César Maia, do DEM, apresenta projeto para super salário de R$ 35,462,27 para o Prefeito que será eleito domingo
Por Cláudio Magnavita*
Às vésperas de um segundo turno, no qual o favorito das pesquisas é da mesma legenda, fica difícil para o autor do projeto lei 2004/2020, o vereador e ex-prefeito César Maia, do DEM, o mesmo partido do candidato Eduardo Paes, justificar que a sua iniciativa não é direcionada para beneficiar o provável prefeito correligionário.
O projeto passa o salário do Prefeito a ser empossado em 01 de janeiro para R$ 35.462,27. Valor 30% superior ao de Governador de Estado e maior do que recebido pelo Presidente da República.
A medida ocorre exatamente no dia em que o Presidente da República comunica à nação que o salário mínimo não terá aumento em 2021 devido à pandemia e à crise econômica que ela causou. O trabalhador vai continuar com um mínimo de R$ 1.045,00, e o prefeito do Rio vai ganhar 35 vezes mais?
Qual a lógica deste projeto ser apresentado nas vésperas de uma eleição no qual a onda do "já ganhou" contamina a cidade. É bondade ou uma maldade do Cesar Maia com a sua cria, que virou desafeto e agora voltaram a andar juntos?
Este pedido para colocar o salário de Prefeito entre os mais altos do país, em plena pandemia e crise econômica planetária é um absurdo. Desafia qualquer lógica e sinaliza perigosamente uma falta de pudor e compreensão do momento que o mundo e o Rio vivem.
Eduardo Paes concordou com este projeto? A câmara vai aprová-lo em regime de urgência, já que o seu presidente já trata o candidato do DEM como se prefeito eleito fosse?
Esta imoralidade merece ser rechaçada com veemência. É uma perigosa sinalização sobre o trato da austeridade e da coisa pública que esperamos de uma gestão que assume em pleno agravamento da pandemia.
Nos últimos meses, o atual Prefeito Marcelo Crivella reduziu a sua remuneração e do seu secretariado em até 50%.
Sendo Cesar Maia a estrela do mesmo partido que Paes concorre, com o agravante de ser um ex-prefeito, este projeto de lei não deixa de estar conectado diretamente com os interesses de Eduardo Paes, que deveria, de forma emergencial, rechaçar esta iniciativa, talvez um dos maiores erros políticos cometidos nesta campanha, que tinha tudo para ser um passeio eleitoral.
O salário de Prefeito do Rio é o teto para vários cargos na administração pública. Ao passar para R$ 35.462,27 vai gerar um efeito cascata na Prefeitura e abre uma justificativa para que os vereadores também reajustem suas remunerações para a próxima legislatura.
Uma proposta inoportuna, um escárnio com o trabalhador, que pode ser legal, se aprovada na Câmara, mas nunca deixará de ser imoral pelo momento pandêmico que vivemos. É sem dúvida um péssimo sinal para 2021.
*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã
