Coluna Magnavita: O homem-bomba apareceu. Édson Torres é finalmente intimado e fala dia 13

Por Cláudio Magnavita *

Édson Torres finalmente apareceu. Como deu, em primeira mão, o jornalista Ancelmo Gois, ele foi localizado em um endereço na Barra da Tijuca nesta sexta, 08 de janeiro.

Com a certidão positiva da citação, o presidente do TJ e do Tribunal Misto, desembargador Cláudio de Mello Tavares, marcou a oitiva para 13 de janeiro, quarta-feira. Neste dia, haverá também o julgamento dos embargos realizados pela defesa.

O sentimento da corte, que justifica a suspensão do prazo, é que a estratégia da defesa foi apenas protelatória. Se o real interesse fosse o acesso aos autos, a petição inicial deveria ser encaminhada ao ministro Benedito Gonçalves, do STJ, solicitando o acesso à íntegra das delações. Ao excluir o Superior Tribunal e se dirigir ao Supremo, apenas cinco dias antes da oitiva do réu Wilson Witzel, incluindo neste período a Quadra Natalina, o objetivo era “deixar o processo” em um limbo jurídico, o que quase aconteceu. A defesa sabia que a lei proíbe que um delator fale sobre o conteúdo negociado, e, ao pedir para ouvir novamente Edmar Santos, após acesso à delação, criaria um obstáculo, que foi interrompido com a suspensão dos prazos do processo até que ele retorne à sua normalidade.

A oitiva de Édson Torres e a sua oitiva no próximo dia 13 será um dos depoimentos mais importantes do processo.

Ele ocorre depois de o réu ter aparecido na sua live semanal, das terças-feiras, confrontando publicamente uma das testemunhas.

O fato gerou uma reação da PGR, que deu cinco dias para o réu se explicar.

No próximo dia 12 é aguardada a nova edição da live do governador afastado - e se ele repetirá os ataques a Édson Torres. Em seu depoimento espontâneo, antes de qualquer delação, Torres informou que participou de reunião junto com o sócio Everaldo Pereira e o então juiz Wilson Witzel. Na ocasião, contou Torres, entregou um pacote de R$ 150 mil a Everaldo, que repassou ao magistrado, já como parte das luvas que garantiriam um colchão financeiro para que ele pudesse renunciar à carreira e se candidatar pelo PSC ao governo estadual.

Nas últimas semanas, em suas aparições ao vivo nas redes sociais, Witzel tem colado as operações de Torres com Edmar, como se ambos formassem quase um único ente, defendendo a tese de que os dois já atuavam juntos no Governo anterior, de Luiz Fernando Pezão.

O governador afastado tenta justificar os R$ 8 milhões entregues por Edmar como resultado de suas operações anteriores.

O curioso é que a memória seletiva do governador-réu excluiu totalmente a figura do pastor Everaldo Pereira, sócio de Torres e responsável por sua candidatura ao Governo. Se atribuir a Pereira o mesmo status que ele concede a Édson, o círculo vicioso está formado. Torres confessou que proveu os recursos entregues a WW pelo sócio e transformou a candidatura do então juiz em um dos seus melhores investimentos, a ponto de fazer o seu sócio médico (como classifica WW) secretário de Saúde.

A amnésia de Witzel é também oportuna. Ele crucifica Edmar e afirma que o exonerou. Fato que não condiz com a realidade. Exonerou e, ato contínuo, o nomeou secretário de Estado da covid-19. Criou uma secretaria para premiar Edmar e manter o fórum especial, o que só ocorreria se a nova pasta estivesse ligada aos dolos cometidos no exercício da função anterior, vinculada à saúde. Ao proteger o colaborador, hoje seu algoz, Witzel foi cirúrgico: criou uma pasta que preserva a essência dos crimes cometidos. A ideia só não vingou porque a justiça anulou a nomeação feira pelo governador-réu.

O Tribunal Misto tem a chance de confrontar Edison Torres com as denúncias que realizou de forma espontânea, sem nenhum sigilo processual.

Se a testemunha for confrontada com as incontinências verbais de WW que lhe fazem referência, a série de ogivas terá contribuído para compreender a atuação de uma verdadeira quadrilha que se apossou do Governo do Estado.

O próximo dia 13 merece atenção, especialmente pelo julgamento dos embargos. Um dia importante para o processo de impeachment, que vem sendo conduzido de forma impecável pelo presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Cláudio de Mello Tavares.

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã