Vitrine de joias francesas

Por Rodrigo Fonseca Espacial para o Correio da Manhã

Prestigiado por 1,9 milhão de pagantes em um mês em cartaz em solo parisiense e cidades vizinhas, “Hors Normes”, história de dois educadores (Vincent Cassel e Reda Kateb) especializados na integração de crianças e jovens autistas, ainda não correu as salas exibidoras das Américas e de muitos países da Europa: por isso mesmo, esse blockbuster nato é um dos focos do “Rendez-vous avec le cinéma français”. Esse nome soa pomposo para fazer jus ao evento a que se refere: um fórum promocional idealizado para atrair os holofotes mundiais para a nova safra da França no audiovisual. Toda a vitalidade e a diversidade de gêneros dos franceses em circuito serão celebradas de 16 a 20 de janeiro em Paris.

Estima-se a presença de cerca de 100 artistas, entre atrizes de fama mundial, galãs queridos por plateias de múltiplas línguas e cineastas de veia autoral: entre os quais o mestre das narrativas sociológicas Robert Guédiguian (com o inédito “Gloria mundi” para lançar) e a sensação dos anos 1990 Julie Delpy (que acaba de dirigir o drama “My Zoe”). Ambos vão passar pelo painel de tendências estéticas concentrado no Hotel Le Collectionneur, na Rue de Courcelles. Lá será a sede da 22ª edição do Rendez-vous, realizado anualmente pela Unifrance. Esse é o órgão do governo da França responsável pela manutenção e promoção da indústria audiovisual. 

A cada ano, a Unifrance promove um encontro reunindo cerca de 400 distribuidores de todo o planeta para divulgar prováveis sucessos de bilheteria e experimentos narrativos com fôlego para desafiar as convenções cinematográfica.

Durante o evento, emissários de 70 filmes (e esse número deve aumentar) vão passar pelas ruas parisienses, batendo ponto no Le Collectionneur, para um papo com cerca de 120 jornalistas de 30 países, revelando as tendências que hão de mobilizar espectadores no planisfério cinéfilo. “Hors Norme” é um dos estandartes desta edição não apenas por toda a popularidade de Cassel e Kateb, mas pela grife popular em seus créditos de direção: Éric Toledano e Olivier Nakache. Foram eles que, em 2011, dirigiram “Intocáveis”, dramédia que vendeu cerca de 20 milhões de ingressos, sendo refilmada na Argentina e nos EUA e sendo adaptada como peça para os palcos brasileiros (como Marcelo Airoldi e Ailton Graça). 

- Tudo o que buscamos é explorar o que pode haver de poético nas situações mais corriqueiras do dia a dia, sempre com lirismo - disse Nakache ao CORREIO DA MANHÃ, quando as filmagens começaram.

DIVERSIDADE DE IDEIAS

Além dele e de Toledano, passarão pelo evento bambas de múltiplos talentos com as futuras estreias do ano e alguns títulos que estão atualmente em cartaz no Brasil, como “O Último amor de Casanova”, de Benôit Jacquot. Nele, Vincent Lindon vive o conquistador italiano Giacomo Girolamo Casanova (1725-1798), que, no outono de sua saúde física, passa por percalços amorosos diversos.

- Nós criamos o cinema, em 1895, com as experiências documentais dos irmãos Lumière, por isso, temos a responsabilidade de investir ao máximo na diversidade de ideias, a cada novo longa – justifica Jacquot.