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Coluna Magnavita: O Rio precisa de paz

O Rio precisa de paz

Por Cláudio Magnavita*

Quando alguém aceita ocupar um cargo de relevância no Poder Executivo ou na vida pública, deveria receber uma cartilha sobre a liturgia do cargo. Estar secretário de Estado, ministro, secretário municipal ou dirigente de um organismo exige a observação de uma lista de deveres que são inalienáveis.  O mesmo ocorre com quem ocupa um mandato eletivo, seja no Executivo como no Legislativo.

No parlamento, a flexibilidade da fala e dos pronunciamentos são maiores. A própria essência do mandato exige uma maior liberdade, inclusive para ataques e denúncias, especialmente quando se está na oposição. Existem garantias constitucionais que servem de salvaguarda.

O que aconteceu no último  fim de semana, que deveria ser de paz e tranquilidade, com o governador do Rio, Cláudio Castro gozando um raro momento de descanso familiar, se contrapõe a todo um trabalho e empenho de pacificação do estado.

O prefeito de Campos, Wladmir Garotinho, fez uma postagem eminentemente política nas redes sociais,  criticando uma reunião do seu antecessor com o secretário de Governo do Estado do Rio, Rodrigo Bacelar, seu adversário regional. Errou o prefeito em provocar uma situação que já caminha para o diálogo e até uma convivência civilizada em prol do Município. Foi uma das pacificações promovidas pelo governador, que foi até chamado de “Pai Cláudio” , por realizar milagres. Campos dos  Goytacazes tem se beneficiado desse cenário de paz e, com o apoio do estado, foi possível regularizar as pendências salariais dos servidores municipais.

Desproporcional foi a reação do secretário de estado de Governo, Rodrigo Bacellar. Ele não apenas mordeu a isca da provocação, como errou a mão na resposta, cruzando fronteiras sagradas na política, como no caso o ataque à intimidade e à vida familiar.

Ex-vereador, deputado de primeiro mandato, com 41 anos de idade, Bacellar disparou um petardo que gerou comoção e solidariedade para seu adversário. O tiro saiu pela culatra.

Como a sua missão na Secretaria de Governo é bem clara, tendo entre as tarefas que promover o diálogo com a classe política, ele contrariou a essência do cargo. Criou um conflito grave  com um importante prefeito e um ex-governador que aparece nas pesquisas com 17 pontos de intenção de voto.

Bacellar tem o direito de se defender. Porém a persona secretário de Governo tem o dever de manter o clima de diálogo e harmonia defendido pelo governador. Neste caso, a liturgia do cargo fala mais alto. Nesses casos ele poderia resgatar a tribuna, da qual abriu mão, reassumir o mandato e utilizá-lo da forma que quiser, arcando com os ônus  jurídicos, políticos e eleitorais.  O mandato a ele pertence. Como secretário de Estado, não. A cadeira pertence a quem o nomeou.

Vivemos um governo de “quarentinhas”, jovens na faixa dos 40 que comandam o estado. Devemos aproveitar a energia, vitalidade e disposição para construir um novo Rio. Mas devemos controlar o testosterona dessa moçada para evitar tamanho desperdício de energia.

O maior dolo do deputado Rodrigo Bacellar foi ter levado o seu contra-ataque à  questão familiar e conjugal. Isso é sagrado na política e até na boa imprensa. Não se toca nunca nesta questão. Errou também o ex-governador Garotinho, ao defender o seu clã, atacar algo sagrado que é a figura paterna. Entrou na questão familiar também.

Cabe agora, em favor da paz que tanto é defendida pelo governador, que Bacellar faça um solene pedido de desculpas. Que reconheça publicamente os excessos, utilizando as mesmas ferramentas que usou, deletando imediatamente a postagem nefasta. Necessário até por ter despertado a ira feminina, solidária ao sórdido ataque a algo sagrado, que é o cônjuge.  Até a OAB Mulher se manifestou. Se a opção de Bacellar é seguir nos ataques e na contenda local, que reassuma o seu mandato de deputado, no qual terá de dar satisfações apenas ao eleitorado. Nesse caso, seria lastimável, perderia o governo um grande quadro, que até então vem realizando um belo trabalho.

O governador Cláudio Castro está absolutamente certo em sua diretriz maior: o Rio precisa de Paz, e cabe aos seus colaboradores seguirem à risca. Que este caso sirva de lição.  O Rio já tem muitos inimigos externos, não precisamos de conflitos gratuitos e irracionais.

 

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

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