Parceria com criadores de 1ª viagem

Por João Victor Ferreira

A banda de rock alternativo irlandesa/escocesa Snow Patrol lançou, na última semana, seu mais novo trabalho, em meio à quarentena, intitulado “The Fireside Sessions”. Parte com a sonoridade complementar ao seu último álbum “Reworked” (2019), com regravações de grandes sucessos do quinteto e outra parte com uma ideia ousada de montar o conceito do EP em conjunto com milhares de fãs que contribuíram, por meio de enquetes nas redes sociais da banda, na composição das letras, dos acordes e até na confecção da capa do disco.

Não à toa, “The Fireside Sessions” é creditado como “Snow Patrol and the Saturday Songwriters” (Snow Patrol e os Compositores de Sábado), fazendo referência a todos que ajudaram na produção criativa do EP, nas constantes enquetes feitas, meses atrás, pela banda, aos sábados.

Em uma primeira análise, fica ainda curioso o uso da estrutura do EP para o lançamento dessa nova arte da banda, ficando no meio termo da coesão criativa de um álbum e da solitude imponente do single. De certo modo, isso poderia até ser dito em condições normais. Diante da situação mundial presente, além do conceito colaborativo que costura todo o disco, o EP fica sendo uma estrutura mais do que adequada dentro do trabalho experimental de uma banda que já tem quase 30 anos de estrada.

Dentro do conceito apresentado, o EP mostra o seu brilhantismo experimental, além de saber usar, da melhor maneira, o caos social provido estritamente (e estranhamente) do distanciamento.

A perceber que quase todas as músicas, com letras propostas por fãs, lidam com os temas mais aflitivos nos últimos meses: solidão, luto, saudades. Nenhuma música demonstra força lírica ou sonora para ser lembrada como hit da banda, mesmo que, ouvindo-as em conjunto, seja um excelente exercício de reconforto e tranquilidade.

Todavia, na parte prática, o EP demonstra as cacofonias que a sua proposta já apontava previamente. Há uma certa esquizofrenia rítmica e tonal, a perceber que as músicas não apresentam tanta coesão sonora assim. É claro que houve uma curadoria para selecionar tudo que foi proposto pelos fãs, mas na prática, não ficou tão coeso musicalmente. Há aqui uma valorização de segmentos acústicos que lembra bastante as origens da banda. Ainda assim, o uso da folk music é o mais perceptível dentro das músicas, a exemplo da canção “Dance With Me”.

“The Fireside Sessions” é um belo trabalho experimental, dentro da sua conceituação estética. Não é memorável para a história da banda, nem no quesito lírico de suas letras, ou no âmbito sonoro de suas melodias. Ainda assim é bastante particular, subjetivo e aconchegante (talvez o melhor adjetivo para esse EP). No fim das contas, uma bela pedida de passatempo que não vai tirar nem 20 minutos do dia.