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Crítica | "Duna" é um espetáculo visual que introduz nova aposta de franquia da Warner

Por Pedro Sobreiro

Principal aposta da Warner para 2021, a tão esperada adaptação de Duna já chegou aos cinemas como um filme longo que deve agradar muito aos fãs do livro e do universo fantásticos desenvolvido nas 600 páginas da história. Proposto a ser "O Senhor dos Anéis" desse geração, a franquia se inicia com um capítulo grandioso, que mantém a essência da história, mas fazendo bastante uso da linguagem visual do diretor Denis Villeneuve, que desponta como um dos maiores nomes da ficção científica no cinema recente.

Ao longo de praticamente 2h40, a história acompanha o jovem Paul Atreides (Timothée Chalamet) e sua família, que é escolhida pelo Império Galáctico para administrar um planeta desértico que tem nessa areia o recurso mais valioso de todo o universo. O problema é que os antigos gestores não estão satisfeitos com a expulsão, e procurarão brechas na lei para atacar da forma mais cruel possível a família Atreides e recuperar o controle do planeta. Ao perceber que foram mandados para a morte, os membros dessa nobre família precisarão se defender e procurar um meio de manter sua gestão e poder político. Paralelamente a isso, Paul tem sonhos que o ligam diretamente ao novo planeta em que se encontram e o garoto vai tentar entender se são apenas devaneios ou se são mesmo visões.

Como o livro original é gigantesco e foi um dos responsáveis por definir vários pontos da ficção científica e da fantasia que se tornaram ícones da Cultura Pop, a Warner já deu a Villeneuve carta branca para que fosse tomado o tempo necessário para contar a história com o máximo de fidelidade possível. Considerado por muitos como o "livro inadaptável", "Duna" não é uma obra fácil, mas o diretor consegue encontrar alternativas que deixam a trama mais didática, como o início do filme. Os primeiros 40 minutos do longa são praticamente uma videoaula de relações internacionais desse universo, estabelecendo com bastante didatismo as questões que darão rumo a saga nos cinemas. É a parte mais difícil do filme, porque acaba adotando um contexto político que pode dar sono em alguns, mas que com certeza vai deixar os fãs babando.

Daí para frente, o filme explora mais do planeta arenoso e dos problemas geopolíticos entre os povos que habitam nele. A reta final, porém, parece um filme de fuga, que é quando a ação toma conta e deixa aquele gostinho de quero mais. Ou seja, é um longa denso que concentra mais da metade da história do livro, terminando sem um final exatamente, praticamente já garantindo que a sequência será feita. Diante disso, essa ausência de um final é um ponto negativo. Se formos nos valer da comparação com "O Senhor dos Anéis", a adaptação cinematográfica de "A Sociedade do Anel" consegue introduzir a história, trazer os personagens e fazer com que o público se importe com eles e ter um final para o arco, por mais que termine com um grande gancho para a sequência. "Duna", por outro lado, sofre com sua própria história e com as opções do diretor, que tiram o peso de alguns acontecimentos ao dar spoilers do próprio filme por meio das visões do protagonista, tirando bastando do impacto delas quando chega o momento em que elas enfim ocorrem,  e a falta de um final faz com que ele não se sustente como um filme solo, conferindo a ele uma sensação de filme-passagem, apenas uma introdução para a verdadeira história que será lançada daqui a alguns anos.

Outro ponto que incomoda um pouco é a ambientação limpa de um futuro distópico. Isso já havia acontecido em outra adaptação de Villeneuve, "Blade Runner 2049" (2017), que mostra a Terra dominada pelo lixo mais limpo da história do cinema. Em "Duna", essa visão mais "clean" começa dominando os cenários. Porém, conforme a areia do planeta vai tomando conta, o cenário de distopia vai ficando mais nítido. Por outro lado, a forma como ele usa as câmeras para dar a dimensão real de perigo da situação é bem interessante. Nesse ponto aí não há o que reclamar. Denis Villeneuve é um diretor que entende muito da linguagem visual do cinema e aqui está em sua melhor forma. O próprio uso dos figurinos e das tecnologias fictícias dialogam diretamente com os personagens e a situação em que eles se meteram, passando sensações de clausura, desespero e medo.

As atuações são competentes, com exceção talvez do protagonista (Timothée Chalamet), que promete muito, mas não entrega tanto, justamente por conta dessa ausência de um arco com início, meio e fim da história. Ele vem crescendo e se desenvolvendo ao longo do filme, mas encerra num ponto em que ainda não se viu muito do que ele pode fazer, só que também já teve algo introduzido por ali que te deixa ansioso para saber o que virá por aí. Apesar dessa atuação mais fria, Timothée não está mal. Ele só não é ajudado pela visão do filme acerca do próprio personagem.

Enfim, "Duna" é um espetáculo visual tão grandioso quanto ambicioso que acaba sentindo o efeito das escolhas de seu diretor acerca da adaptação da obra. Para aqueles que já leram o livro e sabem o que sucederá na trama, esse longa é o melhor programa para o final de semana, é simplesmente imperdível. Porém, se você não for muito inteirado desse universo, talvez sinta um pouco do efeito da grande duração do filme. De qualquer forma, "Duna" é uma grande e luxuosa introdução para uma franquia com bastante potencial não apenas visual, mas também narrativo, que poderá contar com uma das queridinhas do cinema atual, a talentosa Zendaya.

Nota: 3,5/5

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