Coluna Magnavita Especial: Eduardo Paes ignora as empresas que se adaptaram ao ‘novo normal’

Coluna Magnavita Especial: Eduardo Paes ignora as empresas que se adaptaram ao ‘novo normal’

Empreendedores que adaptaram os seus negócios as medidas preventivas são ignorados pelo Prefeito do Rio

Por Claudio Magnavita*

Um fato separou a posição de Niterói e do Rio na coletiva de imprensa dos prefeitos das duas cidades, na última segunda-feira, 22. Enquanto Eduardo Paes varreu para o lixo tudo o que a gestão anterior realizou no combate à pandemia, a equipe de Axel Grael gerencia um trabalho de continuidade.

O secretário de Saúde de Niterói, Rodrigo Oliveira, é o mesmo desde março de 2020. Foi gestor durante toda a pandemia. Tem memória dos erros e acertos.

O adiamento da eleição e a realização do segundo turno, em dezembro, acirraram os ânimos eleitorais até perto da troca de comando. O clima de antagonismo foi prejudicial para o entendimento isento das coisas boas que haviam sido feitas.

O primeiro grande erro foi desmontar de forma abrupta o hospital de campanha no Riocentro e suas quatro centenas de leitos. A grande marca da gestão Crivella virou pó, sentimento parecido com a birra de Eduardo Paes com a Cidade das Artes, grande marca da gestão César Maia, que ficou trancada por quatro anos.

Um segundo grande erro foi ignorar as normas adotadas pelo Conselho Científico e as normas da gestão Crivella, que regulou o horário de funcionamento de restaurantes, reduzindo a capacidade e exigindo distanciamento de mesas.

As mesmas normas foram seguidas pelos shoppings. O setor adotou práticas chanceladas pelo Hospital Sírio-Libanês. O controle de entrada, automatização dos estacionamentos, dedetização na abertura e encerramento, controle de temperatura, álcool gel, campanha de conscientização dos trabalhadores, uso obrigatório de máscaras e redução da capacidade de público.

A hotelaria também adotou medidas de proteção, seguindo protocolos internacionais e cuidando dos mínimos detalhes. Medidas sanitárias foram tomadas até na manipulação de almoxarifado e do enxoval. O ano de 2020 foi de investimentos pesados para esse novo normal.

Quem também adotou protocolos foi o setor de eventos. Com a incorporação de protocolos sanitários, distanciamento, criação de transmissões virtuais e até eliminação de rotinas, aumentando a automatização.

Em 2020, de acordo com o novo normal, as atrações turísticas seguiram as normas de restrições. Dialogando com a gestão municipal, reduziram público, criaram distanciamento, adotaram máscaras para funcionários e higienização dos equipamentos. A retomada permitiu que a Roda Gigante, o Bondinho do Pão de Açúcar, o AquaRio e, agora, o BioParque se adaptassem às normas de prevenção.
As academias de ginástica também se adaptaram ao novo normal. Menos pessoas, distanciamento e cuidados de higiene. Em alguns casos, com reservas de horários.

O comércio e serviços, em articulação com o poder municipal e autoridades de saúde, investiram pesado e fizeram uma retomada com responsabilidade, principalmente aqueles ligados a entidades de classe. Foi uma ação conjunta.

O novo prefeito e seu secretário de Saúde, sem acompanhar o suplício e o esforço da iniciativa privada para se adaptar ao novo normal e criar regras responsáveis de funcionamento, resolvem agora paralisar tudo. É um pesadelo para quem tenta sobreviver, manter empregos e adaptou o seu negócio às normas de segurança máxima.

Os estabelecimentos responsáveis estão sendo punidos. Um restaurante, que gera de 50 a 100 empregos, com capacidade para 200 pessoas, e que está operando com 40% da capacidade, não pode ser comparado a um botequim de esquina, que serve bebida em pé ou a um ambulante que vende no isopor no meio da rua.

O que diferencia um Shopping Leblon ou Recreio Shopping de um supermercado Guanabara da Barra? As medidas de segurança sanitária não contam? É fechar simplesmente, é deixar pendurada a conta de IPTU, Luz e despesas fixas rolando?

Não se trata de ser negacionista. Essa politização com aval midiático para atingir o presidente está matando quem, para tentar sobreviver, adaptou o seu negócio às normas das autoridades para um novo normal.

A Prefeitura deveria separar o joio do trigo. Quem fez o dever de casa merece um selo de qualidade, como o Ministério do Turismo e a Secretaria de Turismo do Estado do Rio criaram.

Para quem chega agora e não tem a memória de boas práticas, como Niterói possui, é fácil só olhar para a questão hospitalar e o crescimento dos casos. Essas mesmas autoridades deveriam fazer o mea culpa em relação ao Natal e o Ano Novo, e depois, ao verão e ao Carnaval. As festas clandestinas pipocaram em todo o estado e o aumento de pacientes jovens é fruto dessa irresponsabilidade coletiva.

Não se fala, mas este movimento agora é para evitar uma nova onda turbinada pelas festas da Páscoa, algo parecido com o que ocorreu no Natal. Cadê as campanhas de conscientização da Prefeitura e do Estado em paralelo às medidas restritivas?

Existem hoje empresários responsáveis e que podem operar sem contribuir para aumentar a contaminação. Por que não manter esses empregos e essas atividades funcionando?

No caso dos grandes restaurantes, que trabalham com pontos para distribuição de gorjetas, a caixinha é uma remuneração maior do que o salário fixo. Esta medida impacta dois fins de semana. Corta pela metade o faturamento. Que medidas compensatórias serão adotadas?

Fechar as áreas de lazer de um hotel, que já funcionam com controles rígidos de limitação, é um paradoxo. Por que não preservar aqueles que adotaram os selos do Mtur e da própria Setur?

Para o prefeito que chega e tem que enfrentar seus primeiros três meses de pandemia a situação é bem diferente de quem passou 2020 enfrentando o desconhecido. As informações de hoje, com a existência da vacina, são bem diferentes dos 10 meses críticos do ano passado.

O prefeito Marcelo Crivella estava morto politicamente pelo passivo da sua gestão. Sua atuação na pandemia funcionou. Ele chegou ao segundo turno pelo que fez. Empresários foram submetidos a períodos longos de fechamento em 2020. A retomada da hotelaria só começou ocorrer em setembro com os equipamentos adaptados. O mesmo aconteceu com os restaurantes e shoppings.

O prefeito Eduardo Paes tem que reconhecer este esforço dos setores produtivos organizados. A própria Fecomércio passou 2020 fazendo a conscientização dos lojistas, treinando e se adaptando ao novo normal. Isso tudo agora é jogado fora? Não serviu para nada?

Sobre 2020 a visão de Eduardo Paes ainda é turvada para a questão eleitoral. Para ele, o que existiu no Rio foi um genocídio. Vender o medo é fácil. É fácil apavorar. Faz parte do efeito manada. Qualquer ideia diferente é negacionismo.

Quem ficar contra o radicalismo do fechamento é negacionista ou bolsonarista. Quem assiste à TV Globo ou GloboNews só vê notícia ruim e necrófaga. Por que não se fala de quantas pessoas superam a Covid? Por que não falam de 13 milhões de recuperados? Já vacinamos 12 milhões de pessoas. Um Israel ou um Portugal e meio. Estes dados não são mostrados. Vendem o medo. Não há uma notícia motivadora.

O noticiário é tão negativo que hoje, quem for infectado, acha que recebeu uma sentença de morte. O percentual de morte é de 2%. Falar isso é uma heresia neste efeito manada.

Infelizmente, o nosso novo prefeito aderiu a esta onda, e quem se colocar contra ele é “negacionista”. Falta sensibilidade a Eduardo Paes para separar o joio do trigo. Para ele, em 2020 nada foi feito, nenhum empresário fez o dever de casa e adaptou o seu negócio. Agora, como um quase neófito em Covid (que ele, aliás, contraiu, passando bem pela doença), Paes tem uma pandemia para chamar de sua. Depois, com a cara mais lavada do mundo, vai chamar as pessoas e pedir desculpas. Continuará cego e sonso quanto ao que hotéis, restaurantes, shoppings, academias e lojistas fizeram para se adaptar ao novo normal.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã