Crítica - 1917: Um filme de autor. E bom

Por João Victor Ferreira

Durante a tensão nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, dois soldados americanos recebem a difícil tarefa de cruzar o território inimigo, em menos de um dia, com o intuito de entregar uma mensagem a um batalhão que está prestes a sofrer um massacre de um ataque organizado que pode matar mais de 1.600 soldados. 

Filmes de guerra talvez sejam a maior marmelada do Oscar. A dificuldade na direção de cenas de batalhas, somada à habilidade narrativa de um diretor focar no drama interno das pessoas (peças) que compõem um fronte, em vez da grandiosidade do conflito entre potências, faz encher os olhos da Academia de Ciências e Artes Visuais. Mas até que ponto a direção do Sam Mendes é de fato boa?

Sem dúvida alguma, Mendes apresenta a melhor direção de 2019, se levarmos em consideração a sua habilidade técnica. Aqui não há muito ponto sem nó. A imersividade por trás da falsa sensação da falta de cortes, fazendo o filme funcionar em um único take de um grande plano sequência, te coloca no meio daqueles personagens, deixando o público aflito, preso e sufocado pelo ambiente desolador de uma guerra, fazendo um paralelo inclusive com a posição dos soldados nas trincheiras.

O falseamento de um único plano em todo o filme não vem como demérito, quando na verdade se mostra como uma das maiores virtudes. A “edição invisível” dos cortes que o público não vê, torna a experiência muito visceral e única, valendo muito mais essa sensação de “corrida contra o tempo” que define o ambiente de guerra como um todo: parece que de fato vemos os acontecimentos ocorrerem no tempo em que ocorreriam.

As atuações são operantes e servem para a história que está sendo contada. Não há aqui nenhum grande destaque, tirando talvez o personagem do George Mackay que apresenta o maior arco do filme. De fato, a direção, o valor técnico e a imersão do entretenimento ofuscam a atuação, fazendo esse filme ser muito mais do autor do que dos atores em si.

Nota: 9,0