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Entre velhos e novos parceiros

Por Affonso Nunes

No ano em que celebra 80 anos, o cantor, compositor e instrumentista Francis Hime lança “Hoje”, seu mais novo álbum de inéditas desde “Navega Ilumina”, de 2014. Apaixonado por efemérides e datas redondas, o maestro não deixaria a oportunidade passar em branco e reuniu antigos e novos parceiros neste trabalho.

- Depois dos 80 tem que acelerar - filosofa com seu conhecido senso de humor.

Já disponível nas plataformas digitais, “Hoje” tem as participações de Adriana Calcanhotto, Lenine, Olivia Hime e Sergio Santos, mas a grande novidade do álbum é a presença do velho parceiro Chico Buarque cantando “Laura” que não é uma canção da dupla que compôs clássicos como “Atrás da Porta” (1972), “Meu caro Amigo”, “A Noiva da Cidade” (1975), “Amor Barato” (1981), “Vai Passar“ (1984), Embarcação” (1982) e “E se” (1980), mas de Francis e de sua mulher Olivia, “a parceira de vida e de música” nas palavras do compositor.

Chico e Francis foram parceiros por 12 anos, mas até parece que foi mais tempo.

- A gente tinha um trabalho intenso e dava a impressão de que foram décadas. Era tudo muito constante, febril. Eu acompanahava o Chico em todos os seus shows naquele período e teve até um lance de uma turnê na Europa para a qual ele foi convidado, por volta de 1976, e como eu morria de medo de avião eu disse que não iria. O Chico acabou desistindo de viajar também.

Sempre meticuloso e fortemente envolvido em todas as fases de seus trabalhos, Francis assina todos os arranjos das 12 faixas e responde pela direção musical:

- A instrumentação do disco como um todo não chega a ser muito robusta. Mas reuni músicos de primeira como Jessezinho, Marcelo Martins, Cristiano Alves, Jorge Helder, Kiko Freitas e Paulo Aragão.

Já a produção ficou por conta de Olivia Hime. A direção de gravação e a mixagem foram feitas por Paulo Aragão, fundador e integrante do quarteto de violões Maogani de Violões.

Assim como foi adotado por Vinicius de Moraes em seus primeiros passos da carreira – o poetinha foi o primeiro parceiro do jovem Francis em “Sem Mais Adeus”, em 1962, quando o pianista tinha 23 anos e ainda sonhava em deixar a engenharia para trás para viver de música - Francis “adotou” a poeta Ana Terra, coma a sua maruja de primeira viagem dividindo a autoria da faixa “Mais Sagrado”.

“Hoje” é um disco de inéditas que sintetiza a produção mais recente do compositor. Embora estivesse planejando gravar esse disco aos 80 anos, estava decidido a empurrar o projeto para o ao que vem, afinal, com ele diz, o seu período como octagenário vai de agosto deste ano até agosto de 2021. Mas o maestro foi tomado de assalto por uma situação que nunca lhe ocorrera em toda a vida e que acabou sendo a centelha que acendeu a chama.

- Em abril eu havia recebido um poema do poeta português Tiago Torres da Silva para que eu musicasse. Já estava tentando cotejar alguma melodia com aquela letra, mas a que mais se encaixou foi uma que me veio por sonho e nunca me aconteceu de acordar com toda a melodia na cabeça exatamente como no sonho. E melodia e letra encaixavam perfeitamente.

E partir desta primeira canção, que ganhou o nome de “O Tempo e a Vida”, o compositor acionou velhos parceiros de jornada como Hermínio Bello e de Carvalho, Geraldinho Carneiro e a mulher Olívia. Da inédita “Ópera do Futebol”, seu ambicioso projeto de musical que ainda não recebeu montagem, pinçou duas canções para encerrar o disco (“Pietá” e “Jogo da Vida”, ambas parcerias com Silvana Gontijo).

- A ópera é a história da rivalidade de dois irmãos que vivem brigando, um ídolo do futebol e um chefe do tráfico de drogas, e amam a mesma mulher - comenta o compositor, ao falar de sue mais ambicioso projeto desde a “Sinfonia do Rio”. explica o compositor que na última quarta-feira (13) foi o homenageado da 57ª edição do Festival Villa-Lobos e apresentou-se acompanhado pela Orquestra Jazz Sinfônica.

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