NEUSA BARBOSA
FOLHAPRESS
Mergulhando nas águas onde o engajado veterano britânico Ken Loach nada de braçada, o diretor francês Louis-Julien Petit não se afoga ao retratar um grupo de assistentes sociais e de sem-teto em "As Invisíveis" -um enredo que alivia o peso de seu tema social com toques irônicos, saindo-se bem na maior parte do tempo.
A prova, pelo menos na França, está no impressionante desempenho nas bilheterias, ultrapassando 1 milhão de ingressos vendidos.
A maior vantagem desse tom é varrer a piedade politicamente correta, tratando com realismo as personagens que moram na rua -interpretadas por mulheres que realmente dormiram nas calçadas da França.
Como o título do filme sugere, são pessoas que a maioria prefere não olhar de perto, o que o longa faz generosamente, ainda que não opte por uma idealização da pobreza.
Usando nomes fictícios de celebridades como Lady Di, Brigitte Macron, Vanessa Paradis, Salma Hayek e até La Cicciolina, as mulheres retratas mostram-se rebeldes, preguiçosas, não raro, mentirosas. Não dão vida fácil às assistentes sociais do abrigo diurno onde desfrutam de banhos e refeições e que, para piorar, vai fechar em breve.
A burocracia central de Paris decide deslocar as desabrigadas para um local a 50 km da cidade, num esforço de higienização social que transparece igualmente nas grades pontiagudas vistas em janelas e portas do centro da capital francesa, para evitar que os sem-teto durmam ali, maculando sua intenção de
cartão postal permanente.
Sem aspirarem à posição de heroínas, as assistentes sociais Manu (Corinne Masiero), Audrey (Audrey Lamy), Hélène (Noémie Lvovsky) e Angélique (Déborah Lukumuena) encarnam a resistência humanista à burocracia, que simplesmente empurra os problemas para longe, incapaz de ver ou ouvir.
E este é o traço mais kenloachiano do roteiro do longa, assinado pelo diretor, Marion Doussot, e Claire Lajeunie (esta, autora do livro "Sur la Route des Invisibles" em que se baseia a história).
Sem ser propriamente uma comédia, quase sempre os incontornáveis temas difíceis passam pelo filtro de algum humor –como o caso da impagável Chantal (Adolpha Van Meerhaeghe), uma sem-teto que matou o marido e insiste em mencionar esse passado em toda entrevista de emprego que lhe arrumam.
O que não deixa de ser uma posição ética que o filme todo, aliás, sustenta.
AS INVISÍVEIS
Produção França, 2018
Direção Louis-Julien Petit
Elenco Corinne Masiero, Audrey Lamy, Noémie Lvovsky, Déborah Lukumuena
Quando Estreia nesta quinta (20)
Avaliação Bom