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Um hippie cinquentão

Por Ivan Finotti (Folhapress)

O nome do álbum “Déjà Vu”, clássico do rock de Crosby, Stills, Nash & Young, nunca fez tanto sentido. O lançamento de uma edição comemorativa de 50 anos propõe justamente um mergulho tão profundo na obra que podemos sentir como se estivéssemos de volta ao ano de 1970. A expressão francesa “déjà vu” significa a impressão de estarmos revivendo uma situação que nunca vivemos.

“Déjà Vu: Edição Deluxe 50º Aniversário” consiste em quatro CDs (isso lá fora; aqui, está disponível apenas nas plataformas de streaming), com 38 faixas inéditas ou raras, além das dez originais, em mais de três horas de música no total. Curiosamente, a edição de 50 anos aparece com um ano de atraso. “Déjà Vu” foi lançado em março de 1970 e a nova edição chegou apenas em maio de 2021.

Para quem não conhece, o CSNY é um supergrupo, o que significa que seus integrantes participaram de grupos famosos. David Crosby vinha dos Byrds e Graham Nash, do inglês The Hollies. Stephen Stills e Neil Young já haviam digladiado com suas guitarras no Buffalo Springfield. A eles, juntaram-se o baixista Greg Reeves e o batera Dallas Taylor, que também aparecem na capa do álbum. Um ano antes e sem Young, o Crosby, Stills & Nash havia lançado seu álbum de estreia, com o mesmo nome do trio.

O LP original, remasterizado, abre a edição comemorativa. Tem apenas 36 minutos, com cinco músicas de cada lado, mas foi o suficiente para embalar aqueles que não acreditavam que o sonho hippie tivesse acabado. “Carry On”, de Stills, e “Déjà Vu”, de Crosby, que abriam os lados A e B, são épicos incontestáveis, com violões inovadores e o coro dos quatro astros que tanto marcou a banda. “Helpless” se tornou uma preferida dos fãs de Young.

Em 1970, o disco foi 1º lugar das paradas americanas e emplacou três singles, sendo dois deles as lindíssimas baladas de Nash, “Our House” e “Teach Your Children”. Duas outras canções mostram o espírito da época: os rockões “Almost Cut My Hair” (quase cortei meu cabelo) e “Woodstock” (o terceiro single), esse escrito por Joni Mitchell, então vivendo com Nash.

O segundo disco da nova edição traz 18 demos, sendo que apenas seis chegaram ao disco original. Demo é um diminutivo de demonstração (demonstration), em geral uma gravação caseira para apresentar a música aos colegas. No caso, as 18 demos trazem o compositor ao violão, às vezes com um ou outro participando no vocal. O registro é interessante ao mostrar como um grupo desse nível trabalha, trazendo muito mais canções do que as que verão a luz do dia.

Para os fãs de Nash, vale ouvir “Sleep Song” e “Right Between the Eyes”, que sairia no álbum ao vivo do quarteto, “4 Way Street”, de 1971. Outra que aparece aqui é “Birds”, de Young, que entraria em “After the Goldrush”, seu disco solo lançado seis meses depois de “Déjà Vu”. Vale ainda a demo de “Our House” cantada por Nash e Joni Mitchell. A canção, aliás, foi inspirada na vida caseira dos dois.

O terceiro CD, com 11 outtakes, é o mais interessante. Outtakes são as músicas gravadas com banda e tudo no estúdio, mas que foram cortadas na escolha do setlist final. “Everyday We Live”, de Stills, e “The Lee Shore”, de Crosby, por exemplo, mereciam ter saído no álbum original. O único senão é que se trata quase de um disco solo de Stills. Das 11 canções, oito são dele. E Stills é provavelmente o menos talentoso dos quatro, e certamente o pior cantor.

O último disco traz praticamente todo o álbum original, mas com mixagens alternativas (com um ou outro instrumento aparecendo mais), vocais diferentes ou versões que foram melhoradas depois.

Pena que alguns serviços de streaming não dividam a edição comemorativa pelos CDs descritos acima. Ao contrário, exibem uma maçaroca de 48 músicas seguidas. Pelo menos há parênteses indicam se são demos, outtakes ou versões alternativas.

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