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A maconha como ela é (ou não)

Por Canal Like*

A série americana da HBO, “High maintenance”, parte de um principio polêmico - mas muito interessante. É um show que simplesmente assume que todo mundo fuma maconha. Acredite ou não, concorde com isso ou não, a planta está ficando cada vez mais acessível para a sociedade. Nos Estados Unidos então - nem se fala. Algumas pesquisas recentes dizem que mais da metade dos americanos acima de 18 anos já experimentou alguma vez na vida a cannabis sativa.

E com 33 estados Americanos permitindo o uso médico e 10 estados, mais Washington D. C., liberando o uso recreacional, “High maintenance” é uma série bastante contemporânea. É ficção, mas com os pés bem fincados na realidade.

“High maintenance”, que traduzido literalmente significa “Alta manutenção”, apresenta episódios que tem poucas coisas em comum entre si. Mas, basicamente, centrados num barbudo simpático, conhecido somente como “O Cara”, enquanto ele anda de bicicleta por Nova York entregando pacotinhos de maconha para os mais variados tipos de clientes.

TRANSAÇÕES

Não deixe a nuvem de fumaça te enganar: a série é menos sobre maconha, e muito mais sobre o que essas pequenas transações clandestinas revelam sobre os seus personagens.

Banqueiros estressados nos trabalhos, casais em crise, um universitário querendo parar de ter ataque do pânico, uma taróloga prestes a ir para um retiro espiritual, uma mulher com câncer...

As razões que levam os personagens à maconha são das mais variadas. São tantos tipos, tão bem construídos, que à medida que a série vai progredindo, vai se formando um grande mosaico sobre o que as pessoas fazem quando estão desfrutando de suas intimidades.

Cada episódio tem “O Cara” visitando novas pessoas, agindo muitas vezes não só como traficante, mas também como terapeuta, ou até em alguns casos um par romântico.

E uma parte do mistério de “High maintenance” é justamente descobrir qual é a do “Cara”. O que esse ciclista faz em sua casa? E o que, de fato, ele acha disso tudo?

Em 2019, com a estreia da terceira temporada, o personagem finalmente sai um pouco mais do anonimato – o último episódio da segunda temporada foi bastante revelador, então não tinha como ele continuar na coxia. “O Cara” até chega a protagonizar um dos episódios, mas só um mesmo. Não se mexe em time que tá ganhando - mas o desenvolvimento do “Cara” promete ser um ponto de virada para a série - que só melhora ao se tornar mais ousada, mais experimental, e cada vez mais humana.

Nessa terceira temporada, alguns dos episódios lembram até o surrealismo vibrante e consciente de séries como Atlanta ou os filmes do diretor grego, Yorgo Lanthimos, que recentemente concorreu ao Oscar com “A favorita”, mas antes fez filmes muito mais excêntricos - como “O lagosta”.

A diferença aqui, é que os episódios dessa carismática série da HBO, sempre acabam sendo sobre compaixão e empatia. Difícil não se ver nas situações tão humanas dos personagens da trama.

A razão da série funcionar tão bem repousa no fato de que a receita já está há muitos anos sendo desenvolvida. A série começou em 2012, quando o então casal Ben Sinclair e Katja Blichfeld decidiram unir forças criativas para fazer um projeto que os representasse.

ENCAIXE

Katja era uma produtora de elenco de sucesso, trabalhando em séries como “30 Rock” e “Saturday night live”. E Sinclair, um ator e montador procurando trabalho. Apesar da Katja gostar muito do seu trabalho, ela testava muita gente talentosa no seu dia a dia que não conseguia encaixar em séries mais convencionais - o seu próprio marido era uma dessas pessoas.

Os dois bolaram uns roteiros, e uns baseados, chamaram os amigos, e foram trabalhar. Quem faz o papel do “Cara” até hoje é o Ben, que escreveu, junto com Katja, a grande maioria dos episódios.

Os primeiros episódios, curtinhos e irreverentes, bombaram na internet - em particular, na plataforma Vimeo, uma espécie de Youtube, só que voltada para projetos mais artísticos.

A plataforma tomou interesse na dupla e “High maintenance” rapidamente transformou-se na primeira serie original da plataforma. Foi só questão de tempo até que eles assinassem com a HBO.

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