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Meninos, eu vi! Antes das cinzas

Por Carlos Monteiro

Na manhã do dia 31 de agosto, sexta-feira, a última de agosto de 2018. Juntei equipamento, flashs, câmeras, tripés, lentes – como diz o Nelson Vasconcellos, “uma parafernália de traquitanas” e parti com a Carla Dels, uma assim guru-assistente, astróloga, artista plástica e mais uma montanha de predicados, para a Quinta da Boa Vista. Missão: fotografar o Museu Nacional para meu livro “Vistas & Visões da Cidade Maravilhosa”.

Era um quase setembro, todos andavam ávidos pela “boa nova”. às 10 horas, havia um sol de rachar lá fora e um editor gentil, mas às tintas, me cobrando a conclusão da obra dentro da minha cabeça. Eram as fotos faltantes para fechar o livro e enviá-lo a gráfica.

Foto: Carlos Monteiro

Para agilizar, utilizamos a opção Angélica. Embarcamos e, em menos de 15 minutos, além-túnel, aportamos nos jardins encantados e cheios de mistérios do, oásis encrustado no antigo, bairro Imperial de São Cristóvão. À porta do palácio neoclássico, entregue ao príncipe regente, “tudo graças à generosidade de um certo Elias Antônio Lopes, próspero comerciante que presenteou sua casa de campo ao nosso príncipe tão logo a família real desembarcou aqui".

Segundo texto de Nelson Vasconcellos, em: “Rio um estado de espírito”, que fizemos juntos anteriormente, aliás, com escrito profético; “...popular museu da Quinta da Boa Vista, pequeno palácio bem marcado pelo tempo e digno de ser visitado, antes que se acabe...”. Isto foi escrito em novembro de 2017. Acho que, além de jornalista competentíssimo, ele anda fazendo uns bicos como vidente.

Pois bem, à porta estava, junto ao Bendegó, o maior meteorito encontrado no Brasil e o 16º maior do mundo, o pessoal da comunicação, turma atenciosíssima, extremamente dedicada ao equipamento, assim como todos o que fui encontrando pelos caminhos.

Foto: Carlos Monteiro

A proposta era nos levar pelos meandros do imenso complexo. A minha ideia era explorar ângulos mais especiais, reflexos, nuances. O tempo era pouco, precisava ser cirúrgico. Como já o tinha fotografado anteriormente, sabia, com certa precisão, o que eu queria.

Começamos pelo telhado, encimado pelas belíssimas musas. Pareciam guardiãs do prédio. Ainda que guardiãs não seja uma palavra exatamente interessante e leal nos atuais dias na Cidade maravilhosa. Continua maravilhosa, mesmo que, muita gente queira o contrário.

Pelos caminhos até a escada-caracol que nos levaria até ele – telhado - era perceptível a falta de manutenção. Fios aparentes, paredes descascadas, piso visivelmente desgastado... a própria escada provocava um certo medo, um frio na barriga como aqueles que sentimos nas montanhas-russas.

Foto: Carlos Monteiro

Subimos. O telhado em si, parecia recuperado, alguns cliques, voltamos ao interior do prédio. Salas fechadas. Clica múmia, clica janelas, clica “...minha Luisa,/Apaixonado/Um aprendiz do teu amor/Acorda amor/Que eu sei que embaixo desta (imagem) neve mora um coração...”.

Como Cauby, não bizei, voltei correndo ao meu lar, tratar as fotos, enviar, Wetransfer...

À noite, fui a Itaipava, passei o fim de semana em terras serranas. Aquele finde em que você se desliga de tudo. Sem equipamento, sem lenço, sem documento. o voltar, finalzinho da tarde, início da noite domingueira, peguei a estrada crepuscular. Já próximo ao Rio avistei uma imensa coluna de fumaça, uma alvorada noturna p’ros lados de lá... Imediatamente liguei o rádio, até então vinha numa trilha de rock progressivo entre Led Zeppelin, Uriah Heep, Pink Floyd, passando, é claro, por Premiata Forneria Marconi. Estarrecido constatei que, o museu que há dois dias fotografara, agora era chama, provocada, não posso afirmar – seria absolutamente leviano de minha parte, quem sabe, por uma fagulha da fogueira das vaidades, uma entelha do descaso.

Não fui em casa buscar o equipamento. Quis guardar nas brumas da memória os cliques feitos outrora, imagens tão marcantes. O resultado são estas imagens. Lembrei-me de Gonçalves Dias: “...Acerva-se a lenha da vasta fogueira,/entesa-se a corda de embira ligeira,/adorna-se a maça com penas gentis...”

“Meninos, eu vi!” Faz dois anos... Que, como Phenix, ressurja.

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