Teatro SESI tem estreia "Auto de João da Cruz"

Até que ponto o homem se vende para conseguir o que quer? Qual é o mínimo para ser feliz? O que você seria capaz de fazer para conquistar os bens materiais que deseja? Essas são algumas das questões abordadas pelo escritor Ariano Suassuna na peça “Auto de João da Cruz”. Escrito em 1950, o texto é uma recriação do “Fausto”, de Goethe, cuja trama traz elementos de três romances populares nordestinos – História de João da CruzHistória do Príncipe do Reino do Barro Branco e a Princesa do Reino do Vai-não-Torna e O Príncipe João Sem Medo e a Princesa da Ilha dos Diamantes — de Leandro Gomes de Barros, Severino Milanez da Silva e Francisco Sales Areda, respectivamente.

Com direção de Inez Viana, a montagem celebra os dez anos da criação da Cia OmondÉ, que teve início com outro Ariano Suassuna, o também inédito, “As Conchambranças de Quaderna”. O espetáculo “Auto de João da Cruz” estreia em 16 de janeiro, no Teatro Firjan SESI Centro.

Um Fausto brasileiro – A peça conta a história de João, jovem ambicioso que, inconformado com a ausência do pai e com a miséria em que vive, resolve sair de casa, deixando tudo para trás, em busca de riquezas. O Guia (espécie de diretor da peça) e o Cego (aqui simbolizando o Diabo) fazem, então, uma aposta pela alma de João que, ilusoriamente, passa a ter tudo que deseja. Ao mesmo tempo em que vai perdendo sua humanidade, João vai se distanciando da família e dos amigos e se transformando em um homem frio e perverso. Quando, enfim, recobra a consciência, já é tarde demais para se arrepender dos males que causou.

Escrita há sete décadas, a peça “Auto de João da Cruz” tem sua primeira montagem profissional pela Cia OmondÉ, que ganhou o texto de presente de Dantas Suassuna, filho de Ariano. “Suassuna é eterno, atemporal, nunca sairá de moda. A história dessa peça é sobre a insana ambição humana, que pode levar o homem a se perder de seus valores mais profundos e a cometer os piores crimes. Infelizmente, é um texto extremamente atual”, ressalta Inez. O elenco é formado por integrantes da OmondÉ e atores convidados. Em cena estão André Senna, Elisa Barbosa, Iano Salomão, Júnior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Tati Lima e Zé Wendell.

Inez e Ariano: amizade e parceria – A diretora manteve uma parceria com Suassuna nos últimos 16 anos de vida do escritor. O primeiro encontro foi 1998, quando Inez se apresentou em Recife e o autor estava na plateia. Um ano depois, em 1999, ela dirigiu o documentário “Cavalgada à Pedra do Reino”, onde o narrador principal era o próprio Suassuna. Ali, nascia uma amizade que deu origem a diversos projetos. Inez produziu o primeiro Festival Ariano Suassuna no Rio de Janeiro (2001), o Encontro com Ariano Suassuna (parceria com o Sesc RJ, em 2004) e fez a curadoria artística do evento de seus 80 anos (2007), produzido pela Sarau Agência de Cultura, que culminou com uma aula-espetáculo do homenageado, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Criada em 2009 a partir de um encontro teatral que resultou na montagem do “As Conchambranças de Quaderna”, de Suassuna, a Cia OmondÉ comemora dez anos de trajetória voltando ao autor que uniu nove atores de diferentes lugares do Brasil. “Quando me convidaram para dirigir minha primeira peça profissional, recorri ao autor do ‘Auto da Compadecida’. E ele, generosamente, como era de seu feitio, me concedeu ‘As Conchambranças de Quaderna’, texto inédito, tendo sido montado apenas por dois grupos amadores do Nordeste. Foi esse espetáculo que deu origem a OmondÉ”, lembra Inez.