Conversas inclusivas

Por Rodrigo Fonseca, especial para o Correio da Manhã

Espaço de escuta para formas de vivência que a pandemia reinventou, o programa de entrevista online #PodeEntrar, no Instagram, virou uma sensação nas redes sociais por esgarçar uma fronteira, por vezes tênue, entre jornalismo e arte, de carona na curiosidade de um jovem repórter da Rocinha que surpreendeu festas literárias como a Flip, de Paraty, e a Flup, ao levantar a bandeira de resiliência periférica carioca: Edu Carvalho.

Aos 22 anos, com passagens pela CNN Brasil e pelo “Conversa com Bial”, da Globo, Carvalho encontrou na web um terreno para criar uma metodologia de bate-papo - sempre às segunda e quintas, às 18h - calcada na troca de experiências. A próxima conversa, no dia 31, é com Michele dos Ramos, pesquisadora do Instituto Igarapé, que vai falar sobre segurança.

Nesta quinta (27), ele ouviu a atriz e cineasta Maria Ribeiro, falando do estado de coisas do audiovisual e do teatro em meio à covid-19 e às atuais tormentas políticas. É só entrar no #educarvalhol pra conferir o trabalho de Carvalho que, em paralelo, aguarda a chegada de um livro com fôlego para modificar a cena da representação das periferias na prosa nacional: sua primeira ficção, a antologia de contos “Na Curva do S – Histórias da Pandemia na Rocinha”. Ela sai do forno no dia 4 de agosto, em plataformas online, seguindo pras livrarias na semana seguinte. É literatura feita de observação e de imersão, com poesia.

“É uma colcha de retalhos, em forma de contos, construído como um diário de quem está vendo as coisas acontecendo, mas se coloca dentro dessas situações. 

Falar da Rocinha é falar de um lugar estrategicamente posicionado onde tudo acontece. Tem, no livro, um texto sobre o George Floyd e os processos antirracistas. Tem texto sobre intervenção do Estado. Tem muita coisa. Fui convidado para esse projeto da editora Todavia (a Coleção 2020), por ser um jornalista que mora na maior favela do país, para tratar da minha experiência lá, a partir da vivência profissional. São histórias que poderiam acontecer em qualquer lugar do país, embora cada favela possua sua peculiaridade. O André Conti, meu editor, diz que meu texto é como uma conversa, mesmo onde a história não é sobre mim, introduzindo o leitor à realidade da Rocinha. Ele dizia: ‘se joga na conversa’. Acho que fiz uma espécie de documento, mesmo sendo ficção. Agora, estamos colocando esse amarrado na rua na semana que vem”, celebra Carvalho, citando Fernando Torres e Lázaro Ramos entre as vozes da literatura que marcaram sua formação de leitor, além de destacar a canção “AmarElo”, de Emicida, como um farol. “Eu escrevi o livro num momento em que tive covid e passei 17 dias trancado, num mal-estar intenso e tenso. Ouvir o Emicida foi importante.

Para as próximas semanas, Carvalho promete pluralidade a mil em seu #PodEntrar. “O que me pauta é a variedade de assuntos e a variedade de ouvintes, com 500 pessoas acompanhando o papo no ar, e isso vai ampliando, com gente que vai acessar depois. Tem gente boa pra vir nesse caldeirão: temos Big Jão, um garoto jovem da Baixada, cineasta, roteirista e humorista, que é um fenômeno; a Nina da Hora, que fala de linguagens da computação; tem a madrinha Flávia Oliveira, o Marcelo Tas, o Ivanir Dos Santos, a Lia Soares”, diz Carvalho. “A diversidade precisa estar representada”.