Crítica | 'Um Lugar Silencioso: Parte II' expande universo e mantém o nível do original

Por: Pedro Sobreiro

Inicialmente programado para chegar aos cinemas em 2020, "Um Lugar Silencioso: Parte II" precisou ser adiado por conta da pandemia de Covid-19. Dando sequência aos eventos mostrados no filme original, o longa segue acompanhando a família Abbott enquanto os membros restantes tentam sobreviver ao misterioso apocalipse iniciado por alienígenas homicidas que se guiam pelo som.

O filme começa com um vislumbre do primeiro dia do fim do mundo e como todo esse caos começou. No primeiro capítulo desta saga, que parece ter sido pensada como trilogia, a história já começava com os Abbotts vivendo no apocalipse. Ao explorar esse contexto do "dia zero", o roteirista e diretor John Krasinski consegue trazer uma expansão natural da franquia e deixa brechas para que filmes derivados prossigam por novos rumos neste mesmo universo. É neste momento inicial, inclusive, que o novo coadjuvante da vez é apresentado: o desconfiado Emmett (Cillian Murphy), que era amigo dos protagonistas antes do "novo normal".

Pois bem, após os eventos do primeiro filme, os protagonistas seguem fugindo das criaturas, mas agora com um bebê recém-nascido. Vítimas de uma armadilha, os Abbotts chegam a uma estação de tratamento, onde são recebidos por Emmett, que se recusa a abrigá-los, só que acaba cedendo ao ver a criança. Com a necessidade de novos mantimentos, o grupo se divide. Porém, a jovem Regan (Millicent Simmonds), que descobriu um jeito de parar os aliens, decifra um mistério e decide ir atrás dele sozinha. Desesperada, a matriarca da família pede que Emmett procure pela garota. E assim começa uma grande aventura cercada de suspense, ficção científica e ação.

Por ser um filme que preza pelo silêncio, a direção não faz uso de trilhas muito intensas ou de barulhos altos incessantemente, apesar de haver um ou outro jumpscare em certos momentos. A forma como Krasinski segue trabalhando a história com o mínimo de palavras possível, apostando na linguagem de sinais e nas expressões corporais é realmente um primor. E ter a atriz Millicent Simmonds, que é surda desde bebê, no elenco faz toda a diferença, já que ela é o centro da trama e dita os rumos, da forma mais crível possível, de tudo o que vai acontecer em tela. Dessa vez, sua personagem passa a ter um núcleo envolvendo Emmett, que é competentemente interpretado por Cillian Murphy, famoso por seu papel frio e calculista na série "Peaky Blinders". A química dos dois em cena é um dos acertos dessa sequência, que tenta fazê-los aprender um com o outro, enquanto precisam sobreviver aos perigos de um mundo que não tolera mais barulhos.

O outro núcleo envolve Evelyn (Emily Blunt), Marcus (Noah Jupe) e o bebê. Eles ficam mais enclausurados por conta dos barulhos que uma criança recém-nascida costuma fazer, mas isso não atrapalha de forma alguma na história. Muito pelo contrário! Krasinski cria situações de tirar o fôlego, literalmente falando, para trabalhar esses personagens e manter o público apreensivo quanto ao futuro deles. 

No entanto, o grande mérito da vez é a montagem. Diferentemente do original, que era mais segmentado, esse filme trabalha os dois núcleos simultaneamente, trazendo cenas que praticamente se complementam, apesar de contarem situações e locais diferentes. Os cortes rápidos e dinâmicos enchem os olhos e atiçam a curiosidade para ver o que vai acontecer com cada personagem que está sendo mostrado. É um trabalho absurdo da direção e da montagem, que entrelaçam essas narrativas diferentes de forma instigante e muito criativa, deixando o público ansioso pelo que virá a seguir.

E mesmo com tudo isso, "Um Lugar Silencioso: Parte II" tem cerca de 1h40 de duração, apenas. Não que isso seja um problema, porque acaba sendo um suspense de primeira, mas ele deixa um gostinho de "quero mais" que vai angustiar a todos os fãs da franquia enquanto o terceiro capítulo não é lançado. Com um senso de perigo afiado, muita criatividade e carinho por seus personagens, John Krasinski reforça seu nome como um dos diretores mais promissores da nova geração. Da mesma forma, "Um Lugar Silencioso: Parte II", que estreia nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira (22), é mais um acerto do artista, que vai agradar aos fãs do original e provavelmente será motivo para futuros spin-offs da saga.

Nota: 9