Egito ao nosso alcance no CCBB

Por Affonso Nunes

Num intervalo de 4 mil anos o Egito viveu seu apogeu e decadência (400a a.C. a 30 a.C), mas o passar do tempo não roubou em nada o seu fascínio ao longo da história e sobrevive em nosso imaginário até os dias de hoje. A vida, a religiosidade e o pós-morte desta civilização que se concentrou ao longo do curso inferior do rio Nilo podem ser contemplados e compreendidos na exposição “Egito Antigo: do Cotidiano à Eternidade”, em cartaz até 27 de janeiro no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A mostra reúne 140 do segundo maior acervo de egiptologia do mundo, o Museu Egípcio de Turim (Museo Egizio).

- Essas peças têm em comum a relevância para o entendimento de uma cultura que manteve parcialmente os mesmos modelos religiosos, políticos, artísticos e literários por três milênios - justifica Pieter Tjabbes, curador da mostra em conjunto com Paolo Marini.

HISTÓRIA E INTERAÇÃO

De acordo com Tjabbles, o maior objetivo da exposição é fazer com que o público interaja com os aspectos mais variados da saga dos antigos egípcios.

- Existe no imaginário das pessoas essa coisa das múmias, mas estamos diante de uma cultura muito mais ampla do que algo focado na morte - destaca.

Para que o público compreenda melhor em que contexto sarcófagos, mesas de oferenda, artigos sagrados são usados foi reproduzida em tamanho natural uma réplica do interior da tumba de Nefertari. O trabalho foi produzido pelo artista plástico Silvio Galvão. Logo no salão da rotunda do prédio do CCBB, o público depara-se com uma pirâmide cenográfica de seis metros, que tem atraído os visitantes que invariavelmente param ali para tirar fotos e selfies.

Outras interações possíveis num vídeo com a reconstrução 3D de monumentos, uma réplica de uma escavação feita num sítio arqueológico e um livro eletrônico, com parte do material registrado pelas expedições napoleônicas (de 1798 a 1801), com imagens de monumentos, esculturas, paisagens e objetos, que poderá ser navegado pelos usuários e será projetado em um telão.

A exibição é dividida em três seções: vida cotidiana, religião e eternidade, que ilustram o laborioso cotidiano das pessoas do vale do Nilo, revelam características do politeísmo egípcio e abordam suas práticas funerárias. Cada uma delas apresenta um tipo particular de artefato arqueológico, contextualizado por meio de coloração e iluminação projetadas para provocar efeitos perceptuais, simbólicos e evocativos. As cores escolhidas são: amarelo para a seção da vida cotidiana; verde para a religião; azul para as tradições funerárias. O clima seco do Egito ajudou a preservar esses sarcófagos e outras peças de madeira pintada por tanto tempo.

VIDA COTIDIANA
O dia no Egito Antigo começava quando os primeiros raios de luz emergiam do akhet (horizonte) para iluminar Kemet, a terra negra (Egito). Imagens projetadas na parede transportam o público para o modo de vida de uma civilização intimamente ligada à figura do Sol, Deus representado em pinturas, escritos, adereços e objetos, entre outros artefatos, relacionados ao Egito Antigo. Entre os objetos expostos e encontrados em escavações estão adornos, artigos de higiene, pentes, frascos de cosméticos, sapatos e vestimentas. A sociedade egípcia era altamente estratificada. Governantes, funcionários administrativos e sacerdotes desfrutavam dos maiores privilégios, praticavam caça e cuidavam do corpo com óleos, pomadas, banhos e perfumes. Mulheres e homens usavam uma maquiagem chamada kohl, uma mistura preta aplicada ao redor dos olhos, que servia como protetor solar. Já os camponeses e os servos viviam do ciclo agrícola marcado pela inundação do Nilo, em julho, que contribuía para fertilizar os campos.

RELIGIÃO
A segunda parte da exibição mostra a relação dos egípcios com o sagrado, levando o visitante para dentro de um templo, em um ambiente em tons de verde,
cor da pele do deus Osíris, rei dos mortos.

- A religião egípcia era politeísta, marcada por um grande número de divindades maiores e menores, quase sempre associados a animais - destaca Tjabbles.

Como a população comum não tinha acesso ao interior dos templos, fazia oferendas na parte externa das construções. E eles acreditavam que presentes mais
sofisticados chamariam, a atenção dos deuses a seus pedidos. Nos templos, um animal associado a um deus poderia ser considerado sua encarnação e, se morresse, seria mumificado e poderia ser deixado como oferenda. Por isso os arquelógos encontraram milhares de múmias, especialmente gatos, para a deusa Bastet; cães, para Anúbis; falcões, para Hórus; e íbis, para Thoth.

ETERNIDADE
A escuridão noturna, fase em que a deusa Nut engolia o Sol, era associada ao reino dos mortos; e o azul é a cor do lápis-lazúli, mineral precioso valorizado pelos egípcios. Em um ambiente com essa cor, estão expostos os mais variados aspectos das tradições funerárias e a vida após a morte. O acervo da exposição inclui câmaras funerárias - os sarcófagos - feitos em madeira e provenientes de diversas dinastias, uma múmia humana e um papiro com a íntegra do Livro dos Mortos - onde foram compiladas as regras para que se fizesse a passagem dos mortos para o outro plano existencial.

- O que comumente é associado à morte na cultura egípcia é justamente uma celebração à vida. O objetivo, não só dos faraós como de cada egípcio era ter na morte uma extensão da vida terrena.