Dores e alegrias de quem viveu demais

Por Cesar Ferreira

Aos 82 anos, o ator, diretor e dramaturgo Amir Haddad é como um bonde sem freios em se tratando de expressão artística. Após seis temporadas, o premiado diretor volta ao Teatro Gláucio Gil, em Copacabana, com “Rugas – um espetáculo sem botox” no qual promove uma necessária reflexão sobre as questões relativas à terceira idade.

Em cena, as atrizes Claudiana Cotrim e Vanja Freitas vivem uma série de personagens que mostram como a velhice pode ser criativa e poderosa, instigam a plateia com as perguntas: ‘o que você vai ser quando envelhecer?’ ou ‘quando você se sentiu velho pela primeira vez?

A construção desses personagens vem com conhecimento de causa. Há três anos, as atrizes estudam o envelhecimento. Foram centenas de entrevistas com pessoas de 40 a 80 anos.

Esse material chegou às mãos do dramaturgo Herton Gustavo Gratto e assim nasceu o texto de “Rugas”. Já com direção do premiado Amir Haddad, o espetáculo estreou na 13ª edição da Festa Internacional de Teatro de Angra, em setembro de 2018.

- Este é um assunto importante, tocante e delicado. Mas também bastante perigoso. Qualquer resvalo para o melodrama poderá colocar atores, personagens e a plateia num beco sem saída. Não somo eternos. Seria insuportável se fôssemos. Por isso a vida, assim como o teatro, tem que ser vivida até o fim. Como se fôssemos eternos. Eternamente velhos, eternamente novos - comenta o diretor.

A história do espetáculo gira em torno de uma cientista gerontóloga que estuda o envelhecimento e quer fazer o tempo parar. Para isso, vai estudar no exterior e quase não tem mais contato com sua mãe. Até que um dia, durante a palestra mais esperada de sua vida, recebe um telefonema da cuidadora dizendo que a mãe está muito doente e precisa ver a filha. O que ela vai fazer?

A forte dramaturgia ganha reforço com a bem escolhida trilha sonora, que inclui canções como “Meu mundo caiu”, eternizada por Maysa; “Fascinação”, um clássico de Elis Regina; “Bodas de Prata”, interpretada por Maria Bethânia; e “Que será”, um super hit dos anos 1950 na voz de Doris Day.