A Secretaria de (Des)Governo do Planalto e a prostituição na política

Por Cláudio Magnavita*

Neste embate provocado pelo ministro da Secretaria de (Des)Governo, Luiz Eduardo Ramos, e o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, só há um perdedor: o presidente Jair Bolsonaro.
Ramos tem utilizado a distribuição de cargos como ferramenta principal para a conquista de apoio. Não há uma estratégia política em curso nem o alinhamento em torno de uma agenda para o país. É a política do 'toma lá, da cá', que reedita na pasta de Ramos as mesmas práticas do ex-ministro Gedel Vieira no governo Temer.

O ministro, que atuou no Congresso como assessor parlamentar do Exército, aprendeu, com Elizeu Padilha, Henrique Eduardo Alves, Moreira Franco e Michel Temer, a prática de balcão de negócios - que torna artificial a conquista de apoio e para o governo um tipo de fidelidade só encontrada nas casas de baixo meretrício.

No caso da turma do Governo passado, havia, porém, um certo pudor não adotado pelo ministro motoqueiro: não se imolavam ministros que estavam na ativa.

Esta deslealdade, que foi o estopim da irritação do ministro deputado Marcelo Álvaro Antônio, que, por ser parlamentar, tinha conhecimento do oferecimento da sua cadeira de forma despudorada por Ramos aos partidos, elevou o desconforto a níveis de fervura.

Se Ramos é general, Marcelo Alvaro é deputado federal. Os dois têm vida fora dos ministérios. Sendo que a função do primeiro é zelar pela base parlamentar e respeitar os congressistas.

Se na sua missão não consegue respeitar um deputado ministro, que moral teria para construir um apoio parlamentar verdadeiro, sem ser venal? É, no mínimo, um péssimo exemplo.

O presidente Bolsonaro, como ex-parlamentar, deve atacar as causas e não os efeitos. Quem paga o preço agora é um dos ministros mais leais ao presidente e com alinhamento absoluto, além de estar gerindo uma pasta com reconhecimento mundial. Ele deverá voltar ao parlamento para quiçá defender Bolsonaro. A sua lealdade é perene.

O deputado Marcelo Álvaro Antônio não será apenas o 15º ministro a deixar o Governo. O 'modus operandi' de Ramos deverá ser direcionado a rifar outros titulares.

Lamentável que a gestão política do Governo seja reduzida ao tamanho de uma ervilha, o mesmo da percepção do Congresso pelo ministro da Secretaria de Governo, que, sem pudor, rifava colegas para mostrar um serviço que não existe.

Na vida de caserna não há maior dolo do que o militar que expõe gratuitamente um colega de trincheira ao fogo inimigo. É exatamente o que o Ramos vem fazendo. A reação do presidente foi inflamada por terceiros, personagens que precisam ser identificados e que ajudaram a puxar a corda da guilhotina para a cabeça errada. Quem deveria ter sido decapitado era o outro, o que transformou a gestão política do governo em um jogo de bordel de beira de estrada.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã