adiantou nada. 

Outro ponto primordial para o carioca é a segurança. Você é favorável a armar a Guarda Municipal?

Sou favorável ao armamento, mas a gente tem que fazer isso de maneira muito responsável. Temos que capacitar bem e formar os nossos agentes. Essa discussão já foi feita em 2017, e existe agora lei orgânica para permitir o armamento da Guarda. A gente tem que fazer com que a Guarda seja respeitada. Isso é muito importante para todas as carreiras, para os professores, para os guardas e para os profissionais de saúde. A partir do momento que são respeitados, eles começam a trabalhar de maneira diferente, e estão juntos com você nessa liderança. Não dá para fazer uma gestão e deixar os funcionários públicos de lado. E além de capacitar, a gente precisa dar condições de trabalho para eles.

Como será a sua relação com o presidente Bolsonaro?

A melhor possível. Primeiro porque o Rio precisa de recursos. É inadmissível que o Rio não receba recursos hoje. A minha relação com todo mundo vai ser a melhor possível.

O governador acaba de lançar uma pré-candidata de seu desejo, uma juíza que tem o perfil muito próximo do seu. Você acha que vai gerar uma reação à sua candidatura?

Acho ótimo. Quanto mais mulheres, melhor.

Você falou rapidamente sobre a questão da saúde. Como se reconstrói o sistema de saúde de uma cidade como o Rio?

Reconstruir o sistema de saúde com esse desmonte que vem sendo feito é bastante difícil, mas o foco é o seguinte: atenção primária, cuidar da saúde das pessoas, clínica da família, médico da família, agentes que são da própria comunidade condicionadas para fazer aquele trabalho ali, ou seja, para fazer um trabalho de prevenção mais forte para você economizar lá na frente. Inclusive, nas próprias escolas. Saúde e educação têm que caminhar juntas. 

Vamos fazer um pinga-fogo para encerrar.

Vamos. Meu primeiro pinga -fogo da vida (risos)!

Marcelo Crivella?

Vou dizer uma frase: ele para mim é muito bonzinho, mas não para ser prefeito.

Barra da Tijuca?

Bairro que adotei de coração.

Terceira idade?

A gente tem que conversar com as pessoas mais velhas e entender qual é a visão delas a respeito da cidade do Rio, e quais são os principais problemas que elas enfrentam em relação a mobilidade e lazer.

Rio, capital cultural?

O Rio precisa reassumir o protagonismo porque a gente é, sim, a capital cultural do país. Essa é a nossa vocação, junto com o turismo e com o audiovisual. Estou falando de geração de emprego, geração de receita, postos de trabalho, aquilo que realmente tem de vocação tem que ser levado em conta. Ou a gente trabalha com foco no turismo e na segurança para a gente melhorar o número de turistas que hoje vêm para o Rio, ou a gente vai perder aí uma das principais oportunidades que a gente tem.

Ser carioca?

Ser carioca é a coisa mais maravilhosa do mundo. Não conheço todas as cidades do mundo, mas tenho convicção de que a nossa é a mais bonita. Sou apaixonada pelo Rio, e esse é um dos motivos também que me fizeram topar essa jornada, e acredito que vai dar certo.

 

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