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O legado Medina e o Rock In Rio

Mesmo com todas suas conquistas, Abraham teve um sonho que pensou ser impossível: trazer a lenda Frank Sinatra para uma apresentação no Rio de Janeiro. O que parecia impossível acabou por incentivar o jovem Roberto Medina, seu filho, a entrar no mercado do show business.

Verdadeiro Colosso da Publicidade, Roberto Medina conheceu Frank Sinatra e seu agente em um trabalho publicitário de uma marca de Uísque. Sabendo do sonho do pai e de como aquilo seria impossível, ele conversou e apresentou uma proposta ao cantor, que cobrou uma boa estrutura e confiou no profissionalismo de Medina. Então, revolucionando o mercado do showbiz brasileiro, Roberto trouxe o ídolo americano para uma série de apresentações no Rio, culminando no show lendário de Frank Sinatra no Maracanã para mais de 175 mil pessoas, em Janeiro de 1980. Aquele show entrou para a história e quebrou o recorde de maior público dentro de um estádio para evento não esportivo.

Quatro anos mais tarde, visando colocar de vez o Brasil na rota de shows internacionais, Roberto surgiu com o conceito do Rock In Rio. Enfrentando forte represália do governador do Rio, Leonel Brizola - que via na família Medina uma ameaça política, já que Abraham ainda era muito influente, e Rubem, irmão de Roberto, vinha de 9 mandatos como deputado federal pelo Rio - , o empresário teve de se virar para conseguir realizar as obras. Com um terreno de chão irregular cedido pela Carvalho Hoskens, na Barra da Tijuca, Roberto correu contra o tempo para instalar as estruturas e trazer à vida a primeira Cidade do Rock. Fora a estrutura, o outro grande desafio era convencer as grandes bandas internacionais a se apresentarem no festival. Apadrinhado por Frank Sinatra, que convocou uma coletiva de imprensa internacional para falar, gratuitamente, sobre o Rock In Rio e elogiar o caráter e profissionalismo de Roberto Medina em sua passagem pelo Brasil, o Rock In Rio conseguiu aos poucos trazer os expoentes do Rock N’ Roll da época, como Ozzy Osbourne, AC/DC, Iron Maiden, Scorpions e, claro, o Queen de Freddie Mercury.

O contexto no qual o primeiro RIR surge ajudou muito a promover a edição ao status de Histórica. O Brasil vivia um processo de redemocratização após os anos de chumbo. Embalada pelo movimento das “Diretas Já!”, a geração jovem compareceu em peso à Cidade do Rock para acompanhar bandas subversivas e gritar à favor da democracia. O festival deu voz a um país em reconstrução e lavou a alma de um geração inteira de jovens esperançosos por mudanças.

Apesar de ter sido um sucesso de público, com o recorde de ter levado mais de 1 milhão e 38 mil de pessoas à Cidade do Rock ao longo dos 10 dias, o baixo preço dos ingressos e a ordem do governo de derrubar a estrutura ao fim do evento causaram um prejuízo enorme para o bolso de Medina, que, orgulhoso do que havia feito, não desistiu do projeto e voltaria seis anos depois, em 1991, para mais uma edição histórica, agora no Maracanã.

O Rock In Rio II foi um sucesso absoluto e enfim deu lucro ao empresário. Dez anos depois, ele viria a fazer o Rock In Rio III e internacionalizar de vez a marca. Acumulando sucessos no Brasil, Medina leva o RIR para a Europa e consolida o evento como um dos maiores do mundo. (Pedro Sobreiro).

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