Neto de Jamelão presta homenagem ao avô

Jamelão Netto é neto de uma das vozes mais incríveis da música brasileira, o Mestre Jamelão, de quem herdou esse brilho no cantar e o timbre fenomenal dos cantores pretos do início do século.

 Nascido em Vila Isabel, cresceu embalado por muitos sambas canções, choros, MPB, soul music (influência da mãe, cantora de jazz) e é claro, pelos sambas de partido alto e de enredo nas reuniões musicais que sua avó, Dona Didi, promovia em sua casa com grandes nomes da música popular brasileira. Em um lar genuinamente matriarcal e musical, sempre contou com a proteção do avô, que foi sua referência paterna, enquanto ia sendo preparado para dar continuidade ao legado familiar.

 Esse Carnaval tem uma importância muito grande para o artista, pois além de estarmos retornando, após dois anos sem avenida por conta da pandemia, que ainda assombra todo um País, o samba que a sua escola, a Mangueira traz para a Sapucaí é uma homenagem aos baluartes da Verde e Rosa, Cartola, Jamelão e Delegado e ver esse reconhecimento ao trabalho do avô, o Mestre Jamelão é motivo de muito orgulho e emoção.

Desfilar na Sapucaí sempre foi um desafio para Jamelão Netto, principalmente depois que o avô, Mestre Jamelão faleceu. A sensação é de que falta o seu espaço, um espaço onde, de fato pudesse ser livre, sem ser o responsável pela história família, um lugar que ele acredita que jamais existiu.

 Jamelão que viria como um dos intérpretes do samba deste ano acabou abdicando desse lugar para fazer parte do projeto do carnavalesco e amigo Leandro Vieira ao assumir na avenida o personagem do avô em um dos carros da escola. O cantor, ator e compositor que sempre foi resistência, defendendo suas opiniões e costurando sua história, foi se desconstruindo e, pensando na coletividade, acredita que agrega muito mais nesse lugar em que sua representatividade é legítima.

 Pela quarta vez vai atravessar a Sapucaí, na sexta-feira dia 22, defendendo com muito orgulho a escola (segundo ele a grande campeã de 2022)  que contempla toda a sua ancestralidade quando homenageia os principais pilares do samba da Verde e Rosa de todos os tempos e exalta a importância do legado da vida desses três homens pretos do início do século passado.

Jamelão Netto sente o coração bater mais forte quando passa pela Arquibancada 1, arquibancada popular batizada com o nome do seu avô, Mestre Jamelão inaugurada em 2009 com as presenças de  Chiquinho da Mangueira,  Mestre Delegado, Jorge Castanheira (Liesa) e Bruno Mattos (Riotur) e no primeiro recuo da bateria, que também tem o nome de Jamelão.

As homenagens ao avô não param por aí. Para 2023, Jamelão Netto prepara uma série de projetos com a marca “Mestre Jamelão 100 anos”, geridos por ele e sua equipe no Rio e em São Paulo. Um dos seus principais pilares será o “Museu Virtual” que servirá de base para pesquisa e irá recuperar todo acervo pessoal do seu avô e, a partir deste diagnóstico, teremos um pipeline de outros projetos como a primeira biografia do Mestre Jamelão, em que assina como coautor. Um outro projeto é a exposição itinerante pelas principais capitais do país com todos os objetos, letras, partituras e matérias de jornais. Além disso, o projeto conta com uma foto biografia que tem um acervo riquíssimo, com um musical sobre a vida do Mestre e um projeto audiovisual.

O projeto do documentário “O Mestre” já está em fase de captação e tem o amigo Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, escrevendo o argumento. Outros grandes nomes também farão parte do projeto.