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Cultura | Primeiras pepitas de Berlim

Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã

Até o fim da tarde de sexta-feira, a 71ª Berlinale vai tentar honrar a tradição que fez dela um dos mais prestigiados festivais de cinema do planeta exibindo 15 longas-metragens da mais alta voltagem estética em sua competição anual pelo Urso de Ouro, além de exibir dezenas de títulos em mostras paralelas – só que, desta vez, tudo é online. Em junho, vai haver uma série de projeções presenciais na capital alemã, mas, até lá, tudo se passa no www.berlinale.de, para imprensa e profissionais do mercado.
Na quarta-feira é a vez do Brasil tentar a sorte com “A Última Floresta”, de Luiz Bologensi, centrado nas estratégias de resistência dos indígenas do país. De segunda, quando o evento começou, pra cá, muitas joias já saíram daquele garimpo. As mais preciosas, até agora, são:

LANGUAGE LESSONS, de Natalie Morales: Com traços de comédia romântica, este conto via Zoom é construído inteiramente com as ferramentas das plataformas de comunicação online, apostando na doçura ao narrar a amizade entre um viúvo (Mark Duplass, inspiradíssimo) e sua professora de Espanhol, vivida pela própria diretora.

BAD LUCK BANGING OR LOONY PORN, de Radu Jude: Nenhum país construiu, nos últimos 20 anos, uma estética tão sólida e tão ajustada às condições tecnológicas, éticas e estéticas do século XXI quanto a Romênia. Chama-se “Primavera Romena” a linhagem de comédias ácidas de ataque ao estado feita por eles. Pois essa onda primaveril deles se renova, numa sintonia fina com a pandemia, a partir do julgamento de uma professora que teve um vido erótico com seu marido vazado. A gargalhada é garantida do começo ao fim dessa inventiva narrativa.

NOUS, de Alice Diop: De origem senegalesa, a realizadora de “A Morte de Danton” (2011) e “O Plantão” (2016) cria um mosaico documental riquíssimo sobre a engenharia da exclusão na França a partir das pessoas com que cruza ao longo de uma linha ferroviária que corta Paris de norte a sul.

TIDES, de Tim Fehlbaum: Produzida por Roland Emmerich (“Independence Day”), esta aula de ficção científica mostra uma Terra ilhada por marés gigantescas que comprometem a busca pela sobrevivência. Uma jovem astronauta (Nora Arnezeder, impecável) fará de tudo para sobreviver e salvar uma massa de miseráveis enquanto lida com um segredo.

MOON, 66 QUESTIONS, de Jacqueline Lentzou: A prolífica curta-metragista ateniense estreia nos longas com uma comovente história de reconciliação entre pai e filha na Grécia de hoje. Na trama, uma jovem retorna à realidade grega para cuidar de uma adoentada figura paterna da qual pouco sabe.

NATURAL LIGHT, de Dénes Nagy: A Hungria tenta a sorte na competição oficial com um drama de guerra que reconstitui (a partir da estonteante fotografia de Tamás Dobos) o lamacento ambiente da URSS ocupada, em 1943. À época, sob um rigoroso inverno, soldados húngaros foram convocados para vasculhar a região, tentando ajudar e mesmo patrulhar aldeões. Um desses combatentes é István Semetka (Ferenc Szabó, numa feérica atuação), que observa a brutalidade à sua volta buscando entender como agir.

MEMORY BOX, de Joana Hadjithomas e Khalil Joreige: O casal de cineasta responsável pelo cult “Je Veux Voir” (2008) revisitam o Líbano do início dos anos 1980, em meio a uma guerra, mas o fazem a partir da ótica de uma adolescente que está descobrindo o mundo com a ajuda do rock’n’roll, de parques de diversão, de beijos na boca. A tocante narrativa – favorita a levar o Urso dourado até agora - é contada em dois tempos, a partir das vivências de Maia. Há anos, ela mora no Canadá, com a filha, evitando recordar o que viveu em sua terra natal. Mas ao receber uma caixa com antigos pertences de sua juventude, ela vai revirar um baú de mágoas.

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