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Governo exonera ala olavista na Secretaria da Cultura e nomeia Regina Duarte

Por Talita Fernandes

Nomeada nesta quarta-feira (4) Secretária Especial da Cultura, a atriz Regina Duarte fez uma série de exonerações na pasta, publicadas no Diário Oficial da União. Após encerrar um contrato de 50 anos com a TV Globo, a atriz chega ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) com o objetivo de pacificar a área de cultura, marcada por crises desde o início da gestão.

À frente da pasta, Regina terá um salário mensal de R$ 17.327,65. Ela já enfrenta resistência da ala ideológica do governo, em especial de seguidores do escritor Olavo de Carvalho, pelas exonerações feitas nesta quarta. 

Entre as exonerações oficializadas está a de Dante Mantovani, da Funarte (Fundação Nacional de Artes), que é aluno de Olavo e membro da Cúpula Conservadora das Américas. 
Mantovani havia sido nomeado em dezembro de 2019 pelo ex-secretário da Cultura Roberto Alvim, que deixou o cargo em 17 de janeiro após fazer um vídeo com referências de um ministro da Alemanha nazista. 

No total, foram publicadas dez exonerações e Regina deve anunciar sua equipe ainda nesta quarta.
A demissão de nomes ligados à ala olavista levou à reação de apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais e a hashtag #ForaRegina está entre os assuntos mais comentados no Twitter.

O próprio Olavo de Carvalho usou as redes para criticar a nova secretária. Ele se queixou sobre a possibilidade de a atriz excluir de seu quadro de servidores seguidores do escritor, guru ideológico do bolsonarismo. 

"Se a Regina Duarte quer mesmo se livrar de indicados do Olavo de Carvalho, a pessoa principal que ela teria de botar para fora do ministério seria ela mesma", escreveu, antes das exonerações serem confirmadas.

A cerimônia de posse está marcada para às 11h desta quarta no salão nobre do Palácio do Planalto, e contará com a presença de representantes da classe artística e de políticos.
Regina será a terceira secretária a comandar a pasta, marcada por uma série de controvérsias desde o início da gestão Bolsonaro. Publicamente, ela vem dizendo que tem como missão "pacificar" a Secretaria e fazer com que a cultura esteja acima de ideologias. 

No entanto, no intervalo entre o convite e sua posse, ela também enfrentou resistências de parte da classe artística.

A Secretaria de Cultura permanecerá subordinada ao Ministério do Turismo, comandado por Marcelo Álvaro Antônio. Bolsonaro transferiu o órgão de pasta após a demissão de Pires e divergências com Terra. 

Por parte do governo, o presidente prometeu carta branca à atriz, mas seus auxiliares veem com reserva o tamanho dessa liberdade. 

Um ponto de divergência é a nomeação de Sérgio Camargo à frente da Fundação Cultural Palmares, que chegou a ter sua nomeação barrada na Justiça, mas revertida após recurso do governo. O caso foi levado à Justiça após Camargo ter feito declarações negando que haja racismo. 

Camargo publicou uma foto com Bolsonaro nas redes sociais na terça (3) junto de mensagem de que contava com o apoio do presidente e do titular do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, para ficar no cargo.

"Informo para que não restem dúvidas. Estou confirmadíssimo na presidência da Fundação Cultural Palmares, com respaldo do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio. Obrigado pelo apoio. TMJ!", escreveu.

A imagem com Camargo também foi publicada por Bolsonaro em suas redes, numa demonstração de que sua nomeação tem seu respaldo. 

No cargo há 14 meses, Bolsonaro já deu demonstrações de que interfere na gestão de seus subordinados toda vez que sua visão de governo é confrontada. Já foram alvo de críticas públicas e processos de fritura até mesmo ministros populares como Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia).

Ao longo de sua vida política, Bolsonaro criticou leis de incentivo à Cultura, como a Lei Rouanet e defende o incentivo de uma produção com ideologia mais conservadora e ligada às igrejas. 

A classe política e artística aguarda o anúncio da equipe que foi montada por Regina. A lista de convidados para a posse e o nome de seus auxiliares são mantidos em segredo.

Ela demitiu em menos de um mês a reverenda Jane Silva, após ser criticada por artistas. 

O convite para que a reverenda assumisse o cargo de secretária-adjunta na Cultura foi visto como um aceno ao conservadorismo da gestão Bolsonaro.

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